Objetivos
Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de
- descrever a Atenção Primária à Saúde (APS) como porta de entrada e ordenadora do cuidado nos diversos níveis de atenção à saúde;
- listar as orientações fornecidas ao usuário no pré-operatório na APS;
- discutir os desafios a serem enfrentados no atendimento ao usuário que realiza uma intervenção cirúrgica na APS.
Esquema conceitual
Introdução
O acesso à assistência cirúrgica é essencial na prevenção de mortalidade e incapacidades crônicas, sendo, muitas vezes, a única medida para evitá-las. No Brasil, de 2008 a 2016, foram realizadas 2,02 cirurgias para cada 100 habitantes por ano, com aumento de 38,2% ao longo desse período, o que ainda é considerado baixo conforme os índices internacionais.1
Existe uma gama de intervenções que permitem prolongar a vida dos indivíduos, mesmo que sejam portadores de múltiplas doenças. Diante disso, cada vez mais se tem empregado o uso de procedimentos cirúrgicos, que podem ser classificados, quanto ao seu objetivo, nas seguintes categorias:
- diagnóstico — para determinar a origem do problema;
- curativo — quando há necessidade de resolução do problema;
- reconstrutivo — em casos de correção de deformidades ou reparo de lesões;
- paliativo — quando não há intenção de cura, mas de melhora da qualidade de vida;
- plástico — quando os motivos são estéticos.2
A maioria da população brasileira tem a sua condição cirúrgica identificada por meio da APS, pois essa é a porta de entrada preferencial do Sistema Único de Saúde e a responsável pela gestão do cuidado dos usuários. Após identificar a presença de sinais e sintomas, o indivíduo busca atendimento na APS, onde, se necessário, será referenciado para um serviço ambulatorial especializado e inserido na lista de espera para a cirurgia que acontecerá na atenção hospitalar.3
Para que o atendimento seja resolutivo e não acarrete prejuízos ao usuário, é importante que a APS cumpra o papel de coordenadora na Rede de Atenção à Saúde (RAS), com fluxos assistenciais bem estabelecidos, protocolos de encaminhamento, continuidade informacional, acesso oportuno, oferta abrangente de ações e estratégias de acolhimento.3
O enfermeiro deve estar presente em todo esse contexto, em parceria com os demais profissionais da saúde, por meio da organização do fluxo de atendimento nos níveis de atenção à saúde, a ampliação da resolutividade e o aumento da efetividade, incorporando as premissas das políticas de saúde vigentes em sua prática em prol da integralidade do cuidado. Além disso, esse profissional cumpre um papel fundamental em todo o processo cirúrgico: pré-operatório, intraoperatório e pós-operatório. Cada fase demanda cuidados específicos, e é preciso estabelecer uma interação eficiente e individualizada junto ao usuário, atendendo suas necessidades de forma holística.
Esse cuidado inicia quando o usuário busca o serviço de saúde após a identificação de algum sintoma específico. Nessa fase, o profissional da APS é fundamental para o diagnóstico e a determinação do cuidado e do tratamento a ser realizado.
Em um primeiro momento, o enfermeiro deve estar ciente dos impactos da condição cirúrgica na qualidade de vida do usuário e empreender esforços para maior integração e continuidade de informações entre atenção básica e especializada. Com isso, pretende-se melhorar o gerenciamento da espera pela cirurgia, monitorando os seguintes aspectos:
- consultas com especialistas;
- exames diagnósticos;
- deterioração do estado de saúde;
- evolução da doença;
- dor incapacitante;
- limitações;
- necessidades socioeconômicas referentes à capacidade para trabalhar e viver;
- aspectos emocionais.
O acompanhamento contínuo da equipe interdisciplinar de saúde da família permite identificar novas necessidades de cuidado e atendimento e reavaliar a prioridade cirúrgica.3