- Introdução
A orbitopatia de Graves, também conhecida como oftalmopatia de Graves, tireoidiana, distireoidiana ou relacionada à tireoide, é uma doença inflamatória, autoimune, de etiologia ainda não esclarecida, que envolve tanto a tireoide quanto a órbita, incluindo predominantemente a musculatura extraocular e/ou o tecido adiposo orbitário, podendo comprometer, também, outros anexos oculares.
Atualmente, dois grandes grupos multidisciplinares estudam a orbitopatia de Graves de forma sistemática: o European Group on Graves’ Orbitopathy (EUGOGOEuropean Group on Graves’ Orbitopathy), surgido em 1999 e liderado por endocrinologistas europeus, e o International Thyroid Eye Disease Society (ITEDSInternational Thyroid Eye Disease Society), criado em 2006 e coordenado por oftalmologistas norte-americanos.
A orbitopatia de Graves abrange um amplo espectro de sinais e sintomas entre os pacientes, com uma grande variabilidade de apresentações clínicas. As manifestações vão desde uma leve retração ou um discreto edema palpebral até a neuropatia óptica compressiva e a cegueira. Pouco se conhece de sua patogênese.
A orbitopatia é uma doença bilateral, podendo ser muito assimétrica. Em um mesmo paciente, uma órbita pode estar muito mais comprometida do que a outra, dando a impressão clínica de que a doença é unilateral. É a principal causa de exoftalmo, tanto uni quanto bilateral, e corresponde a cerca de 50% dos atendimentos por serviços de órbita em países desenvolvidos e causa um grande impacto na qualidade de vida do paciente.1 A doença tem duas fases: uma ativa inflamatória, outra crônica cicatricial. Ambas podem coexistir quando o paciente se apresenta ao oftalmologista, não sendo fácil determinar em que momento da doença o paciente se encontra.
O tratamento deve ser baseado em um detalhado reconhecimento da gravidade e atividade da doença. As formas de tratamento atuais da fase inflamatória ainda não são ideais, visto que não têm como alvo os mecanismos patogênicos da doença, somente a diminuição de sua atividade inflamatória. Isso torna seu manejo difícil, mesmo para oftalmologistas experientes.
A doença causa um grande impacto na qualidade de vida dos pacientes e em seu bem-estar psicossocial. Isso se deve tanto à mudança da aparência, que leva à limitação do contato social, quanto ao comprometimento funcional da visão, que não permite ao paciente realizar suas atividades cotidianas. Nesses indivíduos, há uma diminuição substancial da pontuação nos índices de qualidade de vida (por exemplo, Multidomain Quality of Life [QoLMultidomain Quality of Life]) equivalente à de pacientes com diabetes melito (DMdiabetes melito) ou pacientes oncológicos.
- Objetivos
Ao final deste capítulo, o leitor será capaz de
- discutir a epidemiologia da orbitopatia de Graves;
- explicar a patogênese da orbitopatia de Graves;
- listar os fatores de risco associados à orbitopatia de Graves;
- reconhecer os principais sinais e sintomas clínicos da orbitopatia de Graves;
- diferenciar as formas de apresentação da orbitopatia de Graves (leve, moderada e grave), a partir do quadro clínico do paciente;
- discutir a história natural da orbitopatia de Graves em suas fases inflamatória e cicatricial;
- reconhecer a importância do diagnóstico precoce e da intervenção terapêutica, sempre que necessária, em pacientes com orbitopatia de Graves;
- indicar a realização do exame oftalmológico sequencial para o diagnóstico clínico e a identificação da evolução da orbitopatia de Graves, bem como de exames laboratoriais e radiológicos, tanto para o diagnóstico quanto para o acompanhamento desses pacientes;
- saber quando e como tratar pacientes com orbitopatia de Graves;
- identificar as formas de tratamento clínico e cirúrgico e suas indicações para pacientes com orbitopatia de Graves.
- Esquema conceitual