- Introdução
O diabetes melito (DMdiabetes melito) é uma das maiores emergências globais de saúde do século XXI. Encontra-se entre as 10 principais causas de morte no mundo e, junto com outras três doenças crônicas não transmissíveis (DCNTdoença crônica não transmissívels — doença cardiovascular, câncer e doença pulmonar), é responsável por 80,0% de todas as mortes prematuras por DCNTdoença crônica não transmissível no mundo.1
Os profissionais da área de saúde, incluindo os farmacêuticos, devem redobrar sua atenção no cuidado com essa doença, uma vez que o grande desafio da gestão clínica se encontra na elevada prevalência, acometendo milhões de pessoas, aliada à condição de que entre 30,0 e 80,0% das pessoas com DMdiabetes melito não são diagnosticadas2 ou são diagnosticadas tardiamente, o que dificulta o controle do DMdiabetes melito e favorece o aparecimento de complicações agudas e crônicas.
Além das considerações clínicas descritas, os custos para os cuidados das DCNTdoença crônica não transmissívels (incluindo o DMdiabetes melito) são elevados, sendo que, muitas vezes, o valor gasto compreende a redução de dias trabalhados, a diminuição da produtividade laboral e a aposentadoria precoce. Entretanto, nesses casos, os encargos ultrapassam a esfera financeira, relacionando também custos sociais e humanísticos, levando à redução da qualidade de vida e, muitas vezes, a problemas que interferem psicologicamente na saúde do usuário.
A evolução dos gastos em saúde no cuidado do paciente com DMdiabetes melito tem sido enorme, crescendo de US$ 232 bilhões para pessoas com DMdiabetes melito em todo o mundo em 2007, para US$ 727 bilhões em 2017 para indivíduos na faixa etária entre 20 e 79 anos. No Brasil, estima-se que o gasto com DMdiabetes melito em 2017 foi de 24 bilhões.1
O cuidado de um paciente com DMdiabetes melito requer a atuação conjunta de uma equipe multiprofissional de saúde, direcionando o cuidado para medidas de prevenção da doença e controle glicêmico, com o objetivo de reduzir a morbimortalidade. Assim, o profissional farmacêutico possui atuação fundamental no manejo medicamentoso e na educação em saúde do paciente.
Este artigo abordará, de maneira sistemática, os aspectos clínicos e terapêuticos do manejo do DMdiabetes melito, trazendo informações epidemiológicas, etiologia, fisiopatologia, apresentação clínica, diagnóstico, objetivos terapêuticos, tratamento não medicamentoso e medicamentoso, bem como os vários aspectos relacionados ao uso da insulina no tratamento do DMdiabetes melito. Com a finalidade de evidenciar o papel do farmacêutico no cuidado do paciente com DMdiabetes melito, este artigo descreverá os aspectos clínicos, objetivos terapêuticos e a descrição detalhada do tratamento medicamentoso com insulina e seus análogos, descrevendo:
- tipos de insulina;
- análogos de insulina;
- perfil farmacocinético desses medicamentos;
- dose e posologia usuais;
- cuidados no preparo da insulina;
- técnicas de administração e locais de aplicação;
- dispositivos para aplicação;
- cuidados na conservação e no armazenamento;
- complicações do uso;
- principais riscos;
- reações adversas;
- descarte de insulina e correlatos.
- Objetivos
Ao final da leitura deste artigo, o leitor será capaz de
- descrever os aspectos epidemiológicos relacionados ao DMdiabetes melito;
- definir DMdiabetes melito e seus diferentes tipos;
- identificar a etiologia, fisiopatologia e apresentação clínica dos pacientes com DMdiabetes melito;
- analisar os critérios diagnósticos e objetivos terapêuticos de pacientes com DMdiabetes melito;
- propor o tratamento medicamentoso e não medicamentoso para pacientes com DMdiabetes melito;
- prescrever a insulina no tratamento do DMdiabetes melito tipo 1 (DM1diabetes melito tipo 1), DMdiabetes melito tipo 2 (DM2diabetes melito tipo 2) e gestacional;
- interpretar os algoritmos de insulinoterapia no tratamento do DM1diabetes melito tipo 1, DM2diabetes melito tipo 2 e gestacional;
- estimar os efeitos adversos, a efetividade e segurança das insulinas e seus análogos;
- utilizar as técnicas de cuidados no uso e preparo da insulina;
- escolher entre as técnicas de administração e locais de aplicação de insulina;
- realizar o descarte correto da insulina e de seus correlatos.
- Esquema conceitual