- Introdução
Os serviços de urgência e emergência brasileiros geralmente são ambientes superlotados, com condições pouco adequadas para que as equipes multiprofissionais possam atender as pessoas que os procuram em situações de risco a sua saúde.
Frequentemente, nos serviços de urgência e emergência brasileiros, encontram-se pacientes em macas ou cadeiras nos corredores, sem privacidade, com pouca ou nenhuma informação, segurança ou conforto, à espera de um atendimento que não sabem quando acontecerá. Esses serviços são procurados por pessoas que necessitam ou julgam necessitar de atendimento rápido e até mesmo imediato, tendo em vista sua condição de saúde.
As equipes multiprofissionais que vivenciam o cotidiano dos serviços de urgência e emergência convivem com uma intensa pressão na prática de trabalho, pela necessidade de dar respostas rápidas aos usuários e pela constatação da incapacidade de solucionar os problemas relativos à assistência às urgências e emergências em uma concepção ampliada e resolutiva.1 Esse contexto desperta diversos tipos de sentimentos, tanto nos usuários do serviço quanto na equipe multiprofissional que os atende.
Usuários e profissionais de serviços de urgência e emergência convivem com dor, sofrimento, medo, incertezas, falta de informação e vulnerabilidades. Os profissionais lidam diariamente com pacientes graves e/ou que suponham necessitar de atendimento de urgência. Outra dificuldade é o aumento constante da demanda, ocasionado, em parte, pela procura inadequada. São frequentes as ocasiões em que o serviço de urgência e emergência é o primeiro contato do usuário com o sistema de saúde.
Nos serviços de urgência e emergência, os usuários em situações de risco de morte são atendidos imediatamente. Contudo, em situações menos graves, eles frequentemente aguardam longos períodos até serem atendidos, responsabilizando os serviços pela demora e por não terem seus problemas resolvidos. Dessa forma, os serviços tornam-se, com facilidade, alvos de intensas críticas e reclamações.
Alguns fatores contribuem para o aumento da sensação de ineficiência de serviços de urgência e emergência, por parte tanto daqueles que buscam atendimento quanto dos próprios profissionais que lidam diariamente com os desafios da elevada demanda.2 Em geral, tais fatores estão relacionados aos seguintes aspectos:3
- adoção de estratégias pouco adaptadas ao contexto organizacional e social;
- deficiências na infraestrutura;
- condições pouco adequadas ao desenvolvimento de propostas;
- falhas no planejamento de ações e na comunicação institucional;
- ineficiência no preparo das pessoas para mudanças.
Assim, busca-se, neste estudo, a compreensão na perspectiva de quem apresenta demandas e espera ser atendido e de quem tem o papel social de disponibilizar serviços, atendendo às demandas que chegam. Nesse sentido, o contexto da urgência, como espaço onde se inserem grupos com necessidades e expectativas particulares, torna-se um rico campo de investigação, na tentativa de colocar em discussão novas possibilidades de produção do cuidado em saúde.
Para compreender as práticas cotidianas de um serviço de urgência e emergência, a escolha foi pelo estudo qualitativo e referencial sobre o cotidiano de Michel de Certeau. Os dados de observação e discurso foram coletados, no período de março a junho de 2014, por meio de observação do contexto e de entrevistas com usuários e profissionais de uma unidade de urgência de um hospital público de Belo Horizonte.
- Objetivos
Ao final da leitura deste artigo, o leitor será capaz de
- descrever o cotidiano de atendimento do serviço de urgência e emergência de um hospital público;
- reconhecer as particularidades e ambiguidades do atendimento na urgência e emergência;
- identificar a visão de usuários e profissionais de saúde sobre serviços de urgência e emergência.
- Esquema conceitual
