Entrar

DIABETES: CONSELHOS ÚTEIS

Agnes Nogueira Gossenheimer

Karen Sparrenberger

epub-BR-PROFARMA-C2V1_Artigo4
  • Introdução

O diabetes melito tipo 2 (DM2diabetes melito tipo 2) é uma doença crônica associada à hiperglicemia devida a defeitos de secreção da insulina e sua ação, bem como falhas na regulação da produção hepática da glicose.1

O DM2diabetes melito tipo 2 é altamente prevalente e com incidência crescente em todo o mundo.1 Em 2017, a Federação Internacional de Diabetes (em inglês, International Diabetes Federation [IDFFederação Internacional de Diabetes]) estimou que cerca de 425 milhões de pessoas no mundo, ou 8,8% adultos de 20 a 79 anos, tenham diabetes. Cerca de 79% vivem em países de baixa e média renda. O número de pessoas com diabetes aumenta para 451 milhões se a idade for ampliada para 18 a 99 anos. Se essas tendências continuarem, em 2045, 693 milhões de pessoas entre 18 e 99 anos ou 629 milhões de pessoas de 20 a 79 anos terão diabetes.2

Os números do diabetes estão aumentando em todo o mundo em razão da maior expectativa de vida e do crescente número de indivíduos obesos e sedentários na população.3 Projeta-se que, em 2035, o DM2diabetes melito tipo 2 atinja cerca de 592 milhões de pessoas.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que a glicemia elevada é o terceiro fator, em importância, da causa de mortalidade prematura, superada apenas por pressão arterial aumentada e uso de tabaco. Infelizmente, muitos governos, sistemas de saúde pública e profissionais de saúde ainda não se conscientizaram da atual relevância do diabetes e de suas complicações.4

A hiperglicemia crônica causa complicações macro e microvasculares, como cardiopatia isquêmica, retinopatia, nefropatia, vasculopatia periférica e neuropatia periférica e autonômica. Essas complicações são de alto custo financeiro e social para o sistema público, pois:5

 

  • a cardiopatia isquêmica é a principal causa de mortalidade em DM2diabetes melito tipo 2;
  • a nefropatia diabética é uma das maiores causas de terapia de substituição renal;
  • a retinopatia diabética (RDretinopatia diabética) e o pé diabético são, respectivamente, as principais causas adquiridas de amaurose e amputação não traumática de membros inferiores.

Para ilustrar, 9,3% de todos os custos hospitalares no período de 1999 a 2001 são atribuíveis ao diabetes.5

É bem demonstrado na literatura que o controle glicêmico adequado é capaz de reduzir a incidência das complicações micro e macrovasculares do diabetes.6 Um dos mais importantes estudos publicados sobre o tema, o United Kingdom Prospective Diabetes Study (UKPDSUnited Kingdom Prospective Diabetes Study), randomizou 4.209 pacientes com diagnóstico recente de diabetes para tratamento intensivo (metformina ou insulina ou sulfonilureia) ou convencional (primariamente com dieta). Concluiu-se que, no final de 10 anos, houve redução das taxas de retino e nefropatia nos pacientes do grupo intensivo (hemoglobina glicada [HbA1chemoglobina glicada] média de 7 versus 7,9% no grupo da terapia convencional).6

Após o encerramento do estudo, todos os pacientes e seus médicos foram aconselhados quanto ao benefício da redução dos níveis glicêmicos. O seguimento do estudo por 17 anos mostrou manutenção do benefício (menores taxas de infarto do miocárdio, morte relacionada ao diabetes e morte por todas as causas) nos participantes que foram tratados intensivamente no estudo inicial, apesar de não haver mais diferença de HbA1chemoglobina glicada entre os grupos (em torno de 8%).6

Para atingir a meta glicêmica, além de orientação dietética, medicamentos hipoglicemiantes também são utilizados. Apesar do maior entendimento da fisiopatologia, levando ao desenvolvimento de novos fármacos, provavelmente, cerca de 73% dos pacientes brasileiros ainda estejam em níveis glicêmicos aquém do desejado (HbA1chemoglobina glicada acima de 7%).7

Uma das mais importantes mudanças no tratamento do DM2diabetes melito tipo 2 foi a substituição do tratamento “glicocêntrico” pelo conceito de “tratamento centrado na pessoa”. Além da individualização da meta glicêmica, o médico deve adaptar a escolha medicamentosa e a intensidade da intervenção de acordo com a preferência, a necessidade e os valores do paciente.8

LEMBRAR

Por ser o DM2diabetes melito tipo 2 uma doença crônica, complexa, que envolve multissistemas, o cuidado não se restringe apenas à redução da glicemia; faz-se necessário um cuidado mais amplo, com redução de risco multifatorial (controle pressórico, lipídico e ponderal, cessação de tabagismo, estilo de vida mais saudável) a fim de reduzir a morbidade e a mortalidade relacionadas à doença.8

Em resumo, os aspectos sobre o tratamento centrado na pessoa incluem:

 

  • individualização da meta glicêmica;
  • adaptação na escolha dos medicamentos;
  • consonância com as preferências, as necessidades e os valores do paciente.

As instituições relacionadas ao tratamento da diabetes enfatizam que a abordagem deve ser realizada por uma equipe multiprofissional a fim de possibilitar o melhor cuidado para pessoas com doenças crônicas. Um dos principais objetivos do atendimento da equipe é a educação do paciente para o autocuidado em diabetes (em inglês, diabetes self-management education [DSMEeducação do paciente para o autocuidado em diabetes]8,9), disponibilizando o conhecimento e as habilidades necessárias para o autocuidado do paciente e proporcionando autonomia para que consiga manejar adequadamente o seu tratamento em colaboração com a equipe de saúde.9

Por meio de educação, a pessoa é estimulada a realizar mudança comportamental e escolhas de vida mais saudáveis (alimentação saudável, exercício físico regular, etc.). Ao aprimorar o conhecimento sobre o diabetes, ela é capaz de melhorar desfechos clínicos, como reduzir HbA1chemoglobina glicada, reduzir peso, melhorar a qualidade de vida e reduzir custos relacionados à saúde (serviços hospitalares).9

Quais informações são importantes no tratamento do DM2diabetes melito tipo 2?

Uma pesquisa recente realizada em Porto Alegre identificou, mediante a utilização da Técnica de Grupo Focal com pacientes com diabetes, os pontos que eram mais importantes para estes, como gostariam de receber essas informações e os pontos negligenciados por eles, mas documentados na literatura.10 A partir dessa concepção centrada na pessoa, é importante compreender:

 

  • o que é essencial em sua visão para o tratamento da diabetes;
  • o que é importante para os profissionais da saúde e que não é considerado pelas pessoas com diabetes;
  • a(s) causa(s) desse posicionamento.
  • Objetivos

Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de

 

  • reconhecer cada um dos aspectos considerados importantes pelas pessoas com diabetes, bem como os pontos que foram negligenciados por elas em seu cuidado e que são considerados como importantes por estudos científicos;
  • indicar conselhos úteis para a pessoa que convive com diabetes;
  • identificar aplicativos ou ferramentas que podem contribuir para a adesão da pessoa com diabetes ao seu tratamento.
  • Esquema conceitual
Este programa de atualização não está mais disponível para ser adquirido.
Já tem uma conta? Faça login