Objetivos

Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de

• explicar o que é uma prática baseada em evidências em Psicologia Clínica (PBEPC);
• reconhecer as contribuições das PBEPCs;
• descrever os cinco passos de uma PBEPC;
• identificar as principais características clínicas dos transtornos de ansiedade em idosos;
• descrever as práticas com evidência de eficácia para o tratamento de transtornos de ansiedade em idosos;
• explicar as principais características clínicas da insônia na velhice;
• descrever as práticas com evidência de eficácia para o tratamento de insônia de idosos;
• explicar as principais características clínicas dos distúrbios comportamentais na demência;
• descrever as práticas com evidência de eficácia para o tratamento psicológico de distúrbios comportamentais na demência;
• descrever as PBEPCs que apresentaram eficácia para a sobrecarga de cuidadores;
• analisar as principais características clínicas da depressão na velhice;
• descrever as PBEPCs que apresentaram eficácia para o tratamento da depressão de idosos;
• reconhecer os 10 domínios essenciais da psicoterapia de grupo;
• identificar as principais barreiras para o planejamento e a implantação de psicoterapia em grupo para idosos;
• analisar os oitos passos recomendados para o planejamento e a implantação de PBEPCs com idosos.

Esquema conceitual

Introdução

O acelerado processo de envelhecimento da população brasileira requer que diversos profissionais da saúde se capacitem para prestar serviços para os idosos. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),¹ atualmente, aproximadamente 13% dos brasileiros estão na velhice, isto é, têm 60 anos de idade ou mais. Em cerca de 20 anos, estima-se que um quarto da população do Brasil será idosa.¹ Assinala-se que a demanda por esses serviços deve aumentar expressivamente tanto na iniciativa pública (por exemplo, unidades básicas de saúde e unidades de saúde da família) como na iniciativa privada (clínicas, instituições de longa permanência para idosos [ILPIs], entre outras).

No caso específico da psicologia, outros fatores, como uma representação social mais positiva da profissão e a adoção de estilos de vida que desencadeiam e agravam problemas e transtornos psicológicos, aumentarão ainda mais a demanda por serviços para idosos, incluindo a psicoterapia. Há que se questionar, porém, se os psicólogos estão preparados para tanto. Ainda que não existam resultados abundantes de pesquisas empíricas,² é possível responder, sem muito risco, que a preparação para atuar com pessoas que estão na velhice é, pelo menos, insuficiente. Tanto a formação inicial (graduação) como a formação continuada em psicologia não têm contemplado a contento essa fase do curso de vida.

Ademais, e considerando especificamente a psicoterapia, alerta-se que tratamentos que demonstram ser eficazes em adultos jovens podem não ser eficazes com idosos.³ Além disso, as pessoas que estão na velhice apresentam alguns problemas observados com menos frequência em outras faixas etárias, como os distúrbios comportamentais na demência³ e a fobia de quedas. Mesmo transtornos “comuns” a diversas faixas etárias, como a depressão, podem apresentar, em idosos, características distintas das observadas em adultos.⁴

Assim, este capítulo tem como foco a prática baseada em evidências em Psicologia Clínica (PBEPC) com grupos de idosos. Entre os problemas clínicos mais comuns na velhice, optou-se por enfatizar a depressão, ainda que outros quadros (por exemplo, ansiedade e insônia) também sejam abordados. Um caso clínico de terapia cognitivo-comportamental (TCC) com Multicomponentes para a diminuição de sintomas de depressão é apresentado. Trata-se da Educação para o Caráter baseada em Forças para Idosos (Educafi).⁵ A Educafi é multicomponente porque congrega elementos centrais da TCC, como o modelo cognitivo, e a Psicologia Positiva, especialmente as forças de caráter, construto que será definido mais adiante.