Objetivos
Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de
- reconhecer os impactos da coagulopatia e seu tratamento sobre o desfecho do paciente;
- conhecer o princípio dos métodos viscoelásticos e exames standard da coagulação;
- compreender as vantagens dos métodos viscoelásticos;
- entender a diferença entre os exames e os seus reagentes;
- interpretar e analisar corretamente os gráficos obtidos;
- realizar a melhor tomada de decisão no tratamento da coagulopatia.
Esquema conceitual
Introdução
Prejuízos na hemostasia podem contribuir para o sangramento nos períodos intra e pós-operatório e se associam a um aumento da morbidade e da mortalidade.1 Além do sangramento, as transfusões sanguíneas também se associam à ampliação da morbidade e da mortalidade.2 Ademais, as suas complicações contribuem consideravelmente para o aumento dos custos perioperatórios.3 Com isso, um rápido reconhecimento da coagulopatia e seu precoce tratamento são desejados e se refletem em melhora nos desfechos.
Para um reconhecimento ágil da coagulopatia, utilizam-se exames laboratoriais com o intuito de guiar a terapêutica, de forma a minimizar transfusões e consequentes eventos adversos. Por muito tempo, utilizaram-se nessa tarefa os exames standard da coagulação, como tempo de protrombina (TP), tempo de tromboplastina parcial ativada (TTPa), fibrinogênio plasmático e contagem plaquetária.2
Os exames standard, porém, demoram a ser finalizados, e hoje em dia se entende que não são boas ferramentas para guiar a terapêutica transfusional frente à coagulopatia2 por não refletirem o status total do sistema de coagulação. O novo modelo celular da coagulação surgiu para explicar e exemplificar melhor essa dinâmica. Logo, fez-se necessário um “novo” método que fosse mais adequado para monitorar e auxiliar na terapia transfusional frente à coagulopatia.
Descrita por Harter em 1948, a tromboelastografia (TEG®), Haemoscope Corporation, IL, EUA, foi apresentada como o primeiro método viscoelástico, e assim a taxa de polimerização de fibrina e a força máxima do coágulo podem ser avaliadas.4
A TEG® e o tromboelastograma (ROTEM®), Werfen, permitem uma avaliação completa do processo de iniciação, formação e estabilidade do coágulo, utilizando o sangue total do paciente, e assim avaliando a interação de todos os componentes envolvidos na coagulação.
O uso da TEG® foi documentado pela primeira vez durante transplante hepático,5 e hoje em dia já estão disponíveis diversas publicações demonstrando os seus benefícios em diferentes campos, como trauma,6,7 cirurgia cardíaca,8,9 obstetrícia,10,11 cirurgias em geral12,13 e, até mesmo, em decisões clínicas.14,15