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FIBROSE CÍSTICA

Renata Wrobel Folescu Cohen

Tania Wrobel Folescu

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Objetivos

Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de

 

  • realizar a triagem neonatal para fibrose cística;
  • estabelecer a suspeição diante de sintomas clínicos de fibrose cística;
  • utilizar o fluxo diagnóstico em caso de suspeita de fibrose cística;
  • revisar os aspectos importantes do tratamento multissistêmico da fibrose cística.

Esquema conceitual

Introdução

A fibrose cística é uma doença genética autossômica recessiva multissistêmica, com mais de 2 mil mutações descritas. Os dados de registros de pacientes reportam cerca de 89 mil indivíduos com fibrose cística no mundo, sendo mais de 30 mil indivíduos em acompanhamento nos EUA em 20221 e cerca de 6 mil pacientes em acompanhamento no Brasil.2

A patologia caracteriza-se por alteração no gene que regula a produção e o funcionamento da proteína CFTR (regulador de condutância transmembrana da fibrose cística). As alterações fisiopatológicas se devem primariamente à perda de função da proteína CFTR e ao seu papel essencial como canal de cloro na membrana epitelial apical.

A perda de função da CFTR altera a hidratação e o pH nos ductos exócrinos, levando à obstrução e dilatação de glândulas exócrinas em múltiplos órgãos. A diminuição da CFTR funcionante em glândulas sudoríparas leva à perda excessiva de sal no suor e a concentrações elevadas de cloro no suor. A produção de muco espesso leva à tubulopatia obstrutiva, seja no pâncreas ou em vasos deferentes.

São manifestações compatíveis com fibrose cística, decorrentes da tubulopatia obstrutiva:

 

  • doença sinopulmonar crônica;
  • anormalidades gastrintestinais/nutricionais específicas, incluindo insuficiência pancreática com dificuldade de ganho ponderal e com necessidade de reposição de enzimas pancreáticas e vitaminas lipossolúveis;
  • síndromes de perda de sal;
  • azoospermia obstrutiva.

No espaço endobrônquico das vias aéreas de pessoas com fibrose cística, a presença de muco espesso favorece a presença de bactérias específicas: inicialmente há Staphylococcus aureus e Haemophilus influenzae e posteriormente Pseudomonas aeruginosa. Essas infecções, em geral, estão associadas à resposta inflamatória neutrofílica e a tampões mucopurulentos persistentes que levam a bronquiectasias.

Como se trata de uma doença crônica e progressiva, o monitoramento clínico regular torna-se fundamental, a fim de que sejam identificadas precocemente mudanças no curso da doença. A complexidade da fibrose cística e as peculiaridades do seu tratamento tornam necessários o acompanhamento e o tratamento em centros de referência especializados com diretrizes clínicas para padronização de condutas baseadas em evidência. Existem evidências de que o tratamento nesses centros de referência, com equipe multidisciplinar, tem impacto no prognóstico e na qualidade de vida.3