Introdução
O coração dos vertebrados é composto por quatro câmeras, que são responsáveis por receber e bombear sangue para o organismo, que, graças à presença de válvulas, mantém o fluxo unidirecional. Alterações morfológicas dessas estruturas ocasionam alterações hemodinâmicas, que, clinicamente, variam desde quadros assintomáticos até o colapso circulatório ameaçador à vida.
As doenças valvares permanecem relevantes do ponto de vista epidemiológico, em decorrência da frequência, da morbidade e mortalidade e dos custos ao sistema de saúde. No Brasil, a principal causa é a doença reumática, seguida de lesões degenerativas. Essas últimas são cada vez mais comuns; tendo em vista o envelhecimento da população, o que aproxima, epidemiologicamente, o Brasil dos países mais desenvolvidos.1
A disfunção miocárdica é a progressão natural das valvopatias, sendo essas a quarta causa de insuficiência cardíaca, de acordo com o primeiro registro brasileiro de insuficiência cardíaca aguda, o BREATHE, de 2015.2
Diversas situações podem ser responsáveis pela apresentação grave dos doentes com doença valvar: deterioração aguda — endocardite infecciosa (EI), isquemia valvar e trauma — e progressão natural da valvopatia crônica, com desenvolvimento de insuficiência cardíaca, e valvopatia crônica, com sintomas deflagrados por eventos agudos, como arritmias, infarto agudo do miocárdio (IAM), EI e outros quadros infecciosos.
Objetivos
Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de
- reconhecer as alterações fisiopatológicas das doenças valvares que servirão de alicerce para uma melhor compreensão clínica e para a base terapêutica;
- definir o melhor método diagnóstico e a indicação de exames invasivos;
- elaborar um roteiro de cuidados, apontando os pontos principais para a estabilização do paciente com quadro sintomático agudo;
- considerar com mais frequência a EI nas hipóteses diagnósticas, evitando, assim, abordagens tardias;
- reconhecer e discutir a necessidade de tratamento intervencionista com a equipe multidisciplinar, como cirurgiões cardiovasculares e hemodinamicistas;
- adequar o tratamento para outras doenças levando em consideração a presença de doenças valvares.