- Introdução
O número de pessoas acometidas por demências tem aumentado mundialmente. Nos Estados Unidos (EUA), existe uma perspectiva de 13,8 milhões de pessoas com doença de Alzheimer (DAdoença de Alzheimer) até a metade do século, alimentada pelo período de alta fecundidade e de mortalidade infantil declinante e que se transformou na explosão do envelhecimento.1
No Brasil, esse período ocorreu entre 1950 e 1965, e a população com DAdoença de Alzheimer estará na faixa etária de 55 a 70 anos em 2020.2 Em 2016, o Brasil já tinha a quinta maior população idosa do mundo, e, em 2030, o número de idosos ultrapassará o total de crianças entre 0 e 14 anos, de acordo com o Ministério da Saúde (MS),3 situação essa que contribuirá para o aumento de idosos com algum tipo de demência.
A incidência dos transtornos demenciais com o avançar da idade aumenta exponencialmente, 1,4% na faixa etária entre 65 e 69 anos, 20,8% entre 85 e 89 anos e até 38,6% nas pessoas com 90 anos ou mais.4 Em toda a população mundial, há, pelo menos, 50 milhões de idosos vivendo com demência,5 o que representa um grave problema de saúde pública e uma preocupação muito grande em alguns países em desenvolvimento como o Brasil.
Essa questão torna-se significativa a partir do momento que a demência é caracterizada por apresentar dificuldades na memória, na linguagem, na resolução de problemas e em outras habilidades cognitivas que afetam a capacidade de uma pessoa decidir e realizar atividades do dia a dia sem o auxílio de outra pessoa. Tais sintomas ocorrem porque, na demência, independentemente da causa, há destruição, de forma progressiva e irreparável, de células nervosas que comandam as funções cognitivas do idoso.1
Com tantas alterações importantes, a pessoa torna-se depende em todos os sentidos, portanto terá que ser cuidada por alguém, nesse caso, o cuidador. O termo cuidador significa “que cuida, trata com cuidado ou toma conta de outra pessoa. Que demonstra zelo, diligência e cuidado na realização de algo; diligente”.6 A definição de cuidador também pode ser dividida pelo tipo de cuidado prestado — informal ou formal — ou pelo nível de envolvimento — primário, secundário ou terciário.7, 8
Em relação ao tipo de cuidado prestado, os cuidadores informais são os familiares ou os agregados, como amigos, vizinhos e outros, e os cuidadores formais são os profissionais ocupacionais contratados para esse fim. No Brasil, “cuidador” é uma ocupação desde 2002 pela Classificação Brasileira de Ocupações (CBOClassificação Brasileira de Ocupações), apesar de já ter sido aprovado como uma profissão pelo Senado Federal em 2012.8,9
Acerca do nível de envolvimento com o cuidado ao idoso, ele ainda pode ser subdividido quanto aos níveis primário, secundário e terciário.7,10 O cuidador primário é o que se responsabiliza diretamente pelo cuidado com o doente, considerado o principal.11 Ele coordena todo o cuidado — alimentação, higiene, medicação, consultas, pagamentos e socialização —, assumindo a responsabilidade por todas as demandas; geralmente, o cuidador primário é o familiar mais próximo.11,12
O cuidador secundário é aquele que realiza tarefas como de transporte, proporciona atividades sociais e recreativas, resolve questões burocráticas ligadas à pessoa com demência, podendo, ainda, oferecer suporte emocional e espiritual.11,12
O cuidador terciário é coadjuvante e não tem responsabilidade pelo cuidado; ele substitui o cuidador primário por curtos períodos, normalmente, realizando tarefas como compras, pagar contas e receber a pensão da pessoa com demência.11,13
A maioria dos idosos com demência vive em domicílio com os seus familiares, sendo a família a principal fonte de cuidado a esses idosos. Dessa forma, surge o cuidador familiar, que se refere a qualquer parente, parceiro, amigo ou vizinho que tenha um relacionamento pessoal significativo e que forneça uma ampla gama de assistência ao idoso.14,15
Ressalta-se a importância de considerar a preparação dos membros da família no cuidado ao idoso com demência, de modo a identificar as demandas do cuidador principal, orientá-lo, dar suporte e, assim, alcançar a qualidade do atendimento ao idoso com uma perspectiva centrada na família, como será detalhado neste capítulo.
- Objetivos
Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de
- identificar as dificuldades e as características do cuidador familiar para a assistência ao idoso;
- reconhecer a dinâmica familiar em torno do idoso com demência;
- selecionar as intervenções capazes de promover as estratégias de enfrentamento da família diante da real situação do idoso.
- Esquema conceitual