Objetivos
Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de
- relacionar gordura corporal, alterações metabólicas e alterações físicas;
- reconhecer os métodos de avaliação clínica, diagnóstico e acompanhamento do cão obeso;
- identificar os passos que compõem a elaboração de programas de emagrecimento e acompanhamento de cães obesos;
- reconhecer o papel da manutenção dos retornos após o término do programa de emagrecimento e acompanhamento de cães obesos para prevenir o ganho de peso.
Esquema conceitual
Introdução
A obesidade é o acúmulo excessivo e o armazenamento de tecido adiposo de forma que pode comprometer as funções orgânicas normais dos indivíduos.1
A obesidade é comum em cães e afeta mais de um terço da população domiciliada, predispondo ao aparecimento de doenças decorrentes do excesso de peso.1 Os critérios para classificação de um cão com sobrepeso ou obeso são baseados na associação entre condição do escore corporal, risco associado e desencadeamento de doenças secundárias. Um estudo apontou a prevalência de cães com excesso de peso ou obesos entre 20 e 30%.2
Pode-se considerar que fatores e/ou alterações genéticas, distúrbios hormonais e uso crônico de alguns fármacos (medicamentos) podem atuar como causas da obesidade, mas a principal é o controle inadequado da ingestão energética voluntária pelo animal e do gasto energético pelo organismo, resultando em um balanço energético positivo.
Salienta-se a importância de atenção especial para a densidade energética dos alimentos, que pode ser a responsável direta pelo excesso do consumo de energia. O nutriente que mais eleva o teor energético e a palatabilidade dos alimentos é a gordura, que, por sua vez, é melhor digerida, utilizada e estocada quando comparada aos carboidratos e às proteínas. O consumo energético total diário é mais importante do que a composição nutricional da dieta, que, quando em excesso, independentemente do tipo de alimento, induz ao ganho de peso. A falta de controle da ingestão calórica diária tem grande importância no ganho de peso em cães.
A elevação do peso corporal (PC) predispõe os animais ao desenvolvimento de alterações de origem mecânica, como dificuldade respiratória, letargia, rupturas de ligamento, calos de apoio e distúrbios articulares, ou de origem metabólica, como diabetes melittus, subfertilidade, neoplasias, dermatopatias, dislipidemias e doenças do trato urinário, reduzindo a expectativa e a qualidade de vida de animais obesos.3
A pontuação do Escore de Condição Corporal (ECC) usa os parâmetros visuais e táteis para atribuir um valor numérico ao grau de adiposidade do paciente. O resultado do ECC pode ser explicado aos tutores e é uma ferramenta eficaz para a conscientização sobre o grau de sobrepeso ou obesidade dos cães.
Recomenda-se, antes de submeter o paciente a um programa de emagrecimento, a realização de exame físico, análise completa do sangue e perfil bioquímico a fim de descartar qualquer doença ou outra doença secundária, em específico, o hipotireoidismo.
Cães obesos apresentaram maior prevalência de algumas afecções em relação àqueles em condição corporal ideal, como, por exemplo:2,4
- artrites/osteoartrites (+1,8 vezes);
- diabetes melito (+2,4 vezes);
- hiperadrenocorticismo (+3,0 vezes);
- hipotireoidismo (+4,1 vezes);
- claudicação (+1,5 vezes);
- doença do trato urinário inferior (+1,2 vezes);
- distúrbios musculoesqueléticos (+1,4 vezes);
- neoplasias (+2,0 vezes);
- doenças da cavidade oral (+1,4 vezes);
- pancreatite (+2,0 vezes);
- ruptura de ligamento cruzado cranial (+3,2 vezes);
- colapso de traqueia (+4,0 vezes).