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POTENCIAL DA TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL EM INTERVENÇÕES PSICOTERÁPICAS PARA DOENÇAS CRÔNICAS

Tânia Rudnicki

epub-BR-PROPSICO-C5V4_Artigo3

Objetivos

Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de

  • conceitualizar a doença crônica não transmissível (DCNT);
  • apresentar a contribuição da terapia cognitivo-comportamental (TCC) no tratamento de pacientes com doença crônica;
  • descrever técnicas não farmacológicas para lidar com pensamentos, emoções e comportamentos problemáticos relacionados à doença crônica;
  • identificar as técnicas que, se utilizadas adequadamente, permitem facilitar a cooperação e a adesão do paciente com seu tratamento;
  • apontar as habilidades e técnicas que, quando ensinadas ao paciente, auxiliam-no a enfrentar fatores de estresse que podem interferir no tratamento ou precipitar sintomas emocionais relacionados a sua enfermidade crônica.

Esquema conceitual

Introdução

O aumento da população idosa mundial vem acompanhado por um acréscimo da expectativa de vida, enquanto os padrões procuram melhorar, mudando as principais causas de morte no mundo.

Publicado originalmente em 2017 e já atualizado, o relatório produzido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em parceria com a Organização Pan Americana de Saúde (OPAS) apresenta uma visão global de algumas das principais causas de mortes no mundo. Das cerca de 60 milhões de mortes que ocorreram em todo o mundo no ano de 2016, mais da metade estava relacionada a alguma causa decorrente de algum tipo de doença crônica.1

A transição epidemiológica global vivenciada hoje pode ser definida como uma evolução progressiva de um perfil de elevada mortalidade por doenças infecciosas para outro quadro, onde predominam óbitos por doenças crônicas, entre elas as cardiovasculares, neoplasias, causas externas e doenças consideradas crônico-degenerativas.2–4

A mudança da causa de morte de quadro infeccioso por crônico ocorreu ainda na primeira metade do século XX e é, por um lado, resultante de medidas sanitárias básicas e, por outro, da medicina e dos avanços tecnológicos na área hospitalar.

Os avanços em pesquisa e na prestação de cuidados de saúde têm reduzido a mortalidade. Dessa forma, a expectativa de vida prolongou-se, um dado mais significativo em países desenvolvidos. É necessário implementar estratégias e desenvolver políticas públicas efetivas, integradas, sustentáveis e baseadas em evidências para a prevenção e o controle de DCNTs alinhadas aos seus fatores de risco. Ao propor que o enfrentamento das DCNTs enfocasse prioritariamente as quatro doenças, a OMS elegeu também como alvo seus quatro principais fatores de risco:5

  • fumo;
  • inatividade física;
  • alimentação inadequada;
  • uso prejudicial de álcool.

A psicologia aplicada à saúde pode oferecer significativo apoio às políticas de prevenção e controle das DCNTs. Sua prática engloba técnicas diversificadas, voltadas para a promoção da saúde, para o diagnóstico precoce e o tratamento de declínios físicos, emocionais e cognitivos.6

Em relação à saúde mental do doente crônico, as estratégias preventivas em psicologia têm como foco prioritário a manutenção da autonomia e da funcionalidade cognitiva, como a prevenção do suicídio em quadros de depressão, o isolamento social, a perda da independência e o estresse por sobrecarga e desestruturação de núcleos familiares ao enfrentar o dia a dia de cuidado. Entre os sintomas emocionais mais frequentes, os quais interagem e se retroalimentam, estão6

  • apatia;
  • depressão;
  • ansiedade;
  • insônia;
  • medo;
  • desconfiança;
  • alucinações;
  • alterações de comportamento.

Muitas vezes, a atenção aos portadores de alguma doença crônica torna-se ainda mais complexa quando associada a algum transtorno mental.6 É comum, ainda hoje, a pouca valorização das especificidades de cada doente.7

Está claro que uma doença mental pode vir a se desenvolver em pacientes com uma doença crônica que, geralmente, precisam ajustar suas aspirações, vida social e estilo de vida. Essa situação, com certeza, irá trazer-lhes sofrimento antes de conseguirem ajustar-se. Alguns têm sofrimento prolongado e podem desenvolver transtornos psiquiátricos, sendo os mais comuns a depressão e a ansiedade.7,8

As causas patológicas e, consequentemente, os focos de intervenção em saúde, devem incluir também o contexto social relacionado à saúde. Nessa direção, estratégias como desenvolvimento de habilidades pessoais e de empoderamento são apontadas como uma forma de auxiliar na obtenção do controle sobre os fatores que afetam a saúde e a qualidade de vida do doente crônico.6,9

O modelo biopsicossocial reforça e defende a necessidade de entender o processo saúde–doença a partir das condições de vida e saúde de um indivíduo, uma comunidade ou população.

O aumento na carga de DCNTs em todo mundo é hoje um quadro bastante evidente e inquestionável e, além do mais, dos mais preocupantes pelo seu potencial negativo em termos de saúde e de economia. No Brasil, as DCNTs são também a principal causa de mortalidade. O panorama das DCNTs tem se revelado como um novo desafio à saúde pública, e a abordagem cognitivo-comportamental mostra-se bastante apropriada ao ambiente de saúde.6

A terapia cognitivo-comportamental (TCC), com suas técnicas, busca produzir mudanças cognitivas (pensamentos e crenças), emoções e comportamentos duradouros; enfatiza a aliança terapêutica, enfoca o caráter educativo, baseando-se na resolução dos problemas atuais do paciente. Faz-se o tratamento de duração breve e sessões estruturadas.9

O presente capítulo busca trazer a contribuição da TCC no tratamento de pacientes com doença crônica, visando ao entendimento e à compreensão da aplicação de técnicas de manejo para pacientes portadores de doenças crônicas junto ao diagnóstico, sintomatologias e adesão ao tratamento.

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