- Introdução
As duas causas mais comuns de morte no período neonatal no mundo entre 2000 a 2013 foram as complicações relacionadas ao parto prematuro e complicações intraparto, como a asfixia ao nascimento.1 O suporte ventilatório, através da aplicação de ventilação manual com pressão positiva, tem como objetivo a expansão pulmonar. Esse suporte é necessário sempre que o recém-nascido (RNrecém-nascido) estiver apresentando algum esforço respiratório ou estiver em bradicardia.
A transição do meio intrauterino para o meio extrauterino requer a assistência de profissionais que conheçam os dispositivos de ventilação e sejam treinados. A maioria dos bebês que nascem em apneia responde bem à ventilação manual,2 por isso ela é o procedimento mais importante na reanimação em sala de parto.
Os RNrecém-nascidos prematuros são mais vulneráveis a qualquer tipo de lesão pulmonar, tanto na hora do parto quanto nas unidades de terapia intensiva (UTIsunidades de terapia intensiva) neonatal, devido ao fato de os seus pulmões ainda estarem em desenvolvimento. Portanto, a ventilação deve promover a expansão torácica, porém sem a sua hiperdistensão.
Os RNrecém-nascidos prematuros podem sofrer lesões causadas pelo pico de pressão excessivo ou volume corrente (VCvolume corrente), além de terem os alvéolos mais propensos ao colapso e não serem capazes de manter a capacidade residual funcional (CRFcapacidade residual funcional). Alguns estudos demonstraram que a lesão pulmonar pode ocorrer após apenas seis ciclos de ventilação manual com alto VCvolume corrente e alguns autores sugerem que, no caso de prematuros, o VCvolume corrente seria mais lesivo do que altos picos de pressão.3 Portanto, a ventilação manual deve ser realizada de forma acurada e com pouca variabilidade de parâmetros ventilatórios.
Os principais motivos para a necessidade de ventilação manual no período neonatal são: a asfixia fetal/neonatal; a síndrome do desconforto respiratório, também conhecida como membrana hialina; a síndrome de aspiração do mecônio; a pneumonia intrauterina; os quadros neurológicos graves; e as doenças genéticas e/ou malformações.
Além de ventilar com o objetivo de reanimação neonatal, a ventilação manual pode ser empregada desde o RNrecém-nascido até o paciente pediátrico com o objetivo de melhorar temporariamente a sua oxigenação, de transportar um paciente de um setor do hospital para outro e para a realização de manobras fisioterapêuticas, como a hiperinsuflação manual (HMhiperinsuflação manual) e o bag squeezing.
De acordo com o International Liaison Committee on Resuscitation (IlcorInternational Liaison Committee on Resuscitation) de 2015 e as Diretrizes de Reanimação do RNrecém-nascido em sala de parto, publicada pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBPSociedade Brasileira de Pediatria), o dispositivo ideal para a ventilação ao nascer deve possibilitar o controle do pico de pressão inspiratória (PIPpico de pressão inspiratória) e do seu tempo de administração e fornecer pressão positiva expiratória final (PEEPpressão positiva expiratória final).4,5 Porém, atualmente, nenhum dos dispositivos existentes contempla todas as exigências descritas anteriormente.
A seguir, discutem-se as principais diretrizes da ventilação com pressão positiva na sala de parto, as principais características (vantagens e desvantagens) dos dispositivos utilizados para ventilar manualmente o RNrecém-nascido, a manobra de HMhiperinsuflação manual, as interfaces para a ventilação e o uso de oxigênio suplementar.
- Objetivos
Ao final da leitura deste artigo, o leitor será capaz de
- descrever os principais dispositivos para ventilação manual em pediatria;
- identificar as principais técnicas de ventilação manual utilizadas nas salas de parto;
- distinguir as principais técnicas de ventilação manual utilizadas nas UTIsunidades de terapia intensiva neonatal;
- descrever a técnica de HMhiperinsuflação manual;
- identificar as principais interfaces para a ventilação;
- avaliar a indicação do uso de oxigênio suplementar.
- Esquema conceitual