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INTOXICAÇÕES AGUDAS

Autor: Carlos Augusto Mello da Silva
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Introdução

As intoxicações constituem uma das emergências médicas mais frequentes em todo o mundo, e as ocorrências envolvendo crianças e adolescentes representam um percentual significativo dos atendimentos. Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) apontam para quase 50 mil óbitos anuais de crianças, cerca de 4% de todas as mortes por intoxicações em todo o mundo.1

Nos Estados Unidos, houve 191.197 atendimentos de emergência por intoxicações a crianças e adolescentes com idade inferior ou igual a 18 anos em 2008; deles, 56% envolveram aqueles com idade inferior a 4 anos. A maior parte dos pacientes foi liberada após o atendimento, mas 7,3% necessitaram de hospitalização, com duração média de permanência de 2 dias. O custo total dos atendimentos em todo o país chegou a US$ 162,3 milhões.2

Entre 2001 e 2013, 28 crianças com idade inferior a 4 anos morreram na Inglaterra e no País de Gales por intoxicações produzidas por medicamentos. No Reino Unido, entre 2002 e 2012, 201 crianças foram admitidas em unidades de terapia intensiva (UTIs) por intoxicações medicamentosas.3

No Brasil, o Centro de Informação Toxicológica do Rio Grande do Sul (CIT/RSCentro de Informação Toxicológica do Rio Grande do Sul) registrou, em 2014, 20.911 casos de exposição humana a agentes tóxicos; deles, 4.756 ocorrências (22,7% do total) envolveram crianças com idade entre 1 e 4 anos e 2.550 (12,2% do total) corresponderam a pacientes com idade entre 10 e 19 anos. A faixa etária pré-escolar representou a de maior incidência se comparada a todas as outras.4

No estado da Bahia, o Centro de Informações Antiveneno (Ciave), de Salvador, analisando os registros de atendimento de crianças com idade entre 0 e 14 anos, de 2008 a 2012, mostrou número maior de casos de intoxicação entre 1 e 4 anos de idade (48,7%) e no sexo masculino (53,4%). Os medicamentos estavam envolvidos em 28,5% dos atendimentos, seguidos pelos animais peçonhentos (19,3%). A maioria dos casos foi classificada como leve, mas 18% necessitaram de hospitalização, com baixa letalidade (0,5%).5

Pacientes que chegam a uma unidade de saúde ou serviço de emergência com história ou manifestações clínicas de alterações do nível de consciência (delírio, agitação ou seus opostos — sonolência, torpor) ou convulsões, sem dados que apontem para doença orgânica (infecções do sistema nervoso central [SNCsistema nervoso central] ou processos expansivos, como hemorragias, tumores), devem ser investigados quanto à exposição a agentes químicos. Também se deve incluir a possibilidade de intoxicação aguda entre as causas dos distúrbios

 

  • cardiocirculatórios agudos (arritmia, crise hipertensiva, choque);
  • respiratórios (disfunção respiratória aguda, apneia);
  • metabólicos (hipo ou hipertermia, hipoglicemia, acidose metabólica).

A abordagem citada se aplica principalmente aos quadros súbitos em pacientes previamente hígidos, sem antecedentes definidos de cardiopatia ou pneumopatia, bem como naqueles sem história de doença metabólica (hipo ou hipertireoidismo, diabetes).6

Objetivos

Ao final da leitura deste artigo, o leitor será capaz de

 

  • reconhecer a importância epidemiológica das intoxicações agudas no contexto dos atendimentos de emergência a crianças e adolescentes;
  • discriminar os sinais e sintomas que caracterizam as principais síndromes tóxicas;
  • estabelecer as prioridades e determinar os procedimentos ou as etapas fundamentais no atendimento inicial do paciente agudamente intoxicado;
  • conduzir uma anamnese dirigida em busca de informações, dentro do possível, objetivas e pertinentes ao atendimento do paciente intoxicado;
  • reconhecer medidas e procedimentos de suporte vital no atendimento do paciente intoxicado;
  • indicar corretamente medidas de descontaminação, reconhecendo suas limitações, contraindicações e complicações;
  • identificar medidas de depuração no tratamento de intoxicações agudas;
  • listar os critérios farmacocinéticos e clínicos que norteiam a aplicação de medidas de depuração em casos de intoxicações agudas;
  • solicitar apropriadamente análises toxicológicas de emergência, reconhecendo as indicações e limitações;
  • relacionar os antídotos específicos disponíveis aos respectivos agentes tóxicos;
  • identificar as considerações fundamentais relacionadas ao diagnóstico e manejo das principais intoxicações agudas que ocorrem em crianças e adolescentes.

Esquema conceitual

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