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Odontologia em Pets Não Convencionais (animais silvestres e exóticos)

Autores: Roberto S. Fecchio, Renato Ordones
epub-PROMEVET-PA-C10V2_Artigo2

Objetivos

Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de

  • descrever a importância da odontologia na clínica e cirurgia de pets não convencionais;
  • analisar a anatomia, a fisiologia, a etiopatogenia, o diagnóstico e o tratamento das principais afecções orais e dentárias em répteis, aves e pequenos mamíferos presentes na rotina clínica;
  • elencar as principais afecções orais e tratamentos em répteis;
  • explicar as principais ocorrências relacionadas ao bico na rotina de aves;
  • sumarizar a odontologia de pequenos mamíferos.

Esquema conceitual

Introdução

A odontologia de pets não convencionais é uma área que cresce cada vez mais devido à alta ocorrência de alterações que envolvem as estruturas da cavidade oral dessas espécies, principalmente em decorrência de erros de manejo alimentar e ambiental. A variação anatômica e fisiológica da cavidade oral encontrada em todos os pacientes, dos mais diversos grupos (répteis, aves e mamíferos) é fundamental que seja conhecida detalhadamente para uma avaliação precisa.

Todo o processo terapêutico deve ser estabelecido desde o momento em que o paciente chega ao atendimento, passando pela determinação de diagnóstico preciso, por todo o planejamento cirúrgico até os cuidados pós-operatórios. Nesse capítulo, serão abordadas as principais características da cavidade oral de cada um desses grupos e as principais alterações odontológicas e estomatológicas, bem como seus respectivos tratamentos.

Odontologia e afecções orais em répteis

Os répteis mantidos como pets são representados por dois grupos, os testudines (cágados e jabutis) e os squamatas (lagartos e serpentes). São animais pecilotérmicos, ou seja, dependem da temperatura ambiente para manter a homeostase e, dessa forma, controlar o seu metabolismo. Tal característica os torna totalmente dependentes e adaptados às características climáticas do ambiente em que habitam naturalmente e, portanto, a medicina de répteis é extremamente complexa.

Com relação à estomatologia, diversas particularidades devem ser levadas em consideração, como a variedade dos tipos de dentição, que ocasiona enfermidades variadas e específicas; e o fato de que nem todos os répteis possuem dentes, como os testudines que apresentam bicos córneos adaptados à função de apreensão.

A avaliação da cavidade oral e crânio deve, inicialmente, ser realizada por inspeção a distância, observando-se a simetria e os contornos faciais; movimentos da língua como órgão sensorial, frequência de movimentação e aparência. A cabeça deve ser observada, examinando possíveis áreas de ulcerações, descoloração e/ou sangramentos.1

A boca deve ser aberta cuidadosamente utilizando-se uma espátula descartável de madeira ou uma espátula de uso odontológico. Também é possível o uso de um espéculo utilizado para abrir bico de aves, inserido entre a mandíbula e a maxila das serpentes ou de alguns lagartos, segurando o animal pela base do crânio e com os dedos pressionando gentilmente o espaço intermandibular para manter a boca aberta (Figura 1).1

FIGURA 1: Uso de espéculo metálico para avaliação da cavidade oral de lagarto teiú. // Fonte: Arquivo de imagens dos autores.

Em testudines, deve-se inserir a espátula entre as lâminas do bico queratinizado e verticalizar a espátula para manter a boca aberta, embora também existam abre-bicos específicos. Esse processo nessa família é mais difícil em animais hígidos devido à força que eles apresentam no pescoço e nos membros anteriores, além do comportamento de esconderem a cabeça sob a carapaça para se protegerem do que consideram ameaça.

Ainda dentre os testudines, os cágados apresentam comportamento defensivo de abrir a boca quando se sentem ameaçados, sendo essa uma boa oportunidade para se inserir o espéculo, espátula ou abre-boca, para manter a cavidade oral aberta de preferência revestido com material macio para que se evite fraturas do bico córneo e, assim, seja possível uma avaliação adequada.

Serpentes não possuem dentes na região intermaxilar e intermandibular o que possibilita ao examinador acessar a cavidade oral por meio da introdução de um espéculo por essa região. Pode-se utilizar a região intermaxilar e intermandibular para a abertura manual da boca em serpentes não peçonhentas. Animais de menor porte podem ser avaliados por meio do uso de um otoscópio com cones adequados para inspecionar a cavidade oral, a faringe e a porção proximal do esôfago em serpentes.1,2

Deve-se observar a coloração da mucosa oral, presença de hemorragia, petéquias, inflamação, características das secreções (cor, viscosidade, quantidade e odor), simetria, presença de alterações (fraturas, corpo estranho, parasitas, caseo e cálculo dental), dentes, posição da glote e base da língua (rostral em serpentes, média em lagartos e caudal em testudines e crocodilianos) e aspecto da faringe.1,2

Sempre que estiver trabalhando com serpentes peçonhentas ou grandes lagartos e crocodilianos (jacarés, crocodilos, aligátores e gaviais) é recomendado utilizar sedação ou anestesia geral, mesmo em procedimentos simples.1,2

Tipos de dentição

Existem três tipos básicos de inserção dentária em répteis (Figuras 2A–C):1,3,4

  • acrodonte: é a inserção superficial mineralizada nos ossos mandibular e maxilar. Presente em alguns anfisbênios e lagartos (famílias Agamidae e Chamaeleonidae), sendo raramente substituídos uma vez atingido certo estágio de desenvolvimento;
  • pleurodonte: é a inserção em projeção alveolar lateral (incompleta) nos ossos mandibular e maxilar. Tipo mais comum em lagartos e serpentes, possuindo substituição permanente e constante;
  • tecodonte: é a inserção em projeção alveolar completa nos ossos mandibular e maxilar, presente nos crocodilianos.

FIGURA 2: Tipos de inserção dentária em répteis. A) Acrodonte; B) pleurodonte; e C) tecodonte.

Embora Kertesz5 classifique a dentição dos répteis como homodontes (dentes iguais na forma e função), pode-se dizer que algumas serpentes possuem dentição heterodonte (dentes diferentes na forma e função), devido ao fato de que alguns grupos apresentam dentes com tamanho, função e forma diferenciada, especializados na condução ou inoculação de peçonha.

As principais categorias de dentição referem-se à posição do dente inoculador na cavidade oral e sulco dentário, sendo classificadas como mostram as Figuras 3A–D.6,7 A saber:

  • áglifa: é a dentição na qual não há presas especializadas na inoculação de peçonha. Alguns exemplos de serpentes não peçonhentas que possuem esse tipo de dentição: surucucu-do-pantanal (Hydrodynastes gigas), caninana (Spilotes pulatus), jiboia (Boa constrictor), sucuri (Eunectes sp), píton (Phyton sp), cobra-dos-milharais (Elaphe gutata);
  • opistóglifa: caracteriza-se pela presença de um ou mais dentes modificados na porção distal de cada hemiarco maxilar. Essas presas possuem sulcos longitudinais dos quais, por capilaridade, escorre o produto de uma glândula especializada na secreção de substâncias ativas, a glândula de Duvernoy. Exemplos: cobra-espada (Tomodon dorsatus), cobra-cipó (Phylodryas olfersi), falsa-coral (Oxyrhopus guibei);
  • proteróglifa: nesse tipo de dentição, as presas são localizadas na porção anterior do maxilar, geralmente com canal de peçonha não completamente fechado, estão conectadas com a glândula secretora. Dentição presente na família Elapidae, representada pelas corais-verdadeiras (Micrurus sp), najas (Naja sp), mambas (Dendroaspis sp) e serpentes marinhas (Pelamis sp);
  • solenóglifa: constitui uma condição muito especializada, em que um único dente funcional em cada maxila (a presa) é extremamente grande, agudo e oco, e permanece paralelo ao crânio quando em repouso, mas gira 90º no momento do ataque, para injetar a peçonha. Exemplos: cascavel (Crotalus sp), jararaca (Bothrops jararaca), jararacuçu (Bothrops jararacussu), urutu-cruzeiro (Bothrops alternatus), surucucu (Lachesis muta) e víboras (Bitis sp).

FIGURA 3: Tipos de dentição em serpentes. A) Áglifa; B) opstóglifa; C) proteróglifa; e D) solenóglifa.

Principais enfermidades

A seguir, serão apresentadas as principais enfermidades. A saber:

  • estomatite e doenças do trato alimentar superior (DTAS);
  • doença periodontal em lagartos;
  • hipovitaminose A;
  • fraturas de mandíbula e maxila;
  • desordens congênitas.

Estomatite e doenças do trato alimentar superior

Estomatites e DTAS referem-se a várias condições patológicas da cavidade oral, faringe ou esôfago.7 A estomatite é muito comum em répteis, caracterizada pela inflamação da mucosa, pode incluir gengivite, glossite, palatite e queilite. Infecções bacterianas, fúngicas e virais são conhecidas por causar estomatite.1,7

Os principais sinais clínicos encontrados incluem inapetência, anorexia ou disfagia, regurgitação, ptialismo, sialorreia, paralisia da língua, gengivite, equimoses e petéquias na mucosa oral, úlceras e necrose, exsudatos caseosos e perda dos dentes (Figura 4). Exsudatos caseosos são geralmente causados pela infecção do trato respiratório, trato gastrointestinal e cavidade oral, uma vez que estes animais não possuem a enzima protease, responsável pela fluidificação do pus.

FIGURA 4: Estomatite caracterizada pela presença de gengivite, equimoses e petéquias na mucosa oral de jiboia. // Fonte: Cedida por João Luiz Rossi Jr.

Geralmente, a referida enfermidade é secundária a problemas relacionados ao manejo. Entre os fatores predisponentes, observam-se estresse crônico, desnutrição (deficiências de cálcio, proteínas, vitamina A e C), trauma, presença de endoparasitas, condição climática ambiental imprópria e imunodeficiências.1,7

Deve-se examinar o habitat (terrário/aquaterrário) e o manejo, já que a estomatite tem como principal fator determinante o estresse. Os principais erros de manejo comumente vistos em cativeiro são temperatura e umidade ou fonte de água inadequadas, recinto em locais movimentados ou frequentados por outros animais, dieta ou itens alimentares inapropriados, e manipulação excessiva ou inadequada do animal, gerando estresse excessivo.

O diagnóstico baseia-se na história clínica, no exame clínico, na cultura de tecidos afetados, no exame hematológico completo e em análises bioquímicas.

Estomatite bacteriana

Estomatite bacteriana é a forma clínica mais comum do referido conjunto de DTAS. O grupo de maior prevalência dessa enfermidade é o das serpentes (Ophidia),1,7,8 porém essas lesões também são vistas em iguanas e quelônios com menor frequência. Como relatado, estomatite bacteriana em quelônios pode estar associada ao período de hibernação.

A causa mais comum de estomatite bacteriana em crocodilianos está associada a trauma na gengiva ou desequilíbrio na microbiota bacteriana oral normal. Os agentes etiológicos mais comuns da estomatite bacteriana são as bactérias gram-negativas, como Pseudomonas, Aeromonas, Salmonella, Morganella, Serratia, Neisseria, Proteus e Klebisiela.1,7,8

A fisiopatologia das estomatites infecciosas inicia-se com lesões ulcerativas em cavidade oral, evoluindo para necrose dos tecidos gengivais e agressão aos tecidos ósseos adjacentes, que pode gerar osteomielite e esfoliação dentária.1,7,8

Devido à grande vascularização da cavidade oral, a estomatite infecciosa não tratada pode progredir para septicemia e até ocasionar a morte do animal.

O tratamento da estomatite infecciosa é debridamento de tecidos necrosados e remoção de dentes esfoliados. Quanto aos antissépticos tópicos: limpeza com H2O2 10%, clorexidine 0,12% e ácido acético 0,5% alternados (choque de pH). Antibioticoterapia sistêmica de amplo espectro, eliminação da causa primária e adequação de manejo, alimentação forçada, fluidoterapia e suplementação nutricional com ácido ascórbico (100−250mg/kg PO a cada 24 horas) também integram o tratamento.

O prognóstico das lesões ulcerativas depende de vários fatores e a melhor forma de evitar o surgimento de tais enfermidades é a criação de protocolos profiláticos que eliminem todos os fatores predisponentes.

Estomatite viral

Infecções por Paramyxovirus são mais comuns em viperídeos, mas também acometem também serpentes não viperídeas. A doença produz sinais clínicos que envolvem secundariamente a cavidade oral. Doenças virais causadas pela família Retroviridae em boídeos podem causar, em sua fase inicial, estomatite e ulcerações na cavidade oral e são transmitidas por meio de fômites, contato direto e insetos vetores (predominantemente o ácaro Ophionyssus natricis).1

Sinais clínicos da estomatite viral incluem estomatite, glossite, úlceras hemorrágicas na língua e palato duro. Alguns quelônios podem apresentar sinais de rinite bilateral, descarga nasal mucopurulenta, dispneia e ulcerações cutâneas.1

O tratamento para doenças virais inclui terapia de suporte e manutenção da hidratação e status nutricional. Antibióticos e antifúngicos tópicos e sistêmicos devem ser administrados para prevenir ou tratar infecções secundárias.1

Estomatite fúngica

Relatos de doenças fúngicas são descritos para todos os répteis, sendo que a maioria das infecções fúngicas em lagartos e serpentes é atribuída a fungos do solo. Como em outros animais, infecções fúngicas estão associadas com o comprometimento do sistema imunológico. Candida albicans é oportunista e pode, secundariamente, invadir o trato alimentar superior de répteis, especialmente em lagartos.1

Algumas infecções fúngicas são sistêmicas e fatais.1

Fungos como Aspergillus sp., Mycobacterium sp. e leveduras podem ocasionalmente crescer em culturas de esfregaços orais de répteis, entretanto, esses microrganismos não são considerados as causas primárias da enfermidade.1

O diagnóstico da estomatite fúngica deve ser realizado por cultura ou histopatologia. Radiografias da região afetada podem ser útil na detecção de osteomielite fúngica.

O tratamento da estomatite fúngica consiste na administração oral de itraconazol (23,5mg/kg) a cada 24 horas por 4 a 6 semanas e pode também incluir antibioticoterapia de amplo espectro para tratamento de infecções bacterianas secundárias.

Doença periodontal em lagartos

A doença periodontal é uma causa significante de morbidade em lagartos cativos, ocorrendo principalmente em camaleões e agamídeos. Esses animais são os únicos entre os lagartos que apresentam dentição acrodonte (estruturas triangulares simples e anquilosadas nas cristas ósseas da mandíbula e maxila), não havendo reposição contínua durante toda a vida. Além disso, o periodonto desses lagartos é composto por gengiva, interface gengiva-osso (anquilose) e osso mandibular/maxilar, não havendo ligamento periodontal como nos mamíferos.9

Os principais achados clínicos são eritema gengival, deposição de cálculo dental e exposição de osso mandibular/maxilar (Figura 5). Em casos severos, pode-se observar hiperplasia gengival, gengivite supurativa com formação de bolsa periodontal e abscessos subcutâneos em mandíbula ou maxila.

FIGURA 5: Doença periodontal em dragão barbudo, onde se nota presença de cálculo dentário, gengivite e salivação excessiva. // Fonte: Cedida por Alessandro Bijjeni.

Culturas bacterianas subgengivais, extraídas de lagartos com doença periodontal, demonstraram alta prevalência de microbiota anaeróbia (Pseudomonas aeruginosa, Proteus sp., Escherichia coli, Corynebacterium, Yersinia enterocolitica e Proteus mirabilis), sendo a provável etiologia da doença.9

Dietas inapropriadas em cativeiro parecem ser o maior fator predisponente para a doença, principalmente pela textura mole, pois esses animais alimentam-se de inúmeros invertebrados em vida livre, o que requer longos períodos de mastigação. Fatores sistêmicos também podem predispor à doença periodontal, como desordens nutricionais e imunológicas e estresse.

O tratamento local envolve a remoção de cálculo supra e subgengival, limpeza com clorexidine (0,12%) e polimento da superfície dental. Os abscessos devem ser curetados para a remoção de tecido necrótico e debris celulares. Antibioticoterapia sistêmica deve ser associada, bem como radiografias periódicas para avaliar a regressão do quadro clínico.

Para prevenção da doença periodontal em lagartos é indicada profilaxia dental sob anestesia a cada 12 meses, dieta com itens alimentares variados para prover variedade adequada de textura e consistência e correção de erros de manejo visando a minimização dos fatores de estresse.

Hipovitaminose A

Os testudines são aqueles que mais sofrem com os erros de manejo em cativeiro, no que diz respeito à manutenção da homeostasia (temperatura, luminosidade e umidades) e dieta. Por consequência, são os mais acometidos por hipovitaminose A, sendo mais frequentes em espécies aquáticas (cágados) do que em terrestres (jabutis).10

Sinais clínicos da enfermidade se manifestam como metaplasia escamosa, conjuntivite, blefarite, aumento de volume na região aural da cabeça (Figura 6), edema palpebral, dispneia, corrimento oro-nasal e hipercrescimento córneo do bico. Outros sinais clínicos comumente encontrados são letargia e anorexia.7

FIGURA 6: Cágado apresentando abcesso aural. // Fonte: Arquivo de imagens dos autores.

O tratamento da hiovitaminose A consiste na correção dietética, suplementação injetável de vitamina A (210U.I./kg) e correção de oclusão do bico utilizando-se canetas de baixa ou alta rotação e fresas de desgaste odontológico do tipo Arkansas (Figura 7). A correção do bico córneo é extremamente importante, pois esse crescimento anormal comumente acarreta a inabilidade na preensão dos alimentos.

FIGURA 7: Correção anatômica e ajuste oclusal em bico córneo de jabuti com uso de broca odontológica em caneta de alta rotação. // Fonte: Arquivo de imagens dos autores.

Fraturas de mandíbula e maxila

Fraturas de mandíbula e de maxila em répteis são usualmente resultado de trauma ou doenças ósseas metabólicas. Caso a fratura seja devido à trauma e os dentes não apresentem alterações, pode ser utilizada resinas odontológicas para obtenção de imobilização, entretanto, é necessário que se conheça a taxa e o fluxo das substituições dentárias. Em testudines terrestres, as fraturas da ranfoteca são as mais frequentes. Em serpentes as fraturas são mais comuns em mandíbula seguido do osso palatino.

O tratamento dos traumas orais e rostrais consiste na limpeza e higienização das lesões, uso de antibióticos tópicos, debridamento cirúrgico das lesões necróticas, correção de fraturas e antibioticoterapia sistêmica de amplo espectro. Técnicas de ortopedia de face e uso de mini placas buco-maxilo podem ser empregadas para a fixação de fraturas mandibulares em répteis (Figura 8).

FIGURA 8: Uso de mini placas bucomaxilar para osteossíntese de maxila em jabuti. // Fonte: Arquivo de imagens dos autores.

Desordens congênitas

Doenças congênitas da cavidade oral de répteis incluem braquignatismo mandibular e maxilar (Figura 9) e fenda palatina, o que pode ocorrer como resultado de defeitos genéticos, condições impróprias de incubação, exposição de fêmeas em período reprodutivo a temperaturas inapropriadas ou por administração de substâncias tóxicas durante esse estágio fisiológico.7

FIGURA 9: Braquignatismo maxilar em jabuti. // Fonte: Arquivo de imagens dos autores.

ATIVIDADES

1. Analise as afirmações sobre os répteis.

I. O grupo dos testudines são representados pelos cágados e o squamatas, pelos jabutis.

II. Os répteis são animais pecilotérmicos.

III. São animais dependentes das características do ambiente em que habitam naturalmente.

IV. A medicina de répteis demanda pouco aprofundamento, pois não são animais complexos.

Qual(is) está(ão) correta(s)?

A) Apenas a I.

B) Apenas a I e a IV.

C) Apenas a II e a III.

D) A I, a II, a III e a IV.

Confira aqui a resposta

Resposta incorreta. A alternativa correta é a "C".


Os répteis mantidos como pets são representados por dois grupos, os testudines (cágados e jabutis) e os squamatas (lagartos e serpentes). São animais pecilotérmicos, ou seja, dependem da temperatura ambiente para manter a homeostase e, dessa forma, controlar o seu metabolismo. Tal característica os torna totalmente dependentes e adaptados às características climáticas do ambiente em que habitam naturalmente e, portanto, a medicina de répteis é extremamente complexa.

Resposta correta.


Os répteis mantidos como pets são representados por dois grupos, os testudines (cágados e jabutis) e os squamatas (lagartos e serpentes). São animais pecilotérmicos, ou seja, dependem da temperatura ambiente para manter a homeostase e, dessa forma, controlar o seu metabolismo. Tal característica os torna totalmente dependentes e adaptados às características climáticas do ambiente em que habitam naturalmente e, portanto, a medicina de répteis é extremamente complexa.

A alternativa correta é a "C".


Os répteis mantidos como pets são representados por dois grupos, os testudines (cágados e jabutis) e os squamatas (lagartos e serpentes). São animais pecilotérmicos, ou seja, dependem da temperatura ambiente para manter a homeostase e, dessa forma, controlar o seu metabolismo. Tal característica os torna totalmente dependentes e adaptados às características climáticas do ambiente em que habitam naturalmente e, portanto, a medicina de répteis é extremamente complexa.

2. Sobre a odontologia em répteis, é correto afirmar que

A) os jabutis, diferente dos cágados, apresentam comportamento defensivo de abrir a boca quando se sentem ameaçados, o que permite a inserção de espéculo, espátula ou abre-boca.

B) o dispositivo utilizado para manter a cavidade oral de testudines aberta precisa ser revestido com material macio para que se evite fraturas do bico córneo e, assim, seja possível uma avaliação adequada.

C) serpentes possuem dentes na região intermaxilar e intermandibular o que impossibilita ao examinador acessar a cavidade oral por meio da introdução de um espéculo por essa região.

D) é mantadório evitar a região intermaxilar e intermandibular para a abertura manual da boca em serpentes não peçonhentas.

Confira aqui a resposta

Resposta incorreta. A alternativa correta é a "B".


Dentre os testudines, os cágados apresentam comportamento defensivo de abrir a boca quando se sentem ameaçados, sendo essa uma boa oportunidade para se inserir o espéculo, espátula ou abre-boca, para manter a cavidade oral aberta de preferência revestido com material macio para que se evite fraturas do bico córneo e, assim, seja possível uma avaliação adequada. Serpentes não possuem dentes na região intermaxilar e intermandibular o que possibilita ao examinador acessar a cavidade oral por meio da introdução de um espéculo por essa região. Pode-se utilizar a região intermaxilar e intermandibular para a abertura manual da boca em serpentes não peçonhentas.

Resposta correta.


Dentre os testudines, os cágados apresentam comportamento defensivo de abrir a boca quando se sentem ameaçados, sendo essa uma boa oportunidade para se inserir o espéculo, espátula ou abre-boca, para manter a cavidade oral aberta de preferência revestido com material macio para que se evite fraturas do bico córneo e, assim, seja possível uma avaliação adequada. Serpentes não possuem dentes na região intermaxilar e intermandibular o que possibilita ao examinador acessar a cavidade oral por meio da introdução de um espéculo por essa região. Pode-se utilizar a região intermaxilar e intermandibular para a abertura manual da boca em serpentes não peçonhentas.

A alternativa correta é a "B".


Dentre os testudines, os cágados apresentam comportamento defensivo de abrir a boca quando se sentem ameaçados, sendo essa uma boa oportunidade para se inserir o espéculo, espátula ou abre-boca, para manter a cavidade oral aberta de preferência revestido com material macio para que se evite fraturas do bico córneo e, assim, seja possível uma avaliação adequada. Serpentes não possuem dentes na região intermaxilar e intermandibular o que possibilita ao examinador acessar a cavidade oral por meio da introdução de um espéculo por essa região. Pode-se utilizar a região intermaxilar e intermandibular para a abertura manual da boca em serpentes não peçonhentas.

3. Analise o que deve ser observado no exame oral de répteis.

I. Coloração da mucosa oral

II. Presença de hemorragia

III. Petéquias.

IV. Característica das secreções.

Qual(is) está(ão) correta(s)?

A) Apenas a I.

B) Apenas a I e a IV.

C) Apenas a II e a III.

D) A I, a II, a III e a IV.

Confira aqui a resposta

Resposta incorreta. A alternativa correta é a "D".


Deve-se observar a coloração da mucosa oral, presença de hemorragia, petéquias, inflamação, características das secreções (cor, viscosidade, quantidade e odor), simetria, presença de alterações (fraturas, corpo estranho, parasitas, caseo e cálculo dental), dentes, posição da glote e base da língua (rostral em serpentes, média em lagartos e caudal em testudines e crocodilianos) e aspecto da faringe.

Resposta correta.


Deve-se observar a coloração da mucosa oral, presença de hemorragia, petéquias, inflamação, características das secreções (cor, viscosidade, quantidade e odor), simetria, presença de alterações (fraturas, corpo estranho, parasitas, caseo e cálculo dental), dentes, posição da glote e base da língua (rostral em serpentes, média em lagartos e caudal em testudines e crocodilianos) e aspecto da faringe.

A alternativa correta é a "D".


Deve-se observar a coloração da mucosa oral, presença de hemorragia, petéquias, inflamação, características das secreções (cor, viscosidade, quantidade e odor), simetria, presença de alterações (fraturas, corpo estranho, parasitas, caseo e cálculo dental), dentes, posição da glote e base da língua (rostral em serpentes, média em lagartos e caudal em testudines e crocodilianos) e aspecto da faringe.

4. Escolha a alternativa correta sobre os tipos básicos de inserção dentária em répteis.

A) Acrodonte é a inserção superficial mineralizada nos ossos mandibular e maxilar, estando presente em todos os anfisbênios e lagartos.

B) Pleurodonte é o tipo mais comum em lagartos e serpentes, sendo raramente substituído uma vez atingido certo estágio de desenvolvimento.

C) Tecodonte é a inserção em projeção alveolar completa nos ossos mandibular e maxilar, presente nos crocodilianos.

D) Acrodonte possui substituição permanente e constante em alguns anfisbênios e lagartos.

Confira aqui a resposta

Resposta incorreta. A alternativa correta é a "C".


Acrodonte é a inserção superficial mineralizada nos ossos mandibular e maxilar. Presente em alguns anfisbênios e lagartos (famílias Agamidae e Chamaeleonidae), sendo raramente substituídos uma vez atingido certo estágio de desenvolvimento. Pleurodonte é a inserção em projeção alveolar lateral (incompleta) nos ossos mandibular e maxilar. Tipo mais comum em lagartos e serpentes, possuindo substituição permanente e constante. Tecodonte é a inserção em projeção alveolar completa nos ossos mandibular e maxilar, presente nos crocodilianos.

Resposta correta.


Acrodonte é a inserção superficial mineralizada nos ossos mandibular e maxilar. Presente em alguns anfisbênios e lagartos (famílias Agamidae e Chamaeleonidae), sendo raramente substituídos uma vez atingido certo estágio de desenvolvimento. Pleurodonte é a inserção em projeção alveolar lateral (incompleta) nos ossos mandibular e maxilar. Tipo mais comum em lagartos e serpentes, possuindo substituição permanente e constante. Tecodonte é a inserção em projeção alveolar completa nos ossos mandibular e maxilar, presente nos crocodilianos.

A alternativa correta é a "C".


Acrodonte é a inserção superficial mineralizada nos ossos mandibular e maxilar. Presente em alguns anfisbênios e lagartos (famílias Agamidae e Chamaeleonidae), sendo raramente substituídos uma vez atingido certo estágio de desenvolvimento. Pleurodonte é a inserção em projeção alveolar lateral (incompleta) nos ossos mandibular e maxilar. Tipo mais comum em lagartos e serpentes, possuindo substituição permanente e constante. Tecodonte é a inserção em projeção alveolar completa nos ossos mandibular e maxilar, presente nos crocodilianos.

5. Uma dentição na qual não há presas especializadas na inoculação de peçonha é denominada

A) áglifa.

B) opistóglifa.

C) proteróglifa.

D) solenóglifa.

Confira aqui a resposta

Resposta incorreta. A alternativa correta é a "A".


Áglifa é a dentição na qual não há presas especializadas na inoculação de peçonha. Alguns exemplos de serpentes não peçonhentas que possuem esse tipo de dentição: surucucu-do-pantanal (Hydrodynastes gigas), caninana (Spilotes pulatus), jiboia (Boa constrictor), sucuri (Eunectes sp), píton (Phyton sp), cobra-dos-milharais (Elaphe gutata).

Resposta correta.


Áglifa é a dentição na qual não há presas especializadas na inoculação de peçonha. Alguns exemplos de serpentes não peçonhentas que possuem esse tipo de dentição: surucucu-do-pantanal (Hydrodynastes gigas), caninana (Spilotes pulatus), jiboia (Boa constrictor), sucuri (Eunectes sp), píton (Phyton sp), cobra-dos-milharais (Elaphe gutata).

A alternativa correta é a "A".


Áglifa é a dentição na qual não há presas especializadas na inoculação de peçonha. Alguns exemplos de serpentes não peçonhentas que possuem esse tipo de dentição: surucucu-do-pantanal (Hydrodynastes gigas), caninana (Spilotes pulatus), jiboia (Boa constrictor), sucuri (Eunectes sp), píton (Phyton sp), cobra-dos-milharais (Elaphe gutata).

6. Analise as afirmativas sobre as estomatites em répteis.

I. A estomatite é muito comum em répteis.

II. A estomatite não tem relação com o estresse do animal.

III. Quelônios que hibernam apresentam frequentemente estomatite bacteriana.

IV. A maioria das infecções fúngicas em lagartos e serpentes é atribuída a fungos do solo.

Qual(is) está(ão) correta(s)?

A) Apenas a I.

B) Apenas a I e a IV.

C) Apenas a II e a III.

D) A I, a II, a III e a IV.

Confira aqui a resposta

Resposta incorreta. A alternativa correta é a "B".


Estomatites e DTAS referem-se a várias condições patológicas da cavidade oral, faringe ou esôfago. A estomatite é muito comum em répteis, caracterizada pela inflamação da mucosa, pode incluir gengivite, glossite, palatite e queilite. Infecções bacterianas, fúngicas e virais são conhecidas por causar estomatite. O grupo de maior prevalência da estomatite bacteriana é o das serpentes (Ophidia), porém essas lesões também são vistas em iguanas e quelônios com menor frequência. Como relatado, estomatite bacteriana em quelônios pode estar associada ao período de hibernação.

Resposta correta.


Estomatites e DTAS referem-se a várias condições patológicas da cavidade oral, faringe ou esôfago. A estomatite é muito comum em répteis, caracterizada pela inflamação da mucosa, pode incluir gengivite, glossite, palatite e queilite. Infecções bacterianas, fúngicas e virais são conhecidas por causar estomatite. O grupo de maior prevalência da estomatite bacteriana é o das serpentes (Ophidia), porém essas lesões também são vistas em iguanas e quelônios com menor frequência. Como relatado, estomatite bacteriana em quelônios pode estar associada ao período de hibernação.

A alternativa correta é a "B".


Estomatites e DTAS referem-se a várias condições patológicas da cavidade oral, faringe ou esôfago. A estomatite é muito comum em répteis, caracterizada pela inflamação da mucosa, pode incluir gengivite, glossite, palatite e queilite. Infecções bacterianas, fúngicas e virais são conhecidas por causar estomatite. O grupo de maior prevalência da estomatite bacteriana é o das serpentes (Ophidia), porém essas lesões também são vistas em iguanas e quelônios com menor frequência. Como relatado, estomatite bacteriana em quelônios pode estar associada ao período de hibernação.

7. Sobre a hipovitaminose A, é correto afirmar que

A) as serpentes são as que mais sofrem com erros de manejo em cativeiro.

B) é mais frequente em espécies terrestres (jabutis) do que em aquáticas (cágados).

C) os animais acometidos pela doença não apresentam sinais clínicos, exceto letargia.

D) entre as indicações de tratamento está a correção dietética.

Confira aqui a resposta

Resposta incorreta. A alternativa correta é a "D".


Os testudines são aqueles que mais sofrem com os erros de manejo em cativeiro, no que diz respeito à manutenção da homeostasia (temperatura, luminosidade e umidades) e dieta. Por consequência, são os mais acometidos por hipovitaminose A, sendo mais frequentes em espécies aquáticas (cágados) do que em terrestres (jabutis). Sinais clínicos da enfermidade se manifestam como metaplasia escamosa, conjuntivite, blefarite, aumento de volume na região aural da cabeça, edema palpebral, dispneia, corrimento oro-nasal e hipercrescimento córneo do bico. Outros sinais clínicos comumente encontrados são letargia e anorexia.

Resposta correta.


Os testudines são aqueles que mais sofrem com os erros de manejo em cativeiro, no que diz respeito à manutenção da homeostasia (temperatura, luminosidade e umidades) e dieta. Por consequência, são os mais acometidos por hipovitaminose A, sendo mais frequentes em espécies aquáticas (cágados) do que em terrestres (jabutis). Sinais clínicos da enfermidade se manifestam como metaplasia escamosa, conjuntivite, blefarite, aumento de volume na região aural da cabeça, edema palpebral, dispneia, corrimento oro-nasal e hipercrescimento córneo do bico. Outros sinais clínicos comumente encontrados são letargia e anorexia.

A alternativa correta é a "D".


Os testudines são aqueles que mais sofrem com os erros de manejo em cativeiro, no que diz respeito à manutenção da homeostasia (temperatura, luminosidade e umidades) e dieta. Por consequência, são os mais acometidos por hipovitaminose A, sendo mais frequentes em espécies aquáticas (cágados) do que em terrestres (jabutis). Sinais clínicos da enfermidade se manifestam como metaplasia escamosa, conjuntivite, blefarite, aumento de volume na região aural da cabeça, edema palpebral, dispneia, corrimento oro-nasal e hipercrescimento córneo do bico. Outros sinais clínicos comumente encontrados são letargia e anorexia.

Afecções orais e correções de bico em aves

A seguir, serão apresentadas a anatomia e a função do bico, bem como as principais enfermidades orais.

Anatomia e função do bico

O bico é uma estrutura dinâmica em crescimento constante, constituída pelos ossos pré-maxilar e nasal (superior) e mandibular (inferior), cobertos por bainhas epidérmicas queratinizadas, denominadas de ranfotecas. A porção superior da ranfoteca é denominada rinoteca e a porção inferior denominada gnatoteca.11,12 Outras estruturas também compõem o bico, como feixes vásculo-nervosos, articulações e bainhas germinativas.12

O epitélio do bico é constituído, ainda, por hidróxiapatita, cálcio e fosfato, que conferem dureza à estrutura. A vascularização da derme é delicada e encontra-se entre o periósteo e o estrato córneo queratinizado.4,12A mucosa da cavidade oral e da língua das aves é recoberta por epitélio escamoso estratificado e o grau de queratinização varia de acordo com a localização do epitélio na cavidade oral e com a espécie animal.4

A consistência da ranfoteca varia entre as espécies. É firme em Psitaciformes (papagaios, periquitos e araras) e macia e flexível em Anseriformes (gansos).12 O crescimento da queratina do bico ocorre sempre que houver uma camada germinativa subjacente (aderida ao periósteo), mas as linhas de crescimento inclinam-se no sentido da ponta do bico.13

O tempo de reposição de queratina da ranfoteca está intimamente ligado ao uso do bico. Em grandes psitacídeos, a substituição completa da ranfoteca ocorre em aproximadamente seis meses, enquanto nos ranfastídeos há uma taxa de crescimento aproximada de 0,25cm ao ano. Normalmente, a queratina da gnatoteca é substituída de duas a três vezes mais rápido do que a rinoteca.13

A cavidade oral e a faringe combinam-se nas aves para formar a orofaringe, que se comunica com os seios nasais por meio da fissura mediana no palato, chamada de coana. Existem várias papilas caudalmente orientadas, associadas à coana. A orofaringe é recoberta por um epitélio escamoso estratificado, queratinizado nas áreas sujeitas à abrasão. A glote localiza-se diretamente atrás da língua e as aves não apresentam epiglote.12

A língua dos psitaciformes é muscular e rombuda. A maioria dos Passeriformes (passarinhos) apresenta uma língua estreita e triangular, sendo que a cor varia do branco ao preto, dependendo da espécie. Existem várias glândulas salivares secretoras de muco no revestimento orofaringeano. Essas glândulas podem sofrer metaplasia escamosa quando há deficiência de vitamina A, levando a cistos preenchidos com queratina e resíduos, que podem se tornar foco de infecção.

A ranfoteca possui variadas funções em diferentes espécies de aves, como preensão de alimento, preparo do alimento para a deglutição, defesa e ataque, interação social e sexual, locomoção, construção de ninhos e termorregulação corpórea.12,14

Principais enfermidades orais

As anormalidades do bico podem ocorrer como resultado de má nutrição, incubação inapropriada, infecções viral, bacteriana, fúngica e parasitária, além de traumatismos.

A etiologia da alteração em ranfoteca pode comprometer o quadro clínico geral da ave e, portanto, deve ser estabelecida de forma precoce.

Este capítulo não abordará as afecções clínicas com manifestação geral. O diagnóstico diferencial para cada afecção é exposto, resumidamente, a seguir:

  • causas infecciosas:
    • bacterianas: gram-negativos e gram-positivos;
    • virais: poliomavirose, poxvirose;
    • fúngicas: Aspergillus, Candida (membranas brancas aveludadas na cavidade oral);
    • parasitárias: Knemidokoptes (crescimento excessivo do bico), Trichomonas (placas caseosas amareladas na cavidade oral, língua, faringe, esôfago, inglúvio e cloaca), Syngamus (visualização direta dos parasitos na cavidade oral);
  • causas metabólicas: hepatopatia (devido à lipidose, micotoxicose e hemocromatose);
  • causas nutricionais: deficiências de vitaminas A e D, cálcio, desequilíbrio cálcio/fósforo (deficiências comuns em aves de rapina alimentadas apenas com pintinhos de 1 dia, carne ou filhotes de roedores);
  • causas tóxicas: tricotecenos;
  • causas físicas: falta de desgaste natural;
  • causas alérgicas: fumaça de tabaco;
  • neoplasias;
  • causas desenvolvimentares: prognatismo, bico em tesoura.

Crescimento excessivo e deformidades do bico

O crescimento excessivo do bico é, normalmente, causado por deformidades congênitas, deficiências nutricionais ou infecciosas. As deficiências nutricionais parecem ser a causa mais prevalente das deformidades de bico e ocorrem devido a dietas com deficiência de cálcio, vitaminas D e A.12

A deficiência de vitamina D e cálcio interfere na mineralização óssea da ranfoteca e forma o chamado bico de borracha. Nesses casos, as lesões são irreversíveis e o animal necessitará de correções oclusais por toda a vida. Nos casos de deficiência de vitamina A, as deformidades do bico ocorrem em consequência à hiperqueratose e normalmente estão associadas à formação de abscessos. Além disso, também é observado o crescimento excessivo do bico nos casos de dietas em que a textura dos itens alimentares é insuficiente, não havendo desgaste satisfatório do bico por contra-abrasão.12

O tratamento consiste na correção da causa primária, adequação da dieta (textura e valores nutricionais) e correção da oclusão. As técnicas de correções ortognáticas, descritas por Fecchio e Gioso,12 envolvem desgastes, cortes e aplainamentos de bico com o uso de instrumentais odontológicos; bem como uso de aparatos de correção ortognática (Figuras 10A–C).

FIGURA 10: A–C) Uso da técnica de plano inclinado para correção ortognática de desvio de rinoteca em Ararajuba. // Fonte: Arquivo de imagens dos autores.

Traumatismos e fraturas

As lesões decorrentes de traumatismos são as mais prevalentes das lesões de bico e variam de acordo com a intensidade do trauma. As fendas e as fissuras são decorrentes de traumas leves e normalmente são tratadas por meio de antissepsia local e recobertas com resina acrílica, de forma a evitar infecções.12,15

As fraturas de rinoteca e gnatoteca são decorrentes de traumas intensos devido a disputas entre indivíduos, agressões intra e interespecíficas, e choques mecânicos contra objetos do recinto (principalmente em animais recém introduzidos no cativeiro).12,15

O tratamento emergencial para as fraturas consiste em controlar a hemorragia, debridar a ferida de forma a remover sujidades e restos celulares, além de mantê-la limpa e seca para a realização de tratamento específico. Aves que sofrem comprometimento da função de preensão de alimentos devem ser adaptadas a ingerir alimentos pastosos ou mesmo líquido.12,15

Muitas fraturas necessitam de fixação e estabilização, de forma a reposicionar corretamente os fragmentos; e promover imediato retorno do bico à sua função. Fraturas horizontais sobre o eixo nasomaxilar apresentam maior complicação no reparo, necessitando de um maior tempo de procedimento e prognóstico reservado.

As fraturas completas de rinoteca são de extrema dificuldade de reparo, necessitando de próteses complexas (Figuras 11A e B) e com relativa chance de insucessos nos tratamentos. A literatura contempla, detalhadamente, as técnicas cirúrgicas mais empregadas.

FIGURA 11: A e B) Inserção de prótese metálica (cobre-alumínio) de rinoteca em ganso. // Fonte: Arquivo de imagens dos autores.

Materiais biológicos são combinações complexas, hierarquicamente estruturados e multifuncionais. As propriedades mecânicas desses materiais são excelentes, considerando os frágeis componentes dos quais são constituídos e, consequentemente, obter próteses que congreguem todas essas características é de extrema dificuldade.

De acordo com a origem, as próteses podem ser classificadas de forma análoga aos enxertos da seguinte forma:

  • próteses autógenas: provém do mesmo indivíduo, quando há a recuperação do remanescente perdido;
  • próteses homólogas ou alógenas: provém de outro indivíduo da mesma espécie (cadáver);
  • prótese heteróloga ou xenógena: provém de indivíduo de espécie distinta (cadáver);
  • prótese sintética: confeccionada com material inorgânico;
  • prótese 3D: uso de modelagem digital 3D para planejamento e manufatura aditiva (impressão 3D) para confecção da prótese (Figura 12);
  • mista: associação de dois ou mais tipos de próteses.

FIGURA 12: Prótese 3D em titânio para reconstrução de rinoteca em arara canindé. // Fonte: Arquivo de imagens dos autores.

ATIVIDADES

8. O bico é coberto por bainhas epidérmicas queratinizadas, denominadas de

A) gnatoteca.

B) rinoteca.

C) ranfotecas.

D) bainhas germinativas.

Confira aqui a resposta

Resposta incorreta. A alternativa correta é a "C".


O bico é uma estrutura dinâmica em crescimento constante, constituída pelos ossos pré-maxilar e nasal (superior) e mandibular (inferior), cobertos por bainhas epidérmicas queratinizadas, denominadas de ranfotecas. A porção superior da ranfoteca é denominada rinoteca e a porção inferior denominada gnatoteca. Outras estruturas também compõem o bico, como feixes vásculo-nervosos, articulações e bainhas germinativas.

Resposta correta.


O bico é uma estrutura dinâmica em crescimento constante, constituída pelos ossos pré-maxilar e nasal (superior) e mandibular (inferior), cobertos por bainhas epidérmicas queratinizadas, denominadas de ranfotecas. A porção superior da ranfoteca é denominada rinoteca e a porção inferior denominada gnatoteca. Outras estruturas também compõem o bico, como feixes vásculo-nervosos, articulações e bainhas germinativas.

A alternativa correta é a "C".


O bico é uma estrutura dinâmica em crescimento constante, constituída pelos ossos pré-maxilar e nasal (superior) e mandibular (inferior), cobertos por bainhas epidérmicas queratinizadas, denominadas de ranfotecas. A porção superior da ranfoteca é denominada rinoteca e a porção inferior denominada gnatoteca. Outras estruturas também compõem o bico, como feixes vásculo-nervosos, articulações e bainhas germinativas.

9. Analise as afirmações sobre a anatomia e função do bico.

I. A vascularização da derme é delicada e encontra-se entre o periósteo e o estrato córneo queratinizado.

II. A consistência da ranfoteca é invariável entre as espécies.

III. O tempo de reposição de queratina da ranfoteca está intimamente ligado à espécie.

IV. A queratina da gnatoteca e da rinoteca são substituídas com a mesma velocidade.

Qual(is) está(ão) correta(s)?

A) Apenas a I.

B) Apenas a I e a IV.

C) Apenas a II e a III.

D) A I, a II, a III e a IV.

Confira aqui a resposta

Resposta incorreta. A alternativa correta é a "A".


A consistência da ranfoteca é varia entre as espécies. É firme em Psitaciformes (papagaios, periquitos e araras) e macia e flexível em Anseriformes (gansos). O crescimento da queratina do bico ocorre sempre que houver uma camada germinativa subjacente (aderida ao periósteo), mas as linhas de crescimento inclinam-se no sentido da ponta do bico. O tempo de reposição de queratina da ranfoteca está intimamente ligado ao uso do bico. Em grandes psitacídeos, a substituição completa da ranfoteca ocorre em aproximadamente seis meses, enquanto nos ranfastídeos há uma taxa de crescimento aproximada de 0,25cm ao ano. Normalmente, a queratina da gnatoteca é substituída de duas a três vezes mais rápido do que a rinoteca.

Resposta correta.


A consistência da ranfoteca é varia entre as espécies. É firme em Psitaciformes (papagaios, periquitos e araras) e macia e flexível em Anseriformes (gansos). O crescimento da queratina do bico ocorre sempre que houver uma camada germinativa subjacente (aderida ao periósteo), mas as linhas de crescimento inclinam-se no sentido da ponta do bico. O tempo de reposição de queratina da ranfoteca está intimamente ligado ao uso do bico. Em grandes psitacídeos, a substituição completa da ranfoteca ocorre em aproximadamente seis meses, enquanto nos ranfastídeos há uma taxa de crescimento aproximada de 0,25cm ao ano. Normalmente, a queratina da gnatoteca é substituída de duas a três vezes mais rápido do que a rinoteca.

A alternativa correta é a "A".


A consistência da ranfoteca é varia entre as espécies. É firme em Psitaciformes (papagaios, periquitos e araras) e macia e flexível em Anseriformes (gansos). O crescimento da queratina do bico ocorre sempre que houver uma camada germinativa subjacente (aderida ao periósteo), mas as linhas de crescimento inclinam-se no sentido da ponta do bico. O tempo de reposição de queratina da ranfoteca está intimamente ligado ao uso do bico. Em grandes psitacídeos, a substituição completa da ranfoteca ocorre em aproximadamente seis meses, enquanto nos ranfastídeos há uma taxa de crescimento aproximada de 0,25cm ao ano. Normalmente, a queratina da gnatoteca é substituída de duas a três vezes mais rápido do que a rinoteca.

10. Escolha a alternativa correta em relação ao crescimento excessivo e deformidades do bico.

A) O crescimento excessivo do bico é, principalmente, causado por deformidades congênitas.

B) As deficiências nutricionais são causas secundárias das deformidades de bico.

C) A deficiência de vitamina D e cálcio interfere na mineralização óssea da ranfoteca e forma o chamado bico de borracha.

D) Nos casos de deficiência de vitamina A, as deformidades do bico ocorrem em consequência à hiperqueratose e raramente estão associadas à formação de abscessos.

Confira aqui a resposta

Resposta incorreta. A alternativa correta é a "C".


O crescimento excessivo do bico é, normalmente, causado por deformidades congênitas, deficiências nutricionais ou infecciosas. As deficiências nutricionais parecem ser a causa mais prevalente das deformidades de bico e ocorrem devido a dietas com deficiência de cálcio, vitaminas D e A. Nos casos de deficiência de vitamina A, as deformidades do bico ocorrem em consequência à hiperqueratose e normalmente estão associadas à formação de abscessos. Além disso, também é observado o crescimento excessivo do bico nos casos de dietas em que a textura dos itens alimentares é insuficiente, não havendo desgaste satisfatório do bico por contra-abrasão.

Resposta correta.


O crescimento excessivo do bico é, normalmente, causado por deformidades congênitas, deficiências nutricionais ou infecciosas. As deficiências nutricionais parecem ser a causa mais prevalente das deformidades de bico e ocorrem devido a dietas com deficiência de cálcio, vitaminas D e A. Nos casos de deficiência de vitamina A, as deformidades do bico ocorrem em consequência à hiperqueratose e normalmente estão associadas à formação de abscessos. Além disso, também é observado o crescimento excessivo do bico nos casos de dietas em que a textura dos itens alimentares é insuficiente, não havendo desgaste satisfatório do bico por contra-abrasão.

A alternativa correta é a "C".


O crescimento excessivo do bico é, normalmente, causado por deformidades congênitas, deficiências nutricionais ou infecciosas. As deficiências nutricionais parecem ser a causa mais prevalente das deformidades de bico e ocorrem devido a dietas com deficiência de cálcio, vitaminas D e A. Nos casos de deficiência de vitamina A, as deformidades do bico ocorrem em consequência à hiperqueratose e normalmente estão associadas à formação de abscessos. Além disso, também é observado o crescimento excessivo do bico nos casos de dietas em que a textura dos itens alimentares é insuficiente, não havendo desgaste satisfatório do bico por contra-abrasão.

11. Fraturas de bico com perda de tecido ósseo muitas vezes necessitam da utilização de prótese para correção de forma a permitir oclusão e consequente alimentação adequada. Com relação à utilização de próteses em aves, qual a alternativa correta?

A) A prótese mais adequada é aquela que consegue possuir o tamanho adequada para a espécie, de acordo com a anatomia normal e que permita uma oclusão adequada, independente do material utilizado.

B) Para a confecção de uma prótese de bico adequada é importante conhecer a anatomia normal e a forma de utilização do bico pela espécie em questão, a escolha do material correto é fundamental para o sucesso da prótese.

C) Quando há trauma com destruição da estrutura do bico, a prótese mais adequada é a autógena, pois tem menor possibilidade de rejeição.

D) Se a prótese é construída a partir de um modelo 3D do próprio indivíduo, utilizando-se de estudo morfofisiológico e respeitando a biomecânica da espécie com material adequado, provavelmente ela será definitiva, sem nunca ter a necessidade de ser substituída.

Confira aqui a resposta

Resposta incorreta. A alternativa correta é a "B".


Próteses devem ser desenvolvidas a partir de estudo morfofisiológico, conhecimento da biomecânica e com material adequado para a espécie. O planejamento cirúrgico mais adequado envolve reconstrução 3D e sempre tem a necessidade de ser trocada periodicamente devido ao crescimento constante do resto de queratina do bico. Quando há perda do bico do próprio animal, a prótese autógena não pode ser utilizada, uma vez que necessita do material do próprio animal para sua confecção.

Resposta correta.


Próteses devem ser desenvolvidas a partir de estudo morfofisiológico, conhecimento da biomecânica e com material adequado para a espécie. O planejamento cirúrgico mais adequado envolve reconstrução 3D e sempre tem a necessidade de ser trocada periodicamente devido ao crescimento constante do resto de queratina do bico. Quando há perda do bico do próprio animal, a prótese autógena não pode ser utilizada, uma vez que necessita do material do próprio animal para sua confecção.

A alternativa correta é a "B".


Próteses devem ser desenvolvidas a partir de estudo morfofisiológico, conhecimento da biomecânica e com material adequado para a espécie. O planejamento cirúrgico mais adequado envolve reconstrução 3D e sempre tem a necessidade de ser trocada periodicamente devido ao crescimento constante do resto de queratina do bico. Quando há perda do bico do próprio animal, a prótese autógena não pode ser utilizada, uma vez que necessita do material do próprio animal para sua confecção.

Odontologia de pequenos mamíferos (lagomorfos e roedores)

Os principais mamíferos na rotina de atendimento de pets não convencionais são os lagomorfos (coelhos) e os roedores, esses classificados como caviomorfos (porquinhos-da-Índia e chinchillas) e miomorfos (twisters, camundongos, gerbils, hamster sírio, hamster anão-russo). Nesse capítulo, serão abordadas as principais alterações relacionadas à cavidade oral e aos dentes, bem como seus diagnósticos e tratamentos nas espécies de lagomorfos e roedores de maior ocorrência na rotina.

Algumas classificações são de fundamental importância para que se compreenda a morfofisiologia e a fisiopatogenia das principais alterações relacionadas à cavidade oral e aos dentes.16-18 A saber:

  • anelodontes: animais, cujos dentes possuem crescimento limitado e clara linha divisória entre a coroa e a raiz (junção amelo-cementária). Esses dentes, obrigatoriamente, passam pelos processos de rizo e apicogênese, cujo ápice dental comprime-se após completo desenvolvimento longitudinal do dente, porém mantém o aporte vásculo-nervoso por meio de um forame ou diversas foraminas dispostas em delta. Esse grupo pode ser dividido em hipsodonte e braquiodonte, descritos a seguir. Entre os anelodontes estão os carnívoros, primatas e alguns herbívoros;
  • elodontes: dentes com crescimento contínuo ao longo da vida. Esses dentes não passam pelos processos de rizo e apicogênese e, dessa forma, não há formação de raiz. Assim, a porção coronal extra-alveolar é denominada coroa clínica e a porção intra-alveolar é denominada coroa de reserva. São exemplos de elodontes: roedores e lagomorfos (coelhos) e marfins dos elefantes (incisivos);
  • hipsodontes: classificação empregada exclusivamente aos anelodontes, cujo comprimento longitudinal da coroa é maior que o da raiz. Anatomicamente, observa-se coroa clínica (extra-alveolar), coroa de reserva (intra-alveolar) e raiz. Esses dentes erupcionam ao longo da vida, havendo desgaste progressivo das coroas clínica e de reserva, bem como limites fisiológicos desse processo após anos de vida do animal. São exemplos pertencentes a essa categoria, os equídeos (zebras, cavalos) e camelídeos (camelo, dromedário, lhamas e alpacas);
  • braquiodontes: classificação empregada exclusivamente aos anelodontes, cujo comprimento longitudinal da coroa é menor que o da raiz; e a porção radicular encontra-se no interior do alvéolo dental. As famílias Felidae, Canidae, Ursidae e os Primatas estão incluídos nesse grupo.

Morfofisiologia: cavidade oral e dentes

A seguir, será apresentada a morfofisiologia de lagomorfos e de roedores.

Lagomorfos

A cavidade oral dos lagomorfos é estreita e longa, tendo acesso restrito pela limitada abertura labial e mandibular. Na porção rostral, encontram-se seis dentes incisivos, sendo dois mandibulares e quatro maxilares. Esses incisivos maxilares estão dispostos em dois pares de dentes, arranjados em duas fileiras, sendo que o primeiro par de incisivos, maiores em tamanho e com a coroa em forma de bisel, ficam rostrais ao segundo par de incisivos, que são bem menores e com a coroa clínica de formato mais arredondado.16-19

A característica de duas fileiras de dentes incisivos maxilares é chamada de duplicidentata e é a principal característica que diferencia a dentição entre lagomorfos e roedores.16-19

Os lagomorfos são heterodontes, tendo dentes de formato e funções diferentes, classificados em incisivos, pré-molares e molares; sendo os dentes caninos ausentes nessa ordem. Do ponto de vista mastigatório, são apenas diferenciados em dentes anteriores (incisivos) e dentes posteriores (pré-molares e molares), que são separados por um segmento desprovido de dentes, designado diastema.16-19

Ao contrário dos roedores, os lagomorfos têm dentição decídua e definitiva, designada como difiodonte. A dentição decídua está presente na vida intrauterina e a erupção dos dentes definitivos decorre ao longo das primeiras semanas de vida. Os dentes dos coelhos são classificados como elodontes, pois apresentam crescimento contínuo. Possuem longas coroas anatômicas, divididas em coroa clínica (supra gengival) e coroa de reserva (subgengival), sendo as raízes ausentes e a porção final do dente composta por tecido germinativo.16-19

O tecido germinativo é composto por células tronco, indiferenciadas e especializadas, responsáveis pela produção das estruturas dentárias ao longo da vida.16-19 Os termos hipsodontes arradiculares e hipsoelodontes ainda são empregados em literatura, porém em desuso conceitual. A ausência dos processos odontogênicos de rizogênese (formação da raiz) e apicogênese (formação do ápice), tornam incorreto o uso dos termos radicular e apical para a referida espécie.16

Os dentes incisivos podem crescer cerca de 2 a 3mm por semana enquanto os dentes posteriores crescem menos, cerca de 2 a 3mm por mês. A taxa de crescimento e de erupção dos dentes maxilares é menor do que os dentes mandibulares.20 Na posição de descanso, os incisivos mandibulares ocluem entre as duas fileiras de incisivos maxilares. O primeiro par de dentes incisivos maxilares e os dentes incisivos mandibulares têm maior espessura da camada de esmalte, não pigmentado, na face vestibular, que confere maior resistência ao desgaste.16-19

Devido à distribuição assimétrica do esmalte, a superfície distal (ou palatina/lingual) dos incisivos desgasta-se mais depressa, dando a forma de bisel à sua superfície de oclusão. Os coelhos podem também protruir a mandíbula de modo que os incisivos maxilares desgastem a face lingual dos incisivos mandibulares mantendo o formato em bisel dos incisivos mandibulares.16-19

O par principal de dentes incisivos maxilares e os mandibulares têm cavidade pulpar única visível radiograficamente que se estende em direção alveolar pela coroa de reserva, que pode ser exposta por fraturas, quando da realização de redução de coroa clínica nos tratamentos odontológicos ou corte da coroa clínica com alicates realizada por profissionais não habilitados. Essa cavidade pulpar é ampla na região apical e vai sofrendo estreitamento na direção coronal.16-19

Distalmente aos dentes incisivos, existe um grande diastema, onde não existem dentes caninos. Em direção caudal a ele, encontram-se os dentes chamados genericamente de dentes posteriores ou dentes molariformes, sendo três dentes pré-molares na maxila (2º, 3º e 4º pré-molares) e dois na mandíbula (3º e 4º pré-molares) de cada lado seguidos de três dentes molares na maxila (1º, 2º e 3º molares) e três na mandíbula (1º, 2º e 3º molares) de cada lado.16-19

Ainda sobre o mesmo tema, a diferença entre o número de molariformes mandibulares e maxilares faz com que cada dente oclua com dois dentes da arcada oposta, excetuando o primeiro e o último molariforme maxilar. O plano de oclusão visto lateralmente tem um perfil em zigue-zague, devido à presença de cristas transversais.16-19

A fórmula dentária dos coelhos é representada da seguinte forma: 2x (I2/1, C0/0, PM3/2, M3/3) = 28. 16-19

Roedores

Os roedores estão subdivididos em três subordens:21

 

  • Hystricomorpha ou Caviomorfos: assemelham-se a porquinhos-da-Índia, como chinchilas, capivara, ouriço cacheiro e degus;
  • Sciuromorpha ou sciuromorfos: assemelham-se a esquilos — onde são agrupadas precisamente todas as espécies de esquilos e o cão da pradaria (Cynomys ludovicanus);
  • Myomorpha ou miomorfos: assemelham-se a ratos — onde se encontram camundongos, ratos, hamsters e gerbils.

Os caviomorfos, também chamados de roedores herbívoros, são encontrados principalmente na América do Sul, dos quais, três espécies são domesticadas e comumente encontradas na rotina clínica; porquinhos-da-Índia, chinchilas e degus (sem casuística no Brasil).17

Todos os caviomorfos aqui abordados possuem a mesma fórmula dentária: 2x (I 1/1, C 0/0, P 1/1, M 3/3) = 20.17,21

Os caviomorfos possuem todos os dentes com crescimento constante por toda a vida, chamados elodontes, não passam pelos processos de rizogênese (formação da raiz) e apicogênese (formação do ápice), mantendo a extremidade alveolar aberta, com células germinativas que produzem tecidos dentários (esmalte, dentina e cemento) por toda a vida.17,21

As coroas clínicas são curtas, as coroas de reserva longas e não possuem estrutura radicular verdadeira. Os dentes pré-molares e molares dos porquinhos-da-Índia são diferentes de outras espécies de roedores caviomorfos, pois suas coroas de reserva são curvas, tendo convexidade vestibular nos dentes mandibulares e convexidade palatina nos dentes. Tais curvaturas criam ângulo oclusal de 30º de dorso-vestibular para ventrolingual.17,21

Os caviomorfos também são monofiodontes (não possuem troca dentária), possuem incisivos grandes, curvos e com ponta de bisel (devido ao fato de que o esmalte é mais espesso na face labial, afinando nas faces mesial e distal em direção à face lingual, onde está ausente). O esmalte é branco em porquinhos-da-Índia e amarelo/laranja em chinchilas e degus. A coloração se deve à presença de pigmentos a base de ferro na camada superficial de esmalte. São pastadores, utilizam os incisivos para cortar relva e feno. Para compensar o desgaste diário, os incisivos crescem de 1,1 a 1,3mm semanalmente em chinchila; e de 1,9 a 2,4mm semanalmente em cobaias. 17,21

Todos os roedores miomorfos são elodontes anteriores e anelodontes posteriores e possuem, na maioria das espécies, a fórmula dentária: 2 x (I 1/1, C 0/0, PM 0/0, M 3/3 = 16).17,21

A característica anatômica mais importante de todos os roedores miomorfos é possuir um par de incisivos maxilares e mandibulares, ambos de crescimento contínuo (elodontes). Apenas a parte anterior desses incisivos é coberta por esmalte e alaranjada (depósito de pigmentos de ferro — hemossiderina), enquanto a superfície lingual (posterior) é composta por dentina sem pigmentos. Além disso, esses dentes possuem a extremidade da coroa clínica em forma de bizel (ou cinzel), que é gerada pela distribuição desigual do esmalte e dentina, havendo mais desgaste da face lingual do que da face labial.

A razão normal do comprimento da coroa clínica entre incisivos superiores e inferiores é de 1:3 em roedores miomorfos, com crescimento médio de 65mm por ano. Os molares (ou dentes posteriores) são anelodontes (crescimento limitado) e braquiodontes (coroa menor que a raiz), fato que contribui para menor prevalência de alterações dentárias, quando comparado com roedores caviomorfos.17,21

Várias espécies de roedores, como hamsters e esquilos, possuem estruturas orais entre as mandíbulas e a bochecha, representando uma importante característica anatômica: as bolsas jugais (bolsas da bochecha). As bolsas das bochechas são pares de evaginações da cavidade oral, altamente vascularizadas e de paredes finas. Elas têm como função permitirem a rápida coleta e transporte de alimentos.

Diagnóstico das afecções orais em lagomorfos e caviomorfos

Os sinais clínicos odontológicos tendem a ser inespecíficos, sendo os mais comuns: histórico de hiporexia ou anorexia, perda de peso, redução da atividade, letargia e seletividade alimentar. Ptialismo e umidade dos pelos ao redor do rosto e pescoço também são vistos. Na anamnese, é importante questionar ao responsável sobre nutrição, hábitos, história médica e cirúrgica anterior e tratamento dentário anterior, se houver.17,21

Os primeiros sintomas de desconforto oral incluem preensão difícil de alimentos, queda de partículas de alimentos da boca, mastigação difícil e disfagia enquanto o paciente ainda está interessado em comida. Os animais que sofrem de doença oral terão diminuição da ingestão de alimentos e, portanto, apresentam redução do tamanho das fezes. Em casos graves, haverá debilidade e até a evolução para o óbito.17,21

O exame clínico deve incluir a verificação de desidratação, ptialismo, pelos umedecidos, inchaço facial, secreção ora, nasal ou ocular. Mesas especiais para odontologia, afastadores de incisivos e afastadores de bochecha permitem a inspeção da cavidade oral com o animal sob anestesia (Figura 13). O exame visual pode ser aprimorado com o uso de videoscópios, otoscópios ou um espéculo vaginal.

FIGURA 13: Coelho sob anestesia geral para avaliação da cavidade oral com uso de afastador de bochechas, posicionado em mesa especial para odontologia de roedores e lagomorfos. // Fonte: Arquivo de imagens dos autores.

Radiografias de crânio são fundamentais como complementares ao exame clínico, permitindo a avaliação detalhada dos dentes, periodonto, articulações temporomandibulares (ATMs) e oclusão. Casos crônicos e graves podem exigir a realização de tomografia computadorizada (TC). Biópsia e culturas podem complementar os exames clínicos e de imagem, nas suspeitas de neoplasias e abscessos.17,21

Principais afecções orais

Os problemas odontológicos são as principais alterações de coelhos e de roedores atendidos em clínicas veterinárias, com prevalência que pode chegar a 70%.17 Sabe-se que fatores genéticos podem influenciar na ocorrência de afecções orais, entretanto, os distúrbios adquiridos são mais frequentes na rotina clínica. As principais afecções dentárias e orais das referidas espécies serão descritas a seguir e, suas causas podem variar desde lesões traumáticas, erros de manejo ou alterações genéticas.

É fundamental definir o diagnóstico correto antes que seja iniciado qualquer protocolo de tratamento.

Entre os principais fatores predisponentes para doenças dentárias está a deficiência de vitamina C (escorbuto) em porquinhos-da-Índia, que causa formação de dentina irregular e artropatias graves. O escorbuto também predispõe à doença periodontal, pois a vitamina C está envolvida na síntese de colágeno e sua deficiência altera a formação do ligamento periodontal e, consequentemente, a erupção dentária.

Algumas dietas comerciais têm alto teor de fósforo e uma proporção inadequada de Ca:P. Isso pode induzir um hiperparatireoidismo nutricional secundário e doença dentária. Essa condição está associada à osteodistrofia fibrosa. A hipovitaminose A diminui a produção de dentina e a erupção dentária. Desequilíbrios dos níveis de selênio afetam a formação de colágeno causando enfraquecimento do ligamento periodontal.17,18

Maloclusão

A maloclusão é definida como qualquer alteração no contato entre os dentes da maxila e a mandíbula, sendo o problema dentário mais comum em lagomorfos e roedores.

Como os dentes crescem continuamente, qualquer distúrbio no padrão normal de atrito (ou desgaste) é, potencialmente, passível de hipercrescimento e maloclusão, que pode envolver os incisivos, os pré-molares e os molares. Quatro etiologias primárias têm sido propostas:

  • congênita: problemas congênitos e de desenvolvimento são mais raros, sendo o mais frequente visto o padrão de oclusão classe 3 (oclusal mandibular rostral à maxila) com maloclusão dos incisivos em coelhos anões. A maloclusão impede o desgaste correto dos dentes incisivos, permitindo hipercrescimento das coroas clínicas;
  • traumática: injúrias traumáticas podem levar a fraturas dentárias com exposição do tecido pulpar e formação de abscesso. Os dentes fraturados deixam de ter contato oclusal (maloclusão) levando a um desgaste desigual dos antagonistas. Os traumas podem também levar à injúria do tecido germinativo, o que impacta no crescimento dentário;
  • metabólica: dietas desbalanceadas em minerais e erros de manejo, com pouca exposição aos raios ultravioleta B (UVB) podem levar a distúrbios osteometabólicos com osteodistrofia e má-formação dos tecidos dentários, podendo levar a perdas dentárias, distorções, alteração na posição dos dentes e deformidades que favorecem o desenvolvimento de maloclusões;
  • dieta inapropriada: parece ser a etiologia mais importante, pois uma vez que os dentes crescem continuamente, o desgaste inadequado dos dentes leva ao hipercrescimento, formação de pontas e, consequentemente prejuízo na oclusão dentária adequada.

O hipercrescimento da coroa clínica com formação de pontas dentárias devido ao desgaste insuficiente dos dentes tem sido associado à utilização excessiva de dieta extrusada ou peletizada comercial e alimentos que exigem pouca mastigação e são pouco abrasivos, gerando padrão de mastigação misto, com menor excursão lateral da mandíbula, o que significa que o contato oclusal da mastigação começa antes que a mandíbula alcance seu movimento de lateralidade máxima. Isso faz com que o contato entre as superfícies oclusais dos dentes mandibulares e maxilares seja incompleto e o desgaste dentário seja desigual, favorecendo a formação de pontas dentárias na face lingual dos dentes posteriores mandibulares e na face vestibular dos dentes posteriores maxilares.17

Em geral, as referidas pontas dentárias causam lesão na mucosa jugal e lingual levando à dor e à diminuição na alimentação que, por sua vez, leva ao menor desgaste dos dentes, ao alongamento e à formação de mais pontas dentárias. Com dor, o animal se alimenta menos, ingere menos água e se movimenta menos, todos fatores que levam à diminuição da motilidade intestinal, excesso de fermentação, timpanismo, compactação do conteúdo alimentar e mais dor, além de predispor à disbiose intestinal, criando-se um círculo vicioso com piora do quadro, podendo levar o animal à morte por enterotoxemia.17

Porquinhos-da-Índia podem desenvolver lipidose hepática a partir de seis horas de anorexia devido ao balanço energético negativo. Coelhos podem desenvolver esse quadro a partir de 24 horas sem se alimentar e evoluir ao óbito.17

Afecções de incisivos

É pouco frequente a maloclusão primária e restrita aos dentes incisivos em lagomorfos e caviomorfos. Geralmente, as afecções de incisivos são secundárias às maloclusões de pré-molares e molares. No entanto, observa-se maloclusão de incisivos antagonistas nos casos de fratura ou perda de algum incisivo. Lesões em lábios, palato e nariz podem ocorrer em casos crônicos.17,21

Ocasionalmente, fraturas são encontradas após trauma ou histórico de mastigação nas barras da gaiola. Fraturas complicadas (com exposição pulpar) podem levar a abscessos periapicais. Os incisivos inferiores dos porquinhos-da-Índia, geralmente, não se alongam no sentido vestibular e seus incisivos superiores não se curvam em direção ao palato. Distúrbios do tecido germinativo, secundários ao desequilíbrio metabólico, como dieta rica em fósforo ou hipocalcemia, podem resultar em despigmentação do esmalte, cristas de esmalte, superfícies ásperas e desmineralização.17,21

O hipercrescimento e a maloclusão de incisivos é mais comumente visto em coelhos e pode ser classificada como primária ou secundária.

A forma primária do hipercrescimento e da maloclusão de incisivos em coelhos geralmente acomete animais jovens e é consequência de alterações esqueléticas, com desproporção entre maxila e mandíbula no sentido antero-posterior (prognatismo) (Figura 14), mais comum em coelhos de raças anãs, que já apresentam alterações nas primeiras semanas de vida.19 Nessas condições, os demais dentes (posteriores) apresentam oclusão normal, como apresentado na Figura 14.

FIGURA 14: Maloclusão primária de incisivos em coelho, decorrente de prognatismo congênito. Nota-se oclusão normal de pré-molares e molares. // Fonte: Arquivo de imagens dos autores.

Qualquer alteração óssea que interfira no tamanho da mandíbula e da maxila impede a oclusão correta dos dentes incisivos, o que impede o desgaste e permite o hipercrescimento e maloclusão desses dentes.

Como os incisivos maxilares são mais curvos que os mandibulares, tendem a crescer de forma a poder causar lesões nos tecidos internos da cavidade oral, também podem ser desviados lateralmente, enquanto os incisivos inferiores, menos curvos, tendem a crescer rostralmente aos incisivos maxilares.

A referida condição de maloclusão pode causar lesões em tecidos moles tanto no palato, assoalho da cavidade oral e mucosas (Figura 15). Geralmente, nessas condições, o animal se torna incapaz de realizar os movimentos mastigatórios adequadamente e, posteriormente, pode desenvolver alterações mecânicas dos pré-molares e molares.

FIGURA 15: Hipercrescimento primário de incisivos em coelho, em que se nota traumatismo em língua e assoalho da mandíbula decorrente de hipercrescimento de incisivos superiores. // Fonte: Arquivo de imagens dos autores.

Tratamentos de incisivos

De modo geral, a rotina odontológica de tratamentos de dentes incisivos envolve desgastes e odontossecções a fim de proporcionar oclusão adequada. Tal procedimento deve ser realizado sempre sob sedação ou anestesia geral. A redução da coroa clínica deve ser feita com brocas ou discos diamantados, montadas em uma peça de mão de baixa rotação ou em alta rotação.

No que tange ao tratamento de incisivos, os tecidos moles devem ser protegidos com espátulas ou abaixadores de língua (Figura 16).

FIGURA 16: Uso de broca Carbide cônica para odontossecção de incisivos superiores em porquinho-da-Índia sob anestesia geral. Note o uso de espátula curva de proteção dos tecidos adjacentes. // Fonte: Arquivo de imagens dos autores.

Realizar a redução com cortadores de unha ou alicates é uma iatrogenia com consequências graves.

Em casos de maloclusões irreversíveis, prognatismo, braquignatismo, infecção periapical, abscessos e elodontomas, a extração dentária é o tratamento preconizado. Maloclusões crônicas, passíveis de tratamentos periódicos, devem ser ponderadas frente à possibilidade de extração; considerando as sucessivas sedações/anestesias, estresse e possíveis complicações.

Maloclusão e afecções dos pré-molares e molares (posteriores)

As maloclusões e as alterações dos dentes posteriores são mais frequentes em caviomorfos e lagomorfos, quando comparadas às de incisivos, tendo como principal motivo o fato de serem espécies anisognatas (diferença de largura entre maxila e mandíbula). Nos lagomorfos, a mandíbula é mais estreita que a maxila, enquanto nos caviomorfos essa relação é inversa.

Durante a função mastigatória normal, o movimento de lateralidade da mandíbula deve proporcionar que os dentes inferiores e superiores ocluam, toquem-se e se desgastem, de um lado para o outro alternadamente. Rações peletizadas exigem menor movimentação de lateralidade, promovendo movimentos prioritariamente verticais, não promovendo o contato oclusal correto e homogêneo entre os dentes superiores e inferiores.

Afecções de bolsa jugal

Restrita aos roedores miomorfos, a afecção é causada pela impactação de alimento e de objetos dentro das bolsas jugais (Figura 17), sendo a afecção mais comum, produzindo estomatite secundária.19

FIGURA 17: Hamster apresentando impactação de alimento nas bolsas jugais. // Fonte: Cedida por Marcel Lucena.

A impactação das bolsas bucais deve ser tratada com esvaziamento do conteúdo aderido à mucosa e aplicação tópica de soluções antissépticas.19

Se o prolapso de uma bolsa jugal for recente e a superfície mucosa estiver intacta, o reposicionamento pode ser tentado com o paciente sob anestesia geral. A mucosa deve ser reidratada e lubrificada antes de ser reposicionada. A bolsa é reposicionada usando aplicadores de ponta de algodão. Uma única sutura percutânea pode ser realizada usando material monofilamentar não absorvível 4:0 ou 5:0 para manter a bolsa em sua posição normal e evitar recorrência.19

A amputação da bolsa jugal é indicada em casos de lesões mucosas graves após prolapso, prolapso recorrente ou neoplasia. 19

Com relação à amputação da bolsa, uma pinça hemostática é colocada na base do tecido prolapsado e a bolsa necrótica é ressecada. A base da bolsa evertida é suturada com material absorvível em padrão simples interrompido.19

Abscessos são melhor tratados com remoção cirúrgica do tecido infectado e/ou necrótico seguido de lavagem completa, marsupialização e cicatrização por segunda intenção, assim como descrito para coelho e caviomorfos, ao invés de uma simples incisão.

ATIVIDADES

12. Com relação à classificação taxonômica dos roedores, tem-se como características principais estruturas morfológicas da cavidade oral. Sendo assim, quais as principais características odontológicas que diferem os caviomorfos dos miomorfos?

A) Caviomorfos: 22 dentes, todos elodontes. Miomorfos: 16 dentes, com apenas incisivos elodontes.

B) Caviomorfos: 20 dentes, todos anelodontes. Miomorfos: 16 dentes, todos elodontes.

C) Caviomorfos: 22 dentes, todos anelodontes. Miomorfos: 20 dentes, todos anelodontes.

D) Caviomorfos: 20 dentes, todos elodontes. Miomorfos: 16 dentes, com apenas incisivos elodontes.

Confira aqui a resposta

Resposta incorreta. A alternativa correta é a "D".


Todos os caviomorfos aqui abordados possuem a mesma fórmula dentária: 2x (I 1/1, C 0/0, P 1/1, M 3/3) = 20. Todos os roedores miomorfos são elodontes anteriores e anelodontes posteriores e possuem, na maioria das espécies, a fórmula dentária: 2 x (I 1/1, C 0/0, PM 0/0, M 3/3 = 16).

Resposta correta.


Todos os caviomorfos aqui abordados possuem a mesma fórmula dentária: 2x (I 1/1, C 0/0, P 1/1, M 3/3) = 20. Todos os roedores miomorfos são elodontes anteriores e anelodontes posteriores e possuem, na maioria das espécies, a fórmula dentária: 2 x (I 1/1, C 0/0, PM 0/0, M 3/3 = 16).

A alternativa correta é a "D".


Todos os caviomorfos aqui abordados possuem a mesma fórmula dentária: 2x (I 1/1, C 0/0, P 1/1, M 3/3) = 20. Todos os roedores miomorfos são elodontes anteriores e anelodontes posteriores e possuem, na maioria das espécies, a fórmula dentária: 2 x (I 1/1, C 0/0, PM 0/0, M 3/3 = 16).

13. Afecções de tecidos moles da cavidade oral ocorrem com frequência em lagomorfos e miomorfos, com relação à causa e ao tratamento, qual a afirmação correta?

A) Lesões traumáticas no interior da cavidade oral causadas por pontas geradas por hipercrescimento dentário são muito comuns em coelhos e roedores caviomorfos. Seu tratamento deve ser sempre clínico, com a utilização de espéculo que permita o acesso e a limpeza com clorexidine 0,12% da região afetada.

B) Lesões causadas por pontas dentárias no interior da cavidade oral devem ser sempre tratadas cirurgicamente pois além do tratamento da ferida é fundamental remover a causa, ou seja, desgastar o dente que está hipercrescidos e causando a lesão.

C) A principal causa de lesões no interior da cavidade oral de lagomorfos e caviomorfos é a alimentação incorreta, uma vez que o feno pode causar lesões traumáticas com muita facilidade.

D) Devido ao fácil acesso às estruturas do interior da cavidade oral de coelhos e caviomorfos, as lesões no interior da cavidade oral são facilmente percebidas e devem ser tratadas clinicamente antes que se agravem e o animal deixe de se alimentar de forma adequada.

Confira aqui a resposta

Resposta incorreta. A alternativa correta é a "B".


É fundamental sempre tratar a causa, não apenas as lesões secundárias, portanto, o tratamento para casos de lesões no interior da cavidade oral causadas por pontas de hipercrescimento dentário, é sempre cirúrgico. O feno faz parte da alimentação adequada para a espécie e normalmente não causa lesões. O acesso ao interior da cavidade oral de lagomorfos e caviomorfos é dificultado pela sua anatomia.

Resposta correta.


É fundamental sempre tratar a causa, não apenas as lesões secundárias, portanto, o tratamento para casos de lesões no interior da cavidade oral causadas por pontas de hipercrescimento dentário, é sempre cirúrgico. O feno faz parte da alimentação adequada para a espécie e normalmente não causa lesões. O acesso ao interior da cavidade oral de lagomorfos e caviomorfos é dificultado pela sua anatomia.

A alternativa correta é a "B".


É fundamental sempre tratar a causa, não apenas as lesões secundárias, portanto, o tratamento para casos de lesões no interior da cavidade oral causadas por pontas de hipercrescimento dentário, é sempre cirúrgico. O feno faz parte da alimentação adequada para a espécie e normalmente não causa lesões. O acesso ao interior da cavidade oral de lagomorfos e caviomorfos é dificultado pela sua anatomia.

14. Uma alteração de alta ocorrência na clínica de lagomorfos é a ausência de oclusão de incisivos devido a alterações congênitas, principalmente prognatismo de mandíbula. Qual alternativa apresenta os sinais clínicos gerados por essa alteração e a melhor opção para o seu tratamento?

A) A ausência de oclusão dos incisivos leva ao hipercrescimento dentário e consequentes lesões nos tecidos moles das estruturas adjacentes da cavidade oral. A melhor opção de tratamento definitivo é a extração dos seis incisivos.

B) A ausência de oclusão dos incisivos leva ao hipercrescimento dentário e impossibilidade de alimentação em todos os casos. A melhor opção de tratamento definitivo é a extração dos quatro incisivos.

C) A ausência de oclusão dos incisivos leva ao hipercrescimento dentário e consequentes lesões nos tecidos moles das estruturas adjacentes da cavidade oral. A melhor opção de tratamento definitivo é o desgaste periódico de todos os incisivos hipercrescidos.

D) A ausência de oclusão dos incisivos sempre resulta em hipercrescimento de pré-molares e molares. A melhor opção de tratamento definitivo é a extração dos seis incisivos.

Confira aqui a resposta

Resposta incorreta. A alternativa correta é a "A".


Quando não há oclusão adequada dos incisivos, consequentemente não há desgaste adequado desses dentes, o que resulta em hipercrescimento levando a lesões traumáticas dos tecidos moles adjacentes da cavidade oral. O tratamento definitivo de eleição é a extração de todos os seis incisivos.

Resposta correta.


Quando não há oclusão adequada dos incisivos, consequentemente não há desgaste adequado desses dentes, o que resulta em hipercrescimento levando a lesões traumáticas dos tecidos moles adjacentes da cavidade oral. O tratamento definitivo de eleição é a extração de todos os seis incisivos.

A alternativa correta é a "A".


Quando não há oclusão adequada dos incisivos, consequentemente não há desgaste adequado desses dentes, o que resulta em hipercrescimento levando a lesões traumáticas dos tecidos moles adjacentes da cavidade oral. O tratamento definitivo de eleição é a extração de todos os seis incisivos.

15. Qual alternativa condiz com a indicação de extração de pré-molares e molares de lagomorfos e caviomorfos?

A) Sempre que há maloclusão crônica, existe a necessidade de extração do pré-molar e/ou molar que apresenta alteração.

B) Pré-molares e/ou molares que apresentam hipercrescimento devem ser extraídos.

C) Fraturas dentárias e abscessos alveolares trazem a necessidade de extração dos dentes afetados.

D) A extração sempre deve ser realizada como última opção, uma vez que, sempre que não há lesão na raiz, o dente pode ser recuperado.

Confira aqui a resposta

Resposta incorreta. A alternativa correta é a "C".


A maloclusão crônica só resulta em necessidade de extração se a sua causa estiver relacionada ao posicionamento de um dente. O hipercrescimento deve ser corrigido primariamente com desgaste dentário. Dentes com abscesso alveolar ou fraturados devem ser extraídos. Dentes elodontes não possuem raiz.

Resposta correta.


A maloclusão crônica só resulta em necessidade de extração se a sua causa estiver relacionada ao posicionamento de um dente. O hipercrescimento deve ser corrigido primariamente com desgaste dentário. Dentes com abscesso alveolar ou fraturados devem ser extraídos. Dentes elodontes não possuem raiz.

A alternativa correta é a "C".


A maloclusão crônica só resulta em necessidade de extração se a sua causa estiver relacionada ao posicionamento de um dente. O hipercrescimento deve ser corrigido primariamente com desgaste dentário. Dentes com abscesso alveolar ou fraturados devem ser extraídos. Dentes elodontes não possuem raiz.

16. Abscessos de origem dentária são alterações frequentes na clínica de lagomorfos e caviomorfos. Qual a melhor forma de tratamento para essas afecções?

A) O planejamento cirúrgico com a utilização de imagens de TC é fundamental para casos de abscessos de origem dentária. Por meio delas, é possível determinar toda a extensão da lesão e quais dentes necessitam ser extraídos. Quando há abscesso externo, sempre deve ser marsupializado.

B) As imagens radiográficas sempre são suficientes para a determinação da localização da área afetada em casos de abscessos e permite um planejamento adequado. Abscessos alveolares sempre levam a necessidade de extração e abscessos externos devem sempre ser marsupializados.

C) A TC permite um planejamento cirúrgico ideal para casos de abscessos. Por meio delas, é possível determinar toda a extensão da lesão e quais dentes necessitam ser extraídos. Quando há abscesso externo, deve sempre ser aberto, todo o conteúdo removido, bem como a sua cápsula ser curetada. Após lavagem com antibióticos é indicado realizar a sutura da pele.

D) Abscessos de origem dentária sempre trazem a necessidade de extração dentária e a marsupialização é o tratamento mais adequado tanto dentro quanto fora da cavidade oral.

Confira aqui a resposta

Resposta incorreta. A alternativa correta é a "A".


A TC é o exame de imagem de escolha para planejamento cirúrgico em casos de abscessos de origem dentária. O tratamento para abscessos alveolares é a extração do dente afetado com a lavagem do alvéolo e sutura da gengiva, enquanto abscessos externos devem ser sempre marsupializados.

Resposta correta.


A TC é o exame de imagem de escolha para planejamento cirúrgico em casos de abscessos de origem dentária. O tratamento para abscessos alveolares é a extração do dente afetado com a lavagem do alvéolo e sutura da gengiva, enquanto abscessos externos devem ser sempre marsupializados.

A alternativa correta é a "A".


A TC é o exame de imagem de escolha para planejamento cirúrgico em casos de abscessos de origem dentária. O tratamento para abscessos alveolares é a extração do dente afetado com a lavagem do alvéolo e sutura da gengiva, enquanto abscessos externos devem ser sempre marsupializados.

17. Com relação às principais alterações orais de miomorfos, qual a alternativa correta?

A) Compactação de conteúdo da bolsa jugal ocorre com frequência em todas as espécies de miomorfos que possuem manejo inadequado.

B) Abscessos tem ocorrência frequente na face de miomorfos, geralmente ocasionados por lesões traumáticas. Seu tratamento sempre deve ser cirúrgico por meio da remoção do conteúdo e da sutura da pele.

C) Compactação de conteúdo da bolsa jugal sempre tem a necessidade de correção cirúrgica, uma vez que se trata de uma estrutura essencial na alimentação dos miomorfos.

D) Aumento de volume na cavidade oral e estruturas adjacentes são comuns em miomorfos e devem ser sempre diferenciadas entre tumores, abscessos e compactação de conteúdo da bolsa jugal.

Confira aqui a resposta

Resposta incorreta. A alternativa correta é a "D".


Não são todas as espécies de miomorfos que possuem bolsa jugal. O tratamento mais adequado para abscessos faciais é a marsupialização. A bolsa jugal não é uma estrutura fundamental para a alimentação dos miomorfos e nem sempre tem a necessidade de correção cirúrgica.

Resposta correta.


Não são todas as espécies de miomorfos que possuem bolsa jugal. O tratamento mais adequado para abscessos faciais é a marsupialização. A bolsa jugal não é uma estrutura fundamental para a alimentação dos miomorfos e nem sempre tem a necessidade de correção cirúrgica.

A alternativa correta é a "D".


Não são todas as espécies de miomorfos que possuem bolsa jugal. O tratamento mais adequado para abscessos faciais é a marsupialização. A bolsa jugal não é uma estrutura fundamental para a alimentação dos miomorfos e nem sempre tem a necessidade de correção cirúrgica.

A seguir, será apresentado um caso clínico relacionado à inserção de prótese homóloga de gnatoteca em calopsita (Nymphicus hollandicus). Antes do caso propriamente dito, será feita uma retomada de conceitos e informações referentes ao tema.

Apresentação

O bico das aves é uma estrutura dinâmica em crescimento constante, constituída pelos ossos maxilares superiores (pré-maxila e nasal) e inferior (mandíbula), cobertos por bainhas epidérmicas queratinizadas, denominadas de ranfotecas.22 Anatomicamente, a ranfoteca é subdividida em rinoteca (superior) e gnatoteca (inferior). A articulação do bico superior com o crânio (articulação naso-frontal) abrange os ossos pré-frontal, quadrado e arco zigomático. Em algumas espécies essa articulação é fusionada e não há abertura do bico superior independente do crânio.11

Os ossos da mandíbula se fundem rostralmente, formando a sínfise mentoniana.11 Além disso, a maior parte do volume ósseo do bico é composta por ossos trabeculados, entremeados por membranas proteicas calcificadas e ar; característica que confere resistência e leveza ao bico.23 Outras estruturas também compõem o bico, como feixes vásculo-nervosos, articulações e bainhas germinativas.

As anormalidades do bico podem ocorrer como resultado de má nutrição; incubação inapropriada; infecção viral, bacteriana, fúngica, parasitária e traumas.22 Esses fatores podem gerar crescimento exagerado do bico, cruzamento de rinoteca e gnatoteca (bico em tesoura), encurtamento do bico superior (braquignatismo) ou alongamento do bico inferior (prognatismo), infecções, necrose e fraturas.

As lesões decorrentes de traumatismos são as mais prevalentes das lesões de bico e variam de acordo com a intensidade do trauma. As fraturas completas de ranfoteca são de extrema dificuldade de reparo, principalmente em tucanos, necessitando de próteses complexas e com grande número de insucessos nos tratamentos.24

De acordo com a origem, as próteses podem ser classificadas de forma análoga aos enxertos em próteses autógenas (provém do mesmo indíviduo), próteses homólogas ou alógenas (provém de outro individou da mesma espécie), prótese heteróloga ou xenógena (provém de individuo de espécie distinta), prótese sintética (confeccionada com material inorgânico) e mista (associação de dois ou mais tipos de próteses).

Na prática, as próteses autógenas pouco são utilizadas, as próteses heterólogas são muito pouco utilizadas, porém as próteses homólogas, sintéticas e mistas são utilizadas com frequência. São utilizados cadáveres de aves como fornecedores de próteses homólogas, dos quais o bico deve ser dissecado e removido da forma mais asséptica possível. É importante descartar as doenças infecciosas como causa mortis dos cadáveres que fornecerão a prótese homóloga.

Relato do caso

Uma calopsita (Nymphicus hollandicus), apresentou fratura completa do terço caudal da gnatoteca, com perda de aproximadamente três quartos dessa estrutura e avulsão de pequeno fragmento rostral da rinoteca (Figura 18). O proprietário relatou que o trauma foi decorrente de briga com animal de outra espécie (papagaio — Amazona aestiva), o qual dividia a mesma gaiola.

FIGURA 18: Calopsita apresentando ausência de três quartos da gnatoteca. // Fonte: Arquivo de imagens dos autores.

Após detalhado exame físico e discussão entre os profissionais, verificou-se a possibilidade de inserção de uma prótese fixa homóloga, utilizando-se fragmento de gnatoteca de outro espécime (proveniente de cadáver), de forma a substituir a perda da gnatoteca. Buscou-se gnatotecas de animais mortos por causas não infecciosas, as quais foram mantidas em glicerina 98% durante 30 dias, até a data da cirurgia.

O animal foi anestesiado com isoflurano para o procedimento. Após debridagem de tecidos necróticos e remoção de sujidades do remanescente de gnatoteca, o fragmento homólogo foi cerclado ao remanescente de gnatoteca com fios de nylon 3-0 (Figura 19).

FIGURA 19: Utilização de fio de nylon 3-0 para cerclagem dos fragmentos remanescentes da gnatoteca, abrangendo a margem óssea da mandíbula. // Fonte: Arquivo de imagens dos autores.

Foram realizadas duas cerclagens, uma em cada margem do remanescente da gnatoteca (direita e esquerda), transfixando a base óssea remanescente da mandíbula (Figura 20).

FIGURA 20: Inserção de prótese homóloga de gnatoteca por meio de cerclagem. // Fonte: Arquivo de imagens dos autores.

A margem de união entre a prótese e o remanescente foi coberta com resina odontológica fotopolimerizável, conferindo maior aderência e homogeneidade à reconstituição da gnatoteca. O animal apresentou imediata adaptação à prótese, retornado à alimentação ao fim do procedimento (Figura 21).

FIGURA 21: Aspecto do pós-cirúrgico imediato após inserção de prótese homóloga de gnatoteca em calopsita. // Fonte: Arquivo de imagens dos autores.

Indicou-se alimentação pastosa por 10 dias e o fornecimento de maior quantidade de frutas, além do alojamento em gaiola própria. Após 34 dias do procedimento, o animal retornou, quando se pôde verificar que a prótese se mantinha firmemente inserida ao remanescente da gnatoteca e o animal apresentava excelente condição clínica. Além disso, observou-se crescimento do fragmento rostral de rinoteca (Figura 22).

FIGURA 22: Aspecto geral após 34 dias da intervenção cirúrgica. Notar crescimento da rinoteca. // Fonte: Arquivo de imagens dos autores.

Decorridos 42 dias do retorno (76 dias após a intervenção cirúrgica), a proprietária (por telefone) relatou perda da prótese do animal, porém exaltou a adaptação do animal à alimentação, mesmo na ausência de grande parte da gnatoteca. Frente a isso, descartou-se a possibilidade de inserção de nova prótese nesse momento e indicou-se minuciosa observação do animal.

ATIVIDADES

18. Que observações podem ser feitas a partir do caso clínico?

Confira aqui a resposta

A compreensão da biomecânica do crânio e das forças que agem durante os movimentos oclusais é essencial para a confecção e o posicionamento das próteses. A inserção de próteses de bico devolve a função dessa estrutura ao animal, permitindo que ele retorne a se alimenta e ingerir água, ocasionando uma melhora clínica substancial, mesmo que o sucesso quanto à fixação seja incerto. Diversos fatores, como a anatomia individual, o peso reduzido do bico e o desconhecimento da intensidade e da distribuição das forças aplicadas sobre o bico, além do desconhecimento da biocompatibilidade (interação) das resinas com a superfície de queratina, são responsáveis por um grande número de insucessos nos tratamentos.

Resposta correta.


A compreensão da biomecânica do crânio e das forças que agem durante os movimentos oclusais é essencial para a confecção e o posicionamento das próteses. A inserção de próteses de bico devolve a função dessa estrutura ao animal, permitindo que ele retorne a se alimenta e ingerir água, ocasionando uma melhora clínica substancial, mesmo que o sucesso quanto à fixação seja incerto. Diversos fatores, como a anatomia individual, o peso reduzido do bico e o desconhecimento da intensidade e da distribuição das forças aplicadas sobre o bico, além do desconhecimento da biocompatibilidade (interação) das resinas com a superfície de queratina, são responsáveis por um grande número de insucessos nos tratamentos.

A compreensão da biomecânica do crânio e das forças que agem durante os movimentos oclusais é essencial para a confecção e o posicionamento das próteses. A inserção de próteses de bico devolve a função dessa estrutura ao animal, permitindo que ele retorne a se alimenta e ingerir água, ocasionando uma melhora clínica substancial, mesmo que o sucesso quanto à fixação seja incerto. Diversos fatores, como a anatomia individual, o peso reduzido do bico e o desconhecimento da intensidade e da distribuição das forças aplicadas sobre o bico, além do desconhecimento da biocompatibilidade (interação) das resinas com a superfície de queratina, são responsáveis por um grande número de insucessos nos tratamentos.

Conclusão

Afecções orais e dentárias em pets não convencionais caracterizam-se por acometer um grande número de animais, sendo as afecções mais prevalentes nessas espécies. O conhecimento da anatomia, da fisiologia, da etiopatogenia, do diagnóstico e do tratamento das principais afecções orais e dentárias é fundamental ao profissional que deseja atuar na medicina de animais silvestres e exóticos. Diversas afecções orais têm consequências sistêmicas graves, bem como incômodo e desconforto local. Assim, prevenindo e tratando as enfermidades da cavidade oral, previne-se problemas de saíde geral e mantém-se a homeostase dos diversos órgãos e sistemas.

Atividades: Respostas

Atividade 1 // Resposta: C

Comentário: Os répteis mantidos como pets são representados por dois grupos, os testudines (cágados e jabutis) e os squamatas (lagartos e serpentes). São animais pecilotérmicos, ou seja, dependem da temperatura ambiente para manter a homeostase e, dessa forma, controlar o seu metabolismo. Tal característica os torna totalmente dependentes e adaptados às características climáticas do ambiente em que habitam naturalmente e, portanto, a medicina de répteis é extremamente complexa.

Atividade 2 // Resposta: B

Comentário: Dentre os testudines, os cágados apresentam comportamento defensivo de abrir a boca quando se sentem ameaçados, sendo essa uma boa oportunidade para se inserir o espéculo, espátula ou abre-boca, para manter a cavidade oral aberta de preferência revestido com material macio para que se evite fraturas do bico córneo e, assim, seja possível uma avaliação adequada. Serpentes não possuem dentes na região intermaxilar e intermandibular o que possibilita ao examinador acessar a cavidade oral por meio da introdução de um espéculo por essa região. Pode-se utilizar a região intermaxilar e intermandibular para a abertura manual da boca em serpentes não peçonhentas.

Atividade 3 // Resposta: D

Comentário: Deve-se observar a coloração da mucosa oral, presença de hemorragia, petéquias, inflamação, características das secreções (cor, viscosidade, quantidade e odor), simetria, presença de alterações (fraturas, corpo estranho, parasitas, caseo e cálculo dental), dentes, posição da glote e base da língua (rostral em serpentes, média em lagartos e caudal em testudines e crocodilianos) e aspecto da faringe.

Atividade 4 // Resposta: C

Comentário: Acrodonte é a inserção superficial mineralizada nos ossos mandibular e maxilar. Presente em alguns anfisbênios e lagartos (famílias Agamidae e Chamaeleonidae), sendo raramente substituídos uma vez atingido certo estágio de desenvolvimento. Pleurodonte é a inserção em projeção alveolar lateral (incompleta) nos ossos mandibular e maxilar. Tipo mais comum em lagartos e serpentes, possuindo substituição permanente e constante. Tecodonte é a inserção em projeção alveolar completa nos ossos mandibular e maxilar, presente nos crocodilianos.

Atividade 5 // Resposta: A

Comentário: Áglifa é a dentição na qual não há presas especializadas na inoculação de peçonha. Alguns exemplos de serpentes não peçonhentas que possuem esse tipo de dentição: surucucu-do-pantanal (Hydrodynastes gigas), caninana (Spilotes pulatus), jiboia (Boa constrictor), sucuri (Eunectes sp), píton (Phyton sp), cobra-dos-milharais (Elaphe gutata).

Atividade 6 // Resposta: B

Comentário: Estomatites e DTAS referem-se a várias condições patológicas da cavidade oral, faringe ou esôfago. A estomatite é muito comum em répteis, caracterizada pela inflamação da mucosa, pode incluir gengivite, glossite, palatite e queilite. Infecções bacterianas, fúngicas e virais são conhecidas por causar estomatite. O grupo de maior prevalência da estomatite bacteriana é o das serpentes (Ophidia), porém essas lesões também são vistas em iguanas e quelônios com menor frequência. Como relatado, estomatite bacteriana em quelônios pode estar associada ao período de hibernação.

Atividade 7 // Resposta: D

Comentário: Os testudines são aqueles que mais sofrem com os erros de manejo em cativeiro, no que diz respeito à manutenção da homeostasia (temperatura, luminosidade e umidades) e dieta. Por consequência, são os mais acometidos por hipovitaminose A, sendo mais frequentes em espécies aquáticas (cágados) do que em terrestres (jabutis). Sinais clínicos da enfermidade se manifestam como metaplasia escamosa, conjuntivite, blefarite, aumento de volume na região aural da cabeça, edema palpebral, dispneia, corrimento oro-nasal e hipercrescimento córneo do bico. Outros sinais clínicos comumente encontrados são letargia e anorexia.

Atividade 8 // Resposta: C

Comentário: O bico é uma estrutura dinâmica em crescimento constante, constituída pelos ossos pré-maxilar e nasal (superior) e mandibular (inferior), cobertos por bainhas epidérmicas queratinizadas, denominadas de ranfotecas. A porção superior da ranfoteca é denominada rinoteca e a porção inferior denominada gnatoteca. Outras estruturas também compõem o bico, como feixes vásculo-nervosos, articulações e bainhas germinativas.

Atividade 9 // Resposta: A

Comentário: A consistência da ranfoteca é varia entre as espécies. É firme em Psitaciformes (papagaios, periquitos e araras) e macia e flexível em Anseriformes (gansos). O crescimento da queratina do bico ocorre sempre que houver uma camada germinativa subjacente (aderida ao periósteo), mas as linhas de crescimento inclinam-se no sentido da ponta do bico. O tempo de reposição de queratina da ranfoteca está intimamente ligado ao uso do bico. Em grandes psitacídeos, a substituição completa da ranfoteca ocorre em aproximadamente seis meses, enquanto nos ranfastídeos há uma taxa de crescimento aproximada de 0,25cm ao ano. Normalmente, a queratina da gnatoteca é substituída de duas a três vezes mais rápido do que a rinoteca.

Atividade 10 // Resposta: C

Comentário: O crescimento excessivo do bico é, normalmente, causado por deformidades congênitas, deficiências nutricionais ou infecciosas. As deficiências nutricionais parecem ser a causa mais prevalente das deformidades de bico e ocorrem devido a dietas com deficiência de cálcio, vitaminas D e A. Nos casos de deficiência de vitamina A, as deformidades do bico ocorrem em consequência à hiperqueratose e normalmente estão associadas à formação de abscessos. Além disso, também é observado o crescimento excessivo do bico nos casos de dietas em que a textura dos itens alimentares é insuficiente, não havendo desgaste satisfatório do bico por contra-abrasão.

Atividade 11 // Resposta: B

Comentário: Próteses devem ser desenvolvidas a partir de estudo morfofisiológico, conhecimento da biomecânica e com material adequado para a espécie. O planejamento cirúrgico mais adequado envolve reconstrução 3D e sempre tem a necessidade de ser trocada periodicamente devido ao crescimento constante do resto de queratina do bico. Quando há perda do bico do próprio animal, a prótese autógena não pode ser utilizada, uma vez que necessita do material do próprio animal para sua confecção.

Atividade 12 // Resposta: D

Comentário: Todos os caviomorfos aqui abordados possuem a mesma fórmula dentária: 2x (I 1/1, C 0/0, P 1/1, M 3/3) = 20. Todos os roedores miomorfos são elodontes anteriores e anelodontes posteriores e possuem, na maioria das espécies, a fórmula dentária: 2 x (I 1/1, C 0/0, PM 0/0, M 3/3 = 16).

Atividade 13 // Resposta: B

Comentário: É fundamental sempre tratar a causa, não apenas as lesões secundárias, portanto, o tratamento para casos de lesões no interior da cavidade oral causadas por pontas de hipercrescimento dentário, é sempre cirúrgico. O feno faz parte da alimentação adequada para a espécie e normalmente não causa lesões. O acesso ao interior da cavidade oral de lagomorfos e caviomorfos é dificultado pela sua anatomia.

Atividade 14 // Resposta: A

Comentário: Quando não há oclusão adequada dos incisivos, consequentemente não há desgaste adequado desses dentes, o que resulta em hipercrescimento levando a lesões traumáticas dos tecidos moles adjacentes da cavidade oral. O tratamento definitivo de eleição é a extração de todos os seis incisivos.

Atividade 15 // Resposta: C

Comentário: A maloclusão crônica só resulta em necessidade de extração se a sua causa estiver relacionada ao posicionamento de um dente. O hipercrescimento deve ser corrigido primariamente com desgaste dentário. Dentes com abscesso alveolar ou fraturados devem ser extraídos. Dentes elodontes não possuem raiz.

Atividade 16 // Resposta: A

Comentário: A TC é o exame de imagem de escolha para planejamento cirúrgico em casos de abscessos de origem dentária. O tratamento para abscessos alveolares é a extração do dente afetado com a lavagem do alvéolo e sutura da gengiva, enquanto abscessos externos devem ser sempre marsupializados.

Atividade 17 // Resposta: D

Comentário: Não são todas as espécies de miomorfos que possuem bolsa jugal. O tratamento mais adequado para abscessos faciais é a marsupialização. A bolsa jugal não é uma estrutura fundamental para a alimentação dos miomorfos e nem sempre tem a necessidade de correção cirúrgica.

Atividade 18

RESPOSTA: A compreensão da biomecânica do crânio e das forças que agem durante os movimentos oclusais é essencial para a confecção e o posicionamento das próteses. A inserção de próteses de bico devolve a função dessa estrutura ao animal, permitindo que ele retorne a se alimenta e ingerir água, ocasionando uma melhora clínica substancial, mesmo que o sucesso quanto à fixação seja incerto. Diversos fatores, como a anatomia individual, o peso reduzido do bico e o desconhecimento da intensidade e da distribuição das forças aplicadas sobre o bico, além do desconhecimento da biocompatibilidade (interação) das resinas com a superfície de queratina, são responsáveis por um grande número de insucessos nos tratamentos.

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Referência recomendada

Orr RT. Biologia dos vertebrados. 5. ed. São Paulo: Roca; 1986.

Titulações dos autores

ROBERTO S. FECCHIO // Especialista em Odontologia Veterinária pelo Colégio Americano de Odontologia Veterinária (American Veterinary Dental College – Zoo and Wild Animals Dentistry Fellowship). Pós-graduado em Odontologia Veterinária pela Associação Nacional de Clínicos Veterinários de Pequenos Animais de São Paulo (ANCLIVEPA/SP). Mestre pelo Departamento de Cirurgia da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (FMVZ-USP). Doutor pelo Departamento de Cirurgia da FMVZ-USP. Sócio proprietário da Clínica Safari – Medicina Veterinária Especializada. Médico Veterinário.

RENATO ORDONES // Residência em Medicina de Animais Selvagens pella Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT). Pós-graduado em Clínica e Cirurgia de Animais Silvestres e Exóticos pela Faculdade Método de São Paulo (FAMESP). Pós-graduado em Cirurgia Oncológica e Reconstrutiva pela Universidade Estadual Paulista (UNESP) – Campus de Jaboticabal. Médico veterinário.

Como citar a versão impressa deste documento

Fecchio RS, Ordones R. Odontologia em pets não convencionais (animais silvestres e exóticos). In: Associação Nacional de Clínicos Veterinários de Pequenos Animais; Roza MR, Oliveira ALA, organizadores. PROMEVET Pequenos Animais: Programa de Atualização em Medicina Veterinária: Ciclo 10. Porto Alegre: Artmed Panamericana; 2024. p. 73–114. (Sistema de Educação Continuada a Distância; v. 2).

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