Introdução
Apesar da franca evolução no processo de trabalho em enfermagem e da alavancagem na profissionalização das ações e dos meios que favorecem a gestão dos serviços de enfermagem, a administração de recursos humanos é repetidamente referida como uma das práticas mais desafiadoras no trabalho gerencial do enfermeiro. Isso tem repercussões diretas no gerenciamento e na prestação do cuidado.1,2
Nos hospitais, o desafio contínuo de gerir pessoas no serviço de enfermagem é intenso, pois a assistência prestada é ininterrupta e a complexidade do cuidado é elevada, tal como a carga de trabalho da equipe de enfermagem.3,4 Esse cenário atribulado se desdobra em realidades cotidianas a serem enfrentadas por gerentes de enfermagem, que repercutem direta ou indiretamente na produção assistencial, entre elas,5–8
- absenteísmo e presenteísmo;
- rotatividade (turnover);
- déficit de treinamento/capacitação de pessoal;
- planejamento ineficaz de escalas de trabalho;
- realocações emergenciais (como é o caso das horas extras de trabalho);
- subdimensionamento de pessoal de enfermagem, que parece ser persistente no ambiente hospitalar brasileiro.
Há de ser ponderado que o atendimento hospitalar é prestado por pessoas e para pessoas. Por um lado, existe uma heterogeneidade no desempenho das atividades dos profissionais de uma mesma equipe, a qual se tenta minimizar por meio de programas de capacitação, estabelecimento de rotinas, procedimentos operacionais padrão. Por outro lado, há uma variabilidade na demanda de serviços por parte dos usuários, que esperam receber um atendimento direcionado às suas necessidades, ou seja, customizado.
Os desafios vivenciados por enfermeiros nas atividades de gerência de recursos humanos são peculiares, dada a especificidade do trabalho de enfermagem. Tais desafios também são inerentes à dinâmica complexa de gestão de pessoas.9–11
Neste capítulo, o termo “gestão de pessoas” é entendido como equivalente à administração de recursos humanos, ainda que o primeiro seja considerado, por algumas vertentes, como mais adequado e atual ao contexto globalizado moderno.9–11
A enfermagem adapta as práticas de gerenciamento de recursos humanos às suas necessidades, o que nem sempre significa que elas serão executadas tal qual previsto na ciência da administração. Ainda assim, é notório que a enfermagem vem absorvendo os conhecimentos administrativos elementares ao longo do tempo.
É necessário que os enfermeiros, em especial aqueles que ocupam cargos estratégicos de liderança, se instrumentalizem a respeito das práticas de gestão de pessoas. Isso irá repercutir na produção do trabalho da equipe de enfermagem e, portanto, no cuidado direto. Tal fato justifica a importância deste capítulo, que irá abordar algumas práticas no contexto da dinâmica de gestão de pessoas em enfermagem.
Objetivos
Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de
- reconhecer a gestão de pessoas e seus principais processos dentre as atividades gerenciais dos enfermeiros;
- considerar o mapeamento de cargos como um elemento de interesse para a racionalização e a dinamização da gestão de pessoas;
- identificar as práticas mais comuns de recrutamento e seleção de pessoal;
- descrever formas de dimensionamento e alocação de pessoal de enfermagem, enfocando o ambiente hospitalar;
- discutir a experiência da dinâmica de gestão de pessoas, com ênfase nos processos de recrutamento, seleção, contratação e alocação de pessoal, em um hospital universitário de grande porte.