- Introdução
De acordo com um recente levantamento, estima-se que a população transgênero no mundo seja de 25 milhões (0,3–0,5% da população global).1 Nesse sentido, o reconhecimento e a aceitação da transexualidade aumentaram consideravelmente em muitos países, sobretudo no oeste europeu, na América do Norte, na Austrália e na Ásia. Entretanto, em muitas regiões, indivíduos transgênero ainda precisam esconder sua identidade de gênero, em razão de falta de aceitação cultural, estigma e/ou discriminação.
Existe uma deficiência em cuidados para o indivíduo com disforia de gênero.2 Uma pesquisa realizada com 80 endocrinologistas americanos em 2015 apresentou os seguintes resultados:3
- menos de 50% deles tinham transgênero como pacientes;
- apenas 50% se sentiam confortáveis em discutir identidade de gênero ou orientação sexual;
- 33% se consideraram incapazes de prover atendimento a um transgênero.
Apesar disso, estudos em saúde já começam a dividir a população humana em masculino, feminino e transgênero.4
A terapia hormonal (THterapia hormonal) é a principal intervenção médica para a aquisição dos caracteres sexuais desejados pelos pacientes com disforia de gênero. Em razão disso, seu estudo é importante para o endocrinologista. Atualmente, grande parte dos transexuais não procura um serviço de saúde para esse tratamento, o que leva ao mau uso dos hormônios e ao aumento dos efeitos adversos.
Neste artigo, para aludir ao indivíduo do sexo de nascimento masculino que deseje que seu corpo se alinhe à identidade de gênero feminina ou já tenha feito sua transição, será utilizado o termo transgênero masculino para feminino (TMFtransgênero masculino para feminino). No caso do indivíduo do sexo de nascimento feminino que queira que seu corpo se alinhe à identidade masculina ou já tenha feito sua transição, o termo adotado será transgênero feminino para masculino (TFMtransgênero feminino para masculino).
- Objetivos
Ao final da leitura deste artigo, o leitor será capaz de
- citar os critérios diagnósticos atuais para disforia de gênero;
- definir e diferenciar conceitos como orientação sexual, identidade de gênero e disforia de gênero;
- descrever a rotina de atendimento, incluindo o protocolo de exames, para os pacientes transgênero que desejem fazer a THterapia hormonal;
- discutir a ação dos hormônios sexuais, seus efeitos adversos e suas vias de administração na THterapia hormonal cruzada;
- prescrever esquemas de THterapia hormonal cruzada para TMFtransgênero masculino para femininos e TFMtransgênero feminino para masculinos;
- reconhecer a importância da equipe multiprofissional no atendimento ao transgênero e os critérios para a indicação cirúrgica do processo transexualizador.
- Esquema conceitual