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INTERVENÇÕES EM SAÚDE MENTAL PARA PROFISSIONAIS DE SAÚDE FRENTE À PANDEMIA DE COVID-19 NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE

Maria Giovana Borges Saidel

Elizabeth Esperidião

Rosane Mara Pontes de Oliveira

Jeferson Rodrigues

Cristina Maria Douat Loyola

Tarcísia Castro Alves

Claudinei José Gomes Campos

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Objetivos

Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de

 

  • propor intervenções em saúde mental para profissionais da Atenção Primária à Saúde (APS) frente à pandemia causada pela doença do coronavírus 2019 (em inglês, coronavirus disease 2019 [COVID-19]);
  • identificar as ações de cuidado em saúde mental para profissionais que atuam na APS e operacionalizá-las;
  • discutir os possíveis resultados dessas ações de cuidado em saúde mental;
  • descrever as experiências nacionais e internacionais de cuidado em saúde mental.

Esquema conceitual

Introdução

A pandemia de COVID-19, como qualquer surto de doença infecciosa, causa medos e incertezas nos atores sociais envolvidos diretamente nesse contexto. Esses sentimentos, acompanhados por uma situação vivenciada sem precedentes para esta geração e a passada, suscitam emoções negativas que podem acarretar sofrimento psíquico e desenvolvimento de transtornos mentais.1

Essa realidade impõe uma situação crítica ao contexto atual, com impacto direto nos profissionais da saúde que atuam na linha de frente, ou seja, que atuam diretamente nos processos envolvidos de cuidado de pacientes com COVID-19.

Verifica-se a ampliação do risco potencial de desenvolver sofrimento psíquico, transtornos mentais e/ou agudizações de transtornos mentais preexistentes. Deve-se considerar que esse risco — quando associado a fatores como o aumento de casos confirmados todos os dias e divulgados amplamente pela mídia, a carga de trabalho intensa, os vários vínculos empregatícios, a carência de protocolos específicos para tratamento que apresentem evidências científicas e as inadequações e escassez de equipamentos de proteção individual (EPIs)2 — tende a aumentar, de forma substancial, os impactos na saúde mental dos trabalhadores.

Pode-se comparar a pandemia de coronavírus com o surto de síndrome da angústia respiratória aguda (em inglês, severe acute respiratory syndrome [SARS]) ocorrido em 2003, com algumas considerações:3–5 naquela época, tal como ocorre em 2021, os profissionais temiam o contágio e a infecção de familiares, amigos e colegas,3 com vários relatos sobre medos e incertezas que rondavam a situação, além de estigmatizações por parte da sociedade.3,4 Os relatos de altos níveis de estresse, sintomas de ansiedade e depressão também foram sistematizados nesse período.5

No contexto internacional, têm sido realizados estudos com o objetivo de ampliar as evidências relacionadas à saúde mental dos profissionais da saúde de forma geral. Um deles — transversal e recente, com amostra de 1.257 profissionais de saúde, realizado em 34 hospitais em várias regiões da China, primeiro país a enfrentar a pandemia no ano de 2019 — avaliou a extensão dos resultados sobre a saúde mental e os fatores associados entre profissionais de saúde que estavam na linha de frente da pandemia da COVID-19. Os resultados desse estudo demonstraram uma proporção considerável de profissionais de saúde que relataram sintomas de depressão (50,4%), ansiedade (44,6%), insônia (34,4%) e angústia (71,5%), cuja maior probabilidade deu-se entre as mulheres, especialmente entre as enfermeiras.2

Uma pesquisa realizada pela Fundação Oswaldo Cruz em todo o território nacional, intitulada Condições de trabalho dos profissionais de saúde no contexto da COVID-19 no Brasil, contou com a participação de cerca de 16 mil profissionais de saúde, sendo 58,8% enfermeiros e, destes, 25,7% eram profissionais atuantes na APS. O estudo revelou que, além de a enfermagem configurar majoritariamente como linha de frente do cuidado na pandemia, lidar de forma direta com pacientes infectados foi um fator potencial para consequências prejudiciais à saúde mental dos envolvidos no cuidado. Entre as alterações, destacaram-se as seguintes:6

 

  • perturbação do sono (15,8%);
  • irritabilidade/choro e frequentes distúrbios em geral (13,6%);
  • incapacidade de relaxar/estresse (11,7%);
  • dificuldade de concentração ou pensamento lento (9,2%);
  • perda de satisfação na carreira ou na vida/tristeza/apatia (9,1%);
  • sensação negativa do futuro/pensamento negativo, ideação suicida (8,3%);
  • alteração no apetite/alteração do peso (8,1%).6

Por meio de evidências internacionais e nacionais que estão sistematizadas sobre o cuidado em saúde mental dos profissionais, é possível refletir sobre as experiências que podem contribuir para que gestores e profissionais organizem ações e programas de cuidados à saúde mental dos profissionais da APS.

Os gestores dos equipamentos de saúde são profissionais estratégicos dessas ações. Faz-se necessário que eles estejam atentos para fatores que possam contribuir, por um lado, para o adoecimento psíquico desses trabalhadores e, por outro, possibilitar intervenções precoces e efetivas que minimizem o sofrimento ou que esses profissionais lidem melhor com o cenário pandêmico.7

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