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DISFUNÇÃO DIAFRAGMÁTICA: IMPACTOS NO DESMAME DA VENTILAÇÃO MECÂNICA

Eduardo Eriko Tenório de França

Ewerton Graziane Gomes dos Santos

Iara Tainá Cordeiro de Souza

José Heriston de Morais Lima

Pollyana Soares de Abreu Morais

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Objetivos

Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de

  • descrever os aspectos fisiopatológicos, os meios diagnósticos e as alterações clínicas da disfunção diafragmática induzida pelo ventilador (DDIV);
  • explicar como a ventilação mecânica (VM) e seus modos ventilatórios podem impactar a DDIV;
  • analisar as contribuições da VM para a atenuação da DDIV;
  • identificar como o treinamento muscular respiratório (TMR) pode impactar a disfunção muscular respiratória e contribuir para o sucesso do desmame da VM.

Esquema conceitual

Introdução

A necessidade de implantação da VM surge quando há um prejuízo significativo na capacidade do sistema respiratório em funcionar adequadamente. O objetivo da VM é suprir a demanda metabólica e auxiliar as trocas gasosas1 na iminência de um quadro clínico a ser resolvido. Portanto, é categorizada como uma técnica de suporte à vida amplamente utilizada, com um leque de indicações que vão desde cirurgias até falência aguda de órgãos.2

Apesar dos benefícios, a permanência prolongada em VM pode levar o indivíduo a desenvolver fraqueza e atrofia das fibras musculares diafragmáticas, condição clínica denominada DDIV.3 Nas décadas de 1980 e 1990, as teorias indicavam que os pacientes com aumento do trabalho respiratório eram potenciais alvos para a fadiga diafragmática, ideia que fomentou o período de “descanso diafragmático” por meio do uso da VM controlada com total supressão das contrações diafragmáticas,4 com o objetivo de tentar refrear a DDIV.

Entretanto, pesquisadores se debruçaram para investigar tal hipótese, a fim de entender os mecanismos da atrofia diafragmática. Eles identificaram que a DDIV pode ocorrer na VM assistida, na VM controlada ou na VM com pressão de suporte, sendo tão pior quanto maior for o repouso do diafragma, exemplificado pela VM controlada.

Anzueto e colaboradores,5 ao estudarem uma amostra de sete babuínos adultos sadios (Papio cynocephalus) que receberam anestesia por meio de cetamina enquanto eram ventilados mecanicamente durante onze dias, observaram diminuição de 25% da pressão transdiafragmática (Pdi) máxima e de 36% da resistência diafragmática. Achados semelhantes foram encontrados por Sassoon e colaboradores, em 2002,6 que, ao estudarem coelhos, apontaram redução de 49% da Pdi após três dias de VM controlada.

As evidências existentes na literatura demonstram que pouco tempo de exposição à VM acarreta redução significativa da tensão e da capacidade de contração diafragmática. Pesquisadores mediram os efeitos do uso da VM por 48 horas, em nove ratos, sobre variáveis como propriedades contráteis — medidas in vitro por meio da análise de curvas de força–frequência e de características da contração — e perfil enzimático do diafragma em comparação com amostra de nove ratos que não receberam VM. Concluiu-se que a VM, durante 48 horas, reduz significativa e seletivamente a força do diafragma.7