Introdução
Apesar dos avanços tecnológicos e do desenvolvimento mundial, a taxa global estimada de nascimentos pré-termo (PTpré-termo) para 2014 foi de 10,6%, sendo que, para o Brasil, essa estimativa foi maior (11,6%).1
Com o nascimento PTpré-termo, faz-se necessária estrutura que tenha recursos tecnológicos, humanos e terapêuticos especializados, a fim de atender às mais diversas e complexas demandas do recém-nascido (RNrecém-nascido). Essa estrutura é identificada nas modernas unidades de terapia intensiva neonatal (UTINunidade de terapia intensiva neonatals), nas quais a assistência ocorre de maneira contínua, e cujo surgimento tem proporcionado um aumento na sobrevida dos RNrecém-nascidos, principalmente, os recém-nascidos pré-termos (RNPTrecém-nascido pré-termos) extremos e de baixo peso.2
RNPTrecém-nascido pré-termos de baixo peso ou com malformações congênitas são, frequentemente, submetidos a hospitalizações em UTINunidade de terapia intensiva neonatal e, consequentemente, a procedimentos invasivos, entre eles, o uso de dispositivos para administração da terapia medicamentosa.3
Os RNrecém-nascidos em cuidados intensivos demandam a infusão de medicamentos, soluções, derivados do sangue e nutrientes,4 sendo necessária, para isso, a cateterização intravenosa periférica (CIPcateterização intravenosa periférica), ou mesmo a cateterização umbilical nas primeiras horas de vida, conforme a habilidade dos profissionais de saúde e as tecnologias disponíveis.
Dados de 4.206 crianças,5 de 278 hospitais de 47 países, distribuídos entre África, Ásia, Austrália/Nova Zelândia, Europa, Oriente Médio, América do Norte, América do Sul e Pacífico Sul, demonstraram que5
- 52,8% das coberturas eram de poliuretano sem bordas;
- a fita não estéril foi utilizada sobre a cobertura do cateter (30,2%) ou ao seu redor (29,7%);
- 81,5% das coberturas estavam limpas, secas e intactas;
- 35,8% dos cateteres continham conectores sem agulha;
- 48,4% dos cateteres intravenosos (IVs) receberam flushing com solução salina;
- em 35,9% dos cateteres não havia documentação relacionada à frequência do flushing;
- em 11,4% dos sítios de inserção dos cateteres foram observados sinais de alguma complicação.
Muitos desses danos estão relacionados a falhas durante a seleção da veia, a inserção e a cobertura do cateter, que podem comprometer a segurança do RNrecém-nascido e contribuir com potenciais complicações no sítio de cateterização, destacando-se infiltração,4,6–8 extravasamento,7,8 flebite e infecção,6–8 que demandarão repetidas cateterizações, atraso na administração da terapia IV (TIVterapia IV), danos ao endotélio vascular e impacto emocional para a criança, familiares e profissionais de saúde, além do aumento de custos hospitalares9 e do tempo de hospitalização do RNrecém-nascido na UTINunidade de terapia intensiva neonatal.
Pesquisa observacional e prospectiva realizada em uma UTINunidade de terapia intensiva neonatal, com o objetivo de descrever o perfil de RNrecém-nascidos que utilizaram cateter IV periférico e apresentaram fatores de risco para desenvolvimento de complicações, identificou que, entre os 145 RNrecém-nascidos que utilizaram 677 cateteres IVs periféricos, 95 apresentaram complicações associadas à prematuridade, ao uso de cateter venoso central (CVCcateter venoso central) e à intubação orotraqueal (IOTintubação orotraqueal), maior uso médio de cateteres, menor peso ao nascer e maior tempo de hospitalização.10
Assim, em UTINunidade de terapia intensiva neonatal, cateteres IVs periféricos, apesar de comumente utilizados, envolvem riscos e complicações locais10,11 para o RNrecém-nascido, pois a duração e a viabilidade são limitadas e podem envolver várias tentativas de inserção.11
Conhecer complicações e fatores de risco associados pode fundamentar e qualificar o cuidado de enfermagem. Para tanto, os profissionais responsáveis pela CIPcateterização intravenosa periférica precisam conhecer a anatomia e a fisiologia do sistema vascular, considerar as peculiaridades do RNrecém-nascido, além de ter competência clínica, técnica e habilidade manual para que esse procedimento possa ser realizado de forma cada vez menos traumática e livre de danos.
Por isso, o enfermeiro deve conhecer a terapêutica medicamentosa que será estabelecida ao RNrecém-nascido, para definir a melhor escolha de cateterização no que tange à eleição da veia, à escolha do dispositivo e ao preparo da equipe de enfermagem.
Nesse contexto, é primordial que os profissionais de saúde, em especial os da enfermagem, conheçam e realizem cuidados baseados em evidências, para fortalecer a filosofia do cuidado seguro e respeitoso para o RNrecém-nascido que demanda terapia intravenosa (TIVterapia IV) por via periférica, tanto durante a inserção quanto durante a manutenção, para que a retirada do cateter ocorra apenas ao término da terapêutica. No presente capítulo, serão abordadas complicações como infiltração, extravasamento e flebite.
Objetivos
Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de
- descrever a composição dos cateteres IVs utilizados em RNrecém-nascidos que pode influenciar no desenvolvimento de complicações locais associadas ao uso de TIVterapia IV;
- identificar as propriedades químicas de medicamentos e de soluções IVs que podem influenciar no desenvolvimento de complicações relacionadas ao uso de cateteres inseridos em RNrecém-nascidos;
- definir as complicações associadas ao uso de TIVterapia IV periférica mais comuns na população de RNrecém-nascidos;
- reconhecer os fatores de risco associados a cada complicação decorrente do uso de TIVterapia IV periférica em RNrecém-nascidos;
- distinguir os sinais e os sintomas característicos de cada complicação decorrente do uso de TIVterapia IV periférica em RNrecém-nascidos;
- discutir as escalas utilizadas para graduar cada complicação IV em RNrecém-nascidos;
- listar os cuidados de enfermagem para a prevenção e tratamento das complicações associadas ao uso de TIVterapia IV em RNrecém-nascidos.