INDICAÇÕES DO IMPLANTE COCLEAR

• Introdução

A indicação do implante coclear representa um capítulo complexo dentro de todo o processo que envolve a cirurgia. Além dos critérios físicos e audiológicos, há outros fatores a serem considerados, como experiência auditiva, forma de linguagem, desenvolvimento cognitivo e aspectos psicológicos e sociais, além das expectativas do paciente e da família.1

A indicação equivocada do implante coclear, associada, algumas vezes, a uma cirurgia malsucedida pode gerar grande desgaste, seguido de enorme frustração, com consequências devastadoras. Por isso, os profissionais da saúde que trabalham com pacientes com perda auditiva devem ter amplo conhecimento dos critérios de indicação de implante coclear, e o assunto só deve ser abordado quando o profissional tiver certeza de que a esperança de reabilitação da audição não servirá apenas para somar problemas nas vidas dessas pessoas.

Além disso, o paciente deve considerar a possibilidade de que a cirurgia pode levar a alguma degeneração da audição residual2 e que pode acontecer de ele passar a escutar exclusivamente por meio do implante coclear, eliminando a possibilidade de qualquer estímulo sonoro através de aparelhos de amplificação sonora individual (AASIaparelho de amplificação sonora individuals).

O objetivo do implante coclear é oferecer a oportunidade de audição às pessoas que têm perdas auditivas severas a profundas, para as quais as próteses auditivas convencionais não são suficientes ao acesso aos sons e ao reconhecimento de fala.

Para se entender por que o implante coclear não está indicado a todas as pessoas que têm perdas auditivas e por que mesmo pessoas com perdas auditivas profundas podem não ter indicação, é necessário entender que:

 

• o implante coclear processa os sons; entretanto, o sinal acústico deve ser codificado por ele em sinais elétricos para estimular as células ganglionares do primeiro neurônio do nervo auditivo. Nessa codificação, o som tem suas características modificadas de alguma forma, reduzindo a redundância extrínseca da mensagem;
• para que esse sinal seja reconhecido e tenha significado, é necessária a decodificação em todas as demais estações do sistema auditivo e das áreas de associação da linguagem.

O resultado do implante coclear tem evoluído com a tecnologia dos novos dispositivos, fazendo com que mais pessoas se beneficiem; porém, ainda se observa grande variabilidade descrita na literatura.3,4

O acesso aos sons de fala por volta de 25 a 30dBNA em todas as frequências audiométricas, o reconhecimento de fala sem a pista visual e o uso do telefone, inclusive a percepção musical, podem ser esperados em adultos com surdez pós-lingual, entretanto, não ocorre em todos os pacientes.5–7 Em crianças pequenas, o implante coclear pode oferecer o desenvolvimento pleno da linguagem similar aos seus pares ouvintes; porém, nem todas as crianças conseguem o mesmo resultado.3,8–10

Nos casos em que a entrada do som não for associada a algum significado que o reverta em efetiva informação representativa, pode resultar no não uso do dispositivo, principalmente em adolescentes e adultos com surdez pré-lingual.7,11,12 Por outro lado, muitos deficientes auditivos adultos com surdez pré-lingual podem alcançar ótima adaptação com o implante coclear.13

Por esses motivos, o processo pré-operatório deve ser ágil, porém cauteloso, insistindo-se no uso do AASIaparelho de amplificação sonora individual em ambos os lados,14 para que se possa definir se o resultado do implante poderá ser melhor do que aquele já alcançado com a prótese, se a indicação será bilateral ou unilateral e qual o lado indicado.

• Objetivos

Ao final da leitura deste artigo, o leitor será capaz de:

 

• compreender os critérios atuais de indicação do implante coclear;
• identificar as limitações e as contraindicações do implante coclear;
• reconhecer os casos especiais de indicação do implante coclear.

• Esquema conceitual