Introdução
As inovações tecnológicas no campo da saúde permitem que a cada dia mais doenças sejam tratadas por meio de procedimentos cirúrgicos nas diferentes faixas etárias. Entretanto, os tratamentos não são isentos de riscos e, apesar de os avanços minimizarem as chances de acontecer algo desfavorável, ainda existem efeitos adversos no período perioperatório. Dentre eles, apontam-se as lesões decorrentes do posicionamento.
O posicionamento cirúrgico do paciente visa promover o acesso ao sítio operatório e, para isso, fazem-se necessários cuidados específicos para a prevenção de impactos negativos nos sistemas corporais e complicações, incluindo-se o deslocamento de articulações, danos em nervos periféricos, lesões de pele, comprometimento cardiovascular, pulmonar e síndrome compartimental.1
O posicionamento adequado do paciente promove bem-estar e segurança. Além disso, todos os membros da equipe cirúrgica devem estar envolvidos nesse cuidado.2 A equipe de enfermagem deve estar atenta às alterações anatômicas e fisiológicas associadas aos procedimentos anestésico e cirúrgico relacionados ao paciente.
A pele é um dos principais órgãos afetados com relação ao procedimento de posicionamento do paciente. Esse órgão tem várias funções, com destaque para a proteção corporal, uma vez que funciona como uma barreira natural diretamente exposta aos agravos decorrentes do posicionamento operatório. Diversos tipos de lesão podem proceder do processo cirúrgico, como eritemas, equimoses, lesões por pressão (LPlesão por pressãos), queimaduras, lesões por substâncias químicas e alopecia focal.3
O principal mecanismo envolvido na lesão da pele é o tempo de contato desse órgão com superfícies rígidas da maca cirúrgica que, associado aos demais fatores de risco, pode causar isquemia tecidual. Além disso, podem acontecer queimaduras elétricas decorrentes do uso da unidade de eletrocirurgia3 e, ainda, lesões por compressão nervosa.4
Nas condições cirúrgicas, o paciente, influenciado pela anestesia, não é capaz de se mover ou de sentir qualquer dor ou incômodo do posicionamento. Por esse motivo, o posicionar o paciente de modo adequado é ação fundamental para prevenir agravos, e a equipe de enfermagem exerce papel crucial na elaboração de plano de cuidados com medidas para prevenir lesões decorrentes do posicionamento.5
O cuidado com a pele e a manutenção de sua integridade, importantes atribuições da enfermagem, devem ser realizados de forma individual e integrados aos demais cuidados que o paciente cirúrgico demanda. Assim, prevenir lesões de pele envolve o conhecimento dos aspectos clínicos do paciente, além de fatores mecânicos e químicos relacionados aos procedimentos realizados nesse período, o que consiste em uma responsabilidade da enfermagem e de sua equipe.6,7
A identificação de diagnósticos de enfermagem (DEdiagnóstico de enfermagems) pode contribuir para a determinação de estratégias de prevenção aos agravos da pele. Destaca-se, neste capítulo, o principal DEdiagnóstico de enfermagem relacionado ao posicionamento do paciente cirúrgico, que é o Risco de lesão por posicionamento perioperatório (00249), inserido no Domínio 11: segurança e proteção e na Classe 2: lesão física da Classificação dos DEdiagnóstico de enfermagems da NANDA Internacional, Inc. (NANDA-INANDA Internacional, Inc.).
Risco de lesão por posicionamento perioperatório é a “suscetibilidade a mudanças físicas e anatômicas inadvertidas em consequência de postura ou equipamento usado durante procedimento invasivo/cirúrgico que pode comprometer a saúde”.8
Os fatores de risco do DEdiagnóstico de enfermagem Risco de lesão por posicionamento perioperatório estão abertos para ser desenvolvidos, o que motivou as autoras deste capítulo a apresentar uma reflexão sobre esse fenômeno. Trata-se de uma condição de saúde na qual a enfermagem pode atuar de maneira ativa na identificação, na modificação ou na redução dos fatores de risco. Ainda, para os pacientes com condições associadas, não passíveis de intervenções, cabe à enfermagem atenção maior no posicionamento, nos cuidados com a pele do paciente e na monitorização dessas condições.
Na última edição da taxonomia da NANDA-INANDA Internacional, Inc., o DEdiagnóstico de enfermagem Risco de lesão por posicionamento perioperatório aponta a desorientação, o edema, a emaciação, a fraqueza muscular, a imobilização, a obesidade e os transtornos sensoriais/perceptivos decorrentes da anestesia como condições associadas.8
Objetivos
Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de
- definir os fundamentos do posicionamento operatório;
- identificar e avaliar os fatores de risco para o desenvolvimento de lesão perioperatória;
- citar as principais ferramentas preditoras do risco de lesão perioperatória;
- descrever as principais medidas para a prevenção das lesões perioperatórias;
- sintetizar os conhecimentos sobre o Risco de lesão por posicionamento perioperatório com a aplicação dos sistemas de linguagem padronizada de enfermagem.
Esquema conceitual