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INTOXICAÇÕES EXÓGENAS EM MEDICINA DE EMERGÊNCIA PEDIÁTRICA

Juang Horng Jyh

Emerson Yukio Kubo

Jaqueline Tonelotto

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Objetivos

Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de

  • reconhecer a importância epidemiológica das intoxicações exógenas (IEintoxicação exógenas);
  • avaliar os sinais e sintomas decorrentes de IEintoxicação exógenas;
  • reconhecer as principais síndromes toxicológicas e sua gravidade;
  • indicar a abordagem adequada de pacientes com IEintoxicação exógenas;
  • indicar os antídotos específicos existentes para IEintoxicação exógenas.

Esquema conceitual

Introdução

IEintoxicação exógenas consistem em condição patológica que decorre da exposição, por meio de via enteral, dérmica, inalatória ou parenteral, a algum produto químico, biológico ou mineral, que, em doses ou quantidades consideravelmente grandes, gera variados sinais e sintomas causados pela disfunção ou insuficiência de órgãos atingidos pela substância.

As IEintoxicação exógenas estão entre as emergências pediátricas que exigem pronta e correta atuação do médico pediatra. Em qualquer situação em que ocorra alteração aguda do quadro clínico de uma criança previamente hígida, resultando em sintomas e sinais suspeitos, é preciso checar a história medicamentosa familiar e os locais em que a criança esteve nas últimas horas a fim de investigar uma possível causa toxicológica, seja ela acidental, voluntária, iatrogênica ou por contaminação ambiental ou alimentar. A alteração aguda do quadro clínico decorrente de IEintoxicação exógena medicamentosa também deve ser investigada em pacientes internados.

No estudo norte-americano realizado em unidades de terapia intensiva (UTIs) pediátricas, compreendendo 2011 a 2014, ocorreram 12.021 admissões relacionadas às IEintoxicação exógenas, correspondendo a 4,6% das internações, com 78% dos casos por ingestão intencional. As classes de medicações ingeridas incluíram:1 desconhecidas (21,6%), antidepressivos (11,5%), analgésicos (7,3%), anti-hipertensivos (6,2%) e outras (10,7%).

Embora 70,9% das admissões não precisassem de intervenções significativas, houve 76 óbitos.1

A maioria dos casos toxicológicos pediátricos ocorre na faixa etária menor de 5 anos, com predomínio de medicamentos, principalmente analgésicos e fármacos de ação central, como os perigosos antidepressivos.2 Produtos sanitários e plantas também podem causar IEintoxicação exógena e, portanto, devem ficar longe do alcance das crianças.

Ainda são muito escassos os dados sobre exposição/intoxicação humana existentes no Brasil, apesar da existência de 36 Centros de Informação Toxicológica (CIT) distribuídos em diferentes Estados da Federação. Na Portaria nº 2.472 GM/MS, de 31 de agosto de 2010, revogada pela Portaria nº 104 GM/MS, de 25 de janeiro de 2011, o Ministério da Saúde (MS) incluiu as IEintoxicação exógenas como agravos à saúde de notificação compulsória, determinando que as notificações passem a ser realizadas no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan).3,4

As substâncias envolvidas nas IEintoxicação exógenas podem variar entres as diferentes regiões brasileiras. Os medicamentos são as substâncias mais envolvidas, seguidas pelos acidentes com animais peçonhentos (25,1%), saneantes domésticos (11,2%) e substâncias de abuso (6,8%). Os agrotóxicos, apesar de corresponderem apenas a 5,3% dos casos notificados, foram os principais responsáveis pelo número de óbitos (44,3%), seguidos por medicamentos (16,6%), substâncias de abuso (11,6%) e acidentes com animais peçonhentos (7%). Crianças na faixa etária entre 1 e 4 anos foram as maiores vítimas das IEintoxicação exógenas, principalmente em circunstâncias acidentais.5

Uma IEintoxicação exógena é considerada aguda quando ocorre uma intoxicação decorrente da exposição a uma única dose ou doses múltiplas, em um intervalo de tempo inferior a 24 horas. Os casos de IEintoxicação exógenas agudas são uma das mais frequentes causas de procura ao atendimento médico em serviços de emergências, exigindo avaliação e conduta precisas e rápidas para reduzir a morbidade e evitar a mortalidade. Os casos mais graves requerem internação em UTIs para monitorações contínuas e cuidados intensivos adequados.

Diferentemente daquelas doenças cuja fisiopatologia, critérios de diagnóstico e de tratamento já estão bem estabelecidos, o manejo dos pacientes intoxicados requer do médico um conhecimento especializado e experiência em toxicologia clínica para que os procedimentos terapêuticos sejam mais adequados e sem riscos de acarretar iatrogenias. Para tal, deve-se contar com o auxílio de centros de informações toxicológicas.

A escassez de evidências científicas para apoiar as intervenções terapêuticas em casos toxicológicos dificulta a política de saúde pública, mesmo em países desenvolvidos. Análises de custo-benefício devem ser feitas antes do uso rotineiro de terapias de alto custo, cuja eficácia, muitas vezes, ainda não foi comprovada. Por outro lado, medicamentos e antídotos com eficácia comprovada devem estar disponíveis nos setores de atendimentos emergenciais, como, por exemplo: naloxona e flumazenil para as intoxicações por opiáceos e benzodiazepínicos, respectivamente; atropina para o tratamento das intoxicações por organofosforados; piridoxina e N-acetilcisteína (NACN-acetilcisteína) para sobredosagens de isoniazida e paracetamol, respectivamente; glicose com tiamina para casos de IEintoxicação exógena por etanol (álcool etílico); carvão ativado, utilizado como antídoto universal no procedimento de descontaminação do trato gastrintestinal (TGItrato gastrintestinal).

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