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INTERVENÇÕES PSIQUIÁTRICAS IMEDIATAS ÀS VÍTIMAS DE CATÁSTROFES

William Berger

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Objetivos

Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de

 

  • identificar os principais fatores de risco e de proteção para o desenvolvimento das chamadas “sequelas adversas neuropsiquiátricas pós-traumáticas” (APNSs, do inglês, adverse posttraumatic neuropsychiatric sequelae) secundárias às catástrofes;
  • diagnosticar as principais APNSs secundárias às catástrofes;
  • reconhecer o conceito de crescimento pós-traumático (CPT);
  • indicar intervenções farmacológicas e psicoterápicas que devem ser recomendadas ou evitadas no período imediatamente após a exposição a uma catástrofe.

Esquema conceitual

Introdução

Aproximadamente 90% da população geral no mundo todo vivencia ao menos um evento potencialmente traumático (EPT) ao longo da vida.1,2

A 5ª edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), da American Psychiatric Association, define um EPT como aquele que envolve morte, lesão grave ou violência sexual.3

A exposição a um EPT pode levar ao desenvolvimento das APNSs. Tradicionalmente, as APNSs incluem:4,5

 

  • o transtorno do estresse agudo (TEA). 
  • o transtorno do estresse pós-traumático (TEPT);
  • o transtorno depressivo maior; 
  • a síndrome pós-concussão; 
  • a síndrome álgica crônica (localizada ou generalizada). 

Embora as APNSs possam ser divididas didaticamente nessas síndromes e transtornos, a maioria dos pacientes apresenta sobreposição de sintomas e transtornos comórbidos.4

Uma porção significativa dos indivíduos expostos a EPTs desenvolve APNSs, causas importantes de morbidade e mortalidade na população geral. Além disso, as APNSs causam imenso impacto econômico. O TEPT, por exemplo, é uma das doenças que causa maiores gastos por paciente e um dos transtornos mentais que leva ao maior uso do sistema de saúde.6,7 Porém, o desenvolvimento de APNSs e sua gravidade dependem: 2

 

  • da natureza do EPT;
  • do número e da diversidade de exposições aos EPTs;
  • da idade em que a exposição ocorreu.

Um tipo especial de EPT são os desastres. Desastres expõem ao trauma, simultaneamente, um grande número de pessoas e, com frequência, causam grande risco pessoal, um amplo número de mortos e feridos, grandes perdas patrimoniais, destruição, crises financeiras, deslocamentos e desapropriações, além de desestruturação da sociedade, situações que podem durar meses ou anos.8 Assim, não é surpreendente que os desastres estejam associados ao desenvolvimento de diversas APNSs e problemas físicos.9

Infelizmente, a exposição a desastres é mais comum do que se imagina. Entre 8,3 e 18% da população geral são expostos a algum tipo de desastre ao longo da vida.1,9–11 Existem três tipos de desastres: 12

 

  • naturais (como epidemias e terremotos);
  • feitos pelo homem (como os atentados terroristas de 11 de setembro e o descarrilhamento de trens);
  • mistos (como o desmatamento causado pelo homem levando a deslizamentos).

Acredita-se que 30 a 40% das vítimas diretas de catástrofe apresentam TEPT,9 sem considerar as outras APNSs. Porém, o tipo, a magnitude e o nível de exposição ao desastre podem influenciar o prognóstico das vítimas envolvidas.

Outros fatores determinantes para o prognóstico de pessoas expostas a desastres são as intervenções de saúde e os tipos de assistência que essas pessoas receberão no período imediatamente após a catástrofe. Intervenções farmacológicas e psicoterápicas realizadas imediatamente após a exposição a EPTs podem prevenir ou aumentar o risco de desenvolvimento de APNSs. Dessa forma, conhecer as intervenções benéficas e iatrogênicas que podem ser realizadas em um período crucial e dramático, como nos dias seguintes às catástrofes, é responsabilidade de todo psiquiatra e profissional de saúde mental.

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