- Introdução
A injúria renal aguda (IRAinjúria renal aguda) é caracterizada pela redução abrupta ou gradual da função renal1 geralmente de caráter reversível.2 Ocorre principalmente a redução do volume urinário e/ou do ritmo de filtração glomerular (RFGritmo de filtração glomerular) associada a distúrbios do equilíbrio hidreletrolítico e acidobásico com elevado risco de morbidade e mortalidade.3
Nos últimos 15 anos, em razão da maior compreensão da fisiopatologia e dos espectros clínicos dessa condição, ocorreram mudanças na nomenclatura. A condição passou a ser denominada “injúria renal aguda” ou “lesão renal aguda” em substituição à “insuficiência renal aguda”, pois nem todo paciente com comprometimento renal agudo está em insuficiência renal.
A nova classificação é chamada de RIFLE, acrônimo de risco (risk), injúria (injury), falha/insuficiência (failure), perda (loss) e fim (end).4 Os novos critérios foram publicados e validados inicialmente para adultos5,6 e, posteriormente, em 2007, foram adaptados para a população pediátrica — RIFLEp. Recentemente, foram modificados também para a população neonatal — RIFLEn.
Vários estudos foram realizados em adultos e crianças mais velhas usando essa definição consensual, levando à melhoria no conhecimento da incidência e da epidemiologia da IRAinjúria renal aguda.7 Apesar dos avanços, do melhor conhecimento e das publicações sobre o tema, a particularidade da fisiopatologia renal de recém-nascidos (RNrecém-nascidos) gravemente doentes dificulta a interpretação dos níveis de diurese e creatinina sérica (CrScreatinina sérica) nesses pacientes, dificultando o diagnóstico de IRAinjúria renal aguda. Além disso, novos biomarcadores na urina e no sangue surgiram como uma possível alternativa para diagnosticar a IRAinjúria renal aguda precocemente na população neonatal.
A incidência de IRAinjúria renal aguda em unidades de terapia intensiva neonatal (UTINunidade de terapia intensiva neonatals) é estimada em 6 a 24%. Essa variação ocorre em função de comorbidades, da existência ou não de malformações cardíacas, persistência do canal arterial (PCApersistência do canal arterial), trombose de veia renal após passagem de cateter umbilical e/ou sepse e/ou evolução para falência de múltiplos órgãos.8
O clearance renal, de maneira geral, segue passando por maturação nos primeiros 2 anos de vida, quando, então, se torna igual ao do adulto (clearance de creatinina normal = 90 a 120mL/1,73m2/minuto). Os RNrecém-nascidos de termo e os pré-termo (RNPTrecém-nascido pré-termos) passam por um período variável de imaturidade funcional dos glomérulos existentes. Ao nascimento, o número de glomérulos é diretamente relacionado com o peso. Dessa forma, mesmo entre RNrecém-nascidos de mesma idade gestacional, terá maior número de glomérulos quem tiver o maior peso.
Além de todas as complicações que podem ocorrer, os RNrecém-nascidos que se recuperam de IRAinjúria renal aguda têm risco maior, no futuro, de evoluírem com hipertensão arterial sistêmica e/ou doença cerebrocardiovascular e/ou insuficiência renal crônica.
Com ênfase em melhorar a capacidade de detecção da injúria renal precocemente, antes mesmo que se instale a insuficiência renal, a identificação de novos agentes terapêuticos para prevenir e tratar a IRAinjúria renal aguda é fundamental para redução da morbidade e da mortalidade.
- Objetivos
Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de:
- reconhecer as causas de IRAinjúria renal aguda;
- identificar a nova classificação de IRAinjúria renal aguda;
- reconhecer o tratamento conservador da IRAinjúria renal aguda;
- promover o tratamento dialítico — terapia renal substitutiva (TRSterapia renal substitutiva) — quando ocorrer falha do tratamento clínico da IRAinjúria renal aguda.
- Esquema conceitual