Objetivos
Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de
- apontar os riscos relacionados à nanotecnologia e aos nanomateriais inerentes ao trabalhador exposto;
- determinar as medidas protetivas de forma a evitar doenças relacionadas a exposições no ambiente laboral;
- reconhecer a demanda por um alto nível de diálogo, colaboração e gerenciamento entre as instituições/partes interessadas e os representantes da sociedade civil a fim de promover um processo proativo e adaptativo em relação à nanotecnologia.
Esquema conceitual
Introdução
A nanotecnologia tem sido a interface para o novo mundo, funcionando como um importante ponto de partida para a construção da visão do que é indispensável para o futuro. Em suma, a melhor forma de prever o futuro é criá-lo, e é aí que entra o trabalho.1–5 O campo, em amplo desenvolvimento, popularizou-se na década de 1980 pelo engenheiro K. Eric Drexler,6 quem propôs que, um dia, máquinas nanométricas conseguiriam manipular os átomos. Afinal, o nano é uma dimensão muito pequena, em escala 1 milhão de vezes menor do que o milímetro.
Um nanômetro (nm) é um milionésimo de milímetro, ou seja, cerca de 100 mil vezes menor do que o diâmetro de um fio de cabelo humano. Comparado aos átomos ou moléculas — estruturas diminutas — 1 nanômetro equivale a 1×10-9 de 1 metro. A Figura 1 apresenta a escala nanométrica referida ao diâmetro de diversos tipos de materiais: de um átomo de hidrogênio (H) ao tamanho do planeta Terra.
FIGURA1: A dimensão do mundo: do nano ao macro. // Fonte: FBF do Brasil (2017).7
A partir dessa compreensão, a ciência evolui com a produção de estruturas, materiais e dispositivos, criados a partir do controle da forma e do tamanho em escalas nanométricas, em um nível de complexidade que envolve a interdisciplinaridade e facilita a vida do ser humano em diversos campos do conhecimento.8–12 A aplicação da nanotecnologia já chegou, e ocorre um grande avanço da sua regulamentação no Brasil, o que torna os produtos com nanopartículas ainda mais acessíveis aos consumidores nos mais variados setores.2
Olhando para a natureza, as pessoas podem observar os fenômenos que estão à sua volta, percebendo que muitos deles estão interligados ao efeito “nano”.2
O Statnano é um portal que contém dados estatísticos recentes das áreas de ciência, tecnologia e indústria de nanopartículas, que monitora, continuamente, as atividades dos países em relação aos principais indicadores em nanociência, tecnologia e inovação. Segundo os apontamentos do portal, no final de 2018 já eram comercializados 8.523 nanoprodutos, produzidos por 2.084 companhias em 59 países. Os principais produtos e aplicações disponíveis no mercado consumidor movimentam mais de 4 trilhões de dólares no mundo, e encontram-se13–16
- no setor eletrônico (2.050 produtos);
- na área médica (972 produtos);
- no setor têxtil (696 produtos);
- na construção civil (645 produtos);
- no setor automotivo (539 produtos);
- no meio ambiente (526 produtos).
Portanto, as mesmas propriedades que fazem as nanopartículas tão atrativas podem ser fonte de risco, visto que o aumento da superfície em relação ao volume proporciona o incremento da reatividade, e as manifestações físico-químicas diferentes daquelas expressadas em escala maior podem ocasionar atividade biológica e toxicidade diferentes das já conhecidas.14 A exposição humana aos nanomateriais pode ocorrer nas diversas fases do ciclo de vida desse material, desde a síntese até a produção e a incorporação nos produtos, caracterizando a exposição ocupacional. A exposição também poderá ocorrer com a utilização desses produtos (quando há a exposição do consumidor), a eliminação e, por conseguinte, a acumulação no ambiente.14
Contudo, os caminhos direcionam que os fatores regulatórios e da inovação podem ser integralizados, de modo que a governança dos riscos é uma ferramenta estratégica para os governos e visa a reduzir os riscos dos impactos nocivos, sendo uma solução alternativa para a inovação. Uma gestão efetiva e integrada estatal deve auxiliar a concretização de benefícios e estar focada tanto nos fins sociais como na competitividade econômica.14,15