Resumo
A menopausa, que também compõe o climatério, é um evento esperado na vida da mulher. É caracterizada pela última menstruação e reconhecida após 12 meses da sua ocorrência. O climatério é um período de transformação física e emocional na vida da mulher, influenciado por fatores culturais, costumes, história de vida pessoal e familiar. Portanto, o olhar sobre essa condição deve ser integral e abrangente. Nesta perspectiva, a elaboração desse material foi planejada de uma forma que contemplasse a abordagem sobre menopausa, desde o contexto político da saúde da mulher, os aspectos anatomofisiológicos, nos quais envolvem as questões hormonais e suas implicações na menopausa e a repercussão na saúde da mulher, até o tratamento e a assistência de enfermagem visando, sobretudo, à qualidade de vida e o bem-estar nessa fase.
Introdução
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGEInstituto Brasileiro de Geografia e Estatística),1 nos próximos 20 anos, a população idosa do Brasil poderá ultrapassar os 30 milhões de pessoas e deverá representar quase 13% da população ao final desse período. Essa situação trouxe mudanças no perfil epidemiológico da saúde no País, pois a urbanização, as mudanças sociais e econômicas e a globalização impactaram no modo de viver, trabalhar e se alimentar dos brasileiros, contribuindo para o aumento da prevalência de fatores como a obesidade e o sedentarismo, que estão relacionados ao desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis.2
Historicamente, em função da baixa perspectiva de vida da mulher no passado, pouca atenção foi prestada ao climatério/menopausa. No entanto, a situação mudou com o progressivo aumento da expectativa de vida feminina a partir da segunda metade do século.3 Essa mudança é evidenciada pelas estimativas do DATASUS, em 2007, cujos dados apontam que a população feminina brasileira totalizou mais de 98 milhões; neste universo, cerca de 30 milhões têm entre 35 e 65 anos de idade, o que significa que 32% das mulheres no Brasil estão na faixa etária em que ocorre o climatério.4
A saúde da mulher vem sendo discutida, nos últimos anos, de forma mais ampla, considerando-se o próprio conceito de saúde, no qual engloba aspectos biopsicossocioculturais. Algumas lacunas foram preenchidas nas propostas das políticas atuais, como a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher (PNAISMPolítica Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher), de 2004,4 que inclui aspectos que vão muito além do ciclo gravídico puerperal, como o climatério e a menopausa.
Embora os avanços sobre a saúde da mulher e, em especial, sobre o climatério sejam significativos, na prática, a abordagem à saúde da mulher ainda está associada aos aspectos relacionados ao corpo físico, pois, diferentemente da saúde sexual e reprodutiva do homem, a mulher possui marcos que sinalizam ou delimitam início ou fim de fases da vida, que estão associadas ao ciclo reprodutivo, como a menarca, a ruptura do hímen e a última menstruação. Esses marcos são visíveis, e cada cultura pode considerar aspectos que ocasionam maior ou menor valorização da fase inserida no contexto sociocultural.5
Dentre essas fases que a mulher experimenta ao longo da vida, o climatério e a menopausa, sem dúvida, representam uma etapa de grande relevância para a saúde pública, pois é um período no qual ocorrem alterações físicas, endócrinas e que ocasionam repercussões nas questões psicológicas, emocionais e sociais.
A menopausa é caracterizada por alterações hormonais que levam ao fim do período reprodutivo e exigem adaptações físicas, psicológicas e emocionais. Nesta fase, antigos conflitos podem emergir e ser revividos. O metabolismo, como um todo, sofre algumas alterações, especialmente relacionadas às funções do sistema endócrino, e apresenta diminuição da atividade ovariana. Os órgãos genitais, assim como o restante do organismo, mostram gradualmente os sinais de envelhecimento.6
O evento da menopausa pode ser vivenciado por algumas mulheres como a paralisação do próprio fluxo vital, gerando sentimentos de insatisfação e desmotivação e criando dúvida sobre tudo o que elas têm feito, com a sensação de que tudo está errado, sem saber bem o quê. É uma sensação de que tudo se desorganizou e de que a vida é um caos. Muitas mulheres se referem a essa fase como uma “sensação de tragédia iminente”.6
O conhecimento das condições de saúde dessa parcela da população, suas demandas por serviços de saúde e as necessidades sociais tornaram-se necessários para a formulação de políticas de saúde voltadas a um envelhecimento feminino mais sadio e com mais qualidade de vida. Assim, o Ministério da Saúde trouxe esse tema como sendo um dos objetivos da PNAISMPolítica Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher,4 criando, em 2008, com a publicação do Manual de Atenção à Mulher no Climatério/Menopausa,6 um conjunto de orientações aos profissionais de saúde direcionando à atenção integral e humanizada, considerando as diversidades e especificidades de cada mulher.
Cabe aos profissionais da saúde, especificamente ao da enfermagem, incorporar na prática a perspectiva da diversidade, atentando para a escuta de mulheres nas suas particularidades. Para isto, se faz necessário ter conhecimento sobre as transformações biológicas, psicológicas, sociais e culturais da mulher nesse período. Assim, é ideal que os profissionais que trabalham nessa área sejam capacitados permanentemente, podendo, deste modo, contribuir para o preparo da mulher diante do enfrentamento de sinais e sintomas vivenciados na menopausa.
Objetivos
Ao final da leitura deste artigo, o leitor será capaz de
- identificar as manifestações clínicas e emocionais da menopausa;
- entender o papel da equipe de enfermagem junto à mulher com menopausa;
- prestar cuidado de enfermagem à mulher com menopausa.