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FIBROSE CÍSTICA

Autor: Neiva Damaceno
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  • Introdução

A fibrose cística (FCfibrose cística) é uma doença de herança autossômica recessiva que acomete as glândulas exócrinas, envolvendo múltiplos órgãos, mais comum em indivíduos brancos, porém recentemente tem sido diagnosticada com maior frequência em populações não brancas.

LEMBRAR

A prevalência da FCfibrose cística na população caucasiana da Europa, da América do Norte, da Austrália e da Nova Zelândia varia entre 1:2.800 e 1:3.500 nascidos vivos.1,2 No Brasil, a doença acomete 1 em cerca de 7.500 a 10.000 nascidos vivos.

A FCfibrose cística é causada pela mutação em um único gene localizado no braço longo do cromossomo 7, denominado proteína reguladora de condutância transmembranar de fibrose cística (CFTRcondutância transmembranar de fibrose cística) (do inglês cystic fibrosis transmembrane conductance regulator), que codifica uma proteína, também denominada CFTRcondutância transmembranar de fibrose cística, um canal de cloro e bicarbonato presente na superfície apical das células epiteliais regulado pelo monofosfato de adenosina cíclico (AMPc).3 A CFTRcondutância transmembranar de fibrose cística se expressa em muitos tipos celulares, principalmente em células epiteliais das vias aéreas, do trato gastrintestinal (incluindo pâncreas e sistema biliar), de glândulas de suor e do sistema genitourinário.

Na ausência ou na deficiência dessa proteína, as células epiteliais apresentam uma impermeabilidade relativa ao cloro, e essa secreção inadequada de cloro para a luz aérea acarreta absorção excessiva do íon sódio e água, desidratando o fluido luminal e levando à formação de secreções muito viscosas, difíceis para serem depuradas, com consequente obstrução. Nas glândulas sudoríparas, pela impermeabilidade das células epiteliais ao cloro, há falha na reabsorção desse íon, aumentando seus níveis no suor.4

O defeito genético encontrado na maioria dos pacientes consiste na deleção de três pares de bases e resulta na ausência da fenilalanina no códon 508 (Phe508del). Essa mutação está presente em cerca de 70% dos portadores de FCfibrose cística no mundo, com variações geográficas, e é menos frequente nos pacientes brasileiros com FCfibrose cística por causa da miscigenação racial. Entretanto, mais de 2 mil mutações genéticas foram descritas e pouco mais de 300 estão estabelecidas como causadoras da doença.

Esse extenso número de mutações é categorizado em seis grupos de acordo com a localização celular específica do defeito do processamento da proteína:5

 

  • classe I: são mutações “nonsense”, que introduzem um códon de stop prematuro impedindo a produção da proteína em toda sua extensão. Essas mutações ocorrem em 10% dos pacientes FCfibrose cística;
  • classe II: alteram o processamento ou trânsito através do citoplasma, acarretando redução da quantidade de CFTRcondutância transmembranar de fibrose cística na superfície celular porque são degradadas pelo mecanismo de controle de qualidade celular;
  • classe III: denominadas de mutações de “gating”, porque embora a proteína seja corretamente formada e localizada, existe dificuldade na ativação do canal CFTRcondutância transmembranar de fibrose cística; as mutações desta classe estão presentes em uma minoria (4%) de pacientes com FCfibrose cística;
  • classe IV: ocorrem em apenas 2% e uma das mais comuns é a R117H, que troca arginina por histidina e, embora apresente abertura normal, tem condutividade do canal de cloro reduzida;
  • classe V: resultam em quantidade reduzida de CFTRcondutância transmembranar de fibrose cística, mas funcionam normalmente;
  • classe VI: resultam em CFTRcondutância transmembranar de fibrose cística instável na superfície celular levando ao aumento do turnover.

As classes I, II e III estão associadas com defeitos graves na produção da proteína CFTRcondutância transmembranar de fibrose cística e associados com manifestações precoces, doença pulmonar grave progressiva e insuficiência pancreática, enquanto mutações das classes IV, V e VI frequentemente causam doença leve e suficiência pancreática. Apesar dessa classificação, nenhuma relação entre genótipo e fenótipo está definitivamente estabelecida.5 Também é reconhecido que outros fatores genéticos e socioeconômicos modulam a gravidade da doença.

  • Objetivos

Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de

 

  • reconhecer as diversas manifestações clínicas da FCfibrose cística;
  • realizar o diagnóstico de FCfibrose cística em pediatria;
  • interpretar e conduzir um resultado de teste de triagem neonatal (TNNteste de triagem neonatal) positivo para FCfibrose cística;
  • estabelecer o tratamento da FCfibrose cística em pediatria.
  • Esquema conceitual
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