Introdução
A família contemporânea é considerada uma complexa unidade formada por pessoas que coabitam e possuem laços afetivos, de interesse e/ou doação. Trata-se de uma estrutura organizada, composta por indivíduos que possuem direitos e responsabilidades.1 Ao longo do tempo, diversas mudanças ocorreram nas configurações familiares, influenciadas por novos modelos de cultura e sociedade. Pode-se considerar a família uma instituição política, uma vez que o núcleo se apresenta como primeiro regulador de experiências individuais e também reflete a vida em comunidade.1,2
Por meio da convivência familiar, seus componentes se relacionam e estruturam a sua personalidade. Desse modo, a dinâmica familiar e suas peculiaridades representam um marco fundamental para os sujeitos, desde a infância até a vida adulta.1,2 Cada família possui organização e estrutura própria, com características distintas, inerentes a quem compõe um determinado núcleo. Conforme evoluem, os membros de uma família podem reorganizar-se, readaptar-se e modificar o desempenho dos seus papéis para manter o funcionamento de sua família.1–3
Portanto, as relações familiares não são estáticas. O modo de organização familiar é subjetivo e varia de acordo com elementos importantes, como:1,2
- satisfação;
- suporte;
- estilo de vida;
- dinâmica individual e coletiva.
As situações que envolvem estresse, conflito, doença ou até mesmo ausência de um membro podem comprometer os processos familiares.1,2 A privação de liberdade, por exemplo, tem como consequência a separação abrupta de familiares, provocando descontinuidade da convivência e, por conseguinte, causando impactos em sua dinâmica.4
O encarceramento feminino é um fenômeno em ascensão em diversos países da América e da Europa. Esse evento tem causado impactos negativos no contexto familiar, uma vez que a mulher moderna ocupa um papel central na família.4,5 O bem-estar dessa família pode tornar-se comprometido com a ausência da figura feminina, evidenciado, entre outros, pela quebra de vínculos, sentimento de culpa e tristeza e dificuldades no desempenho da maternidade.4
Nesse sentido, é cada vez mais necessário discutir o processo de avaliação familiar no contexto de mulheres privadas de liberdade. Diante da subjetividade que apresenta esse fenômeno, admite-se que compreender o conceito de família, analisar suas relações e verificar o funcionamento familiar não são uma tarefa fácil. Assim, este capítulo tem o intuito de colaborar na produção de um arcabouço teórico sobre a temática, que poderá subsidiar e contribuir na elaboração de estratégias para o fortalecimento dos processos familiares de mulheres em privação de liberdade.
Objetivos
Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de
- descrever o conceito de família e de relações familiares contemporâneas;
- discutir sobre os processos familiares disfuncionais em mulheres privadas de liberdade;
- avaliar as principais causas e consequências de processos familiares disfuncionais em mulheres privadas de liberdade.
Esquema conceitual