- Introdução
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMSOrganização Mundial da Saúde), o tabagismo é um problema de saúde pública, sendo, considerado a principal causa de morte evitável no mundo.1 É um fator de risco para doenças crônicas não transmissíveis (DCNTdoenças crônicas não transmissíveis),2 as quais são responsáveis por 63% das mortes no mundo e 72% no Brasil.3 Entre elas, destacam-se:3,4
- doenças cardiovasculares, principalmente;
- cânceres (pulmão, cavidade bucal, mama, entre outros);
- doenças respiratórias crônicas;
- doenças e condições que afetam a mortalidade infantil (restrição do crescimento intrauterino, predisposição a partos prematuros, entre outras).
De forma geral, os riscos para a saúde decorrem tanto do consumo direto do tabaco como também da exposição ao fumo passivo.3,4
O tabagismo mata cerca de 6 milhões de pessoas por ano. Esse número é projetado para aumentar para 8 milhões, a partir de 2030, sendo que a grande maioria das mortes (80%) ocorrerá em países com média e baixa renda.5 O Brasil é referência mundial no combate ao tabagismo e desenvolve ações por meio do Programa Nacional de Controle do Tabagismo e outros Fatores de Risco de Câncer (PNCTOFRPrograma Nacional de Controle do Tabagismo e outros Fatores de Risco de Câncer).6
Em 2013, o Ministério da Saúde (MSMinistério da Saúde), por meio da Portaria nº 571, de 5 de abril de 2013, ampliou o acesso à abordagem e ao tratamento do tabagismo para a atenção primária à saúde (APSatenção primária à saúde).7 A cessação do tabagismo é uma estratégia preventiva de importância incomparável,8 e, por isso, o tratamento do tabagista apresenta ótimo custo-efetividade nos cuidados em saúde,7,9 sendo considerado o padrão-ouro para prevenção das DCNTdoenças crônicas não transmissíveis. Do ponto de vista da saúde pública, os resultados obtidos podem constituir o meio mais eficaz em termos de custo para melhorar a saúde de uma população e oferecer, aos tabagistas, benefícios significativos para a saúde ao parar de fumar.
O tabagismo é considerado uma doença neurocomportamental, causada pela dependência da nicotina. Apesar de seus conhecidos efeitos negativos, poucos fumantes conseguem parar de fumar e manter a abstinência duradoura. Cerca de 70% dos fumantes desejam parar de fumar, mas não conseguem. Desses, aproximadamente um terço fica abstinente apenas um dia e menos de 10% têm êxito por um ano, inclusive no Brasil.10
A maioria dos fumantes que tenta abandonar o cigarro por conta própria recai na mesma semana da tentativa, sendo que, dos que recaem, de 3–5% conseguem permanecer abstinentes entre seis e doze meses após a cessação.10
A abordagem do fumante para a cessação do tabagismo tem como eixo central intervenções cognitivas e treinamento de habilidades comportamentais, visando à cessação e à prevenção da recaída. Intervenções de cessação do tabagismo realizadas por profissionais de saúde mostraram um aumento nas taxas de abstinência.11 O apoio medicamentoso deve ser utilizado apenas em casos específicos, em que os fumantes apresentam grau elevado de dependência à nicotina.12
- Objetivos
Ao final da leitura deste artigo, o leitor será capaz de
- avaliar a pessoa tabagista;
- reconhecer os tabagistas na comunidade;
- estratificar os tabagistas quanto ao desejo de parar de fumar;
- avaliar o grau de dependência à nicotina;
- explicar as opções de tratamento do tabagismo;
- sintetizar a abordagem do tabagismo em situações especiais na APSatenção primária à saúde.
- Esquema conceitual