- Introdução
Questiona-se por que algumas pessoas que agem de forma respeitosa para com o outro são capazes de abrir mão de reforçadores pessoais em prol de ações que tragam benefício para a coletividade, ao passo que outras agem sob controle do que é bom apenas para si, mesmo tendo ciência de que a sua ação pode prejudicar terceiros. Dúvidas dessa natureza remetem ao chamado comportamento moral, tema que instiga a análise e a reflexão de estudiosos desde a Antiguidade (escritos de Aristóteles já abordavam a ética e a moral).
O presente capítulo versa sobre o comportamento moral, mostrando como ele tem sido alvo de estudos desde a Antiguidade e exerce um importante papel organizador das sociedades ao direcionar o comportamento das pessoas para ações que considerem consequências prazerosas para o indivíduo e, ao mesmo tempo, respeitem os direitos e as necessidades dos demais.
Na clínica, o comportamento moral tem sido alvo de estudos de psicólogos com diferentes concepções teóricas. O modo como cada pessoa se comporta nos diferentes contextos em que vive é resultado de uma longa história de aprendizagem iniciada no momento de seu nascimento e sofre influência das relações estabelecidas ao longo da vida.
Sob uma perspectiva cognitivista, Piaget e Kohlberg desenvolveram propostas para a compreensão do desenvolvimento moral. Para a análise do comportamento, o comportamento moral é um comportamento operante, sujeito às leis do aprendizado, descrito como comportamentos pró-sociais por Schlinger.
Aos poucos, na relação com o ambiente, a personalidade do indivíduo vai sendo moldada. A família é o primeiro grande núcleo socializador da criança, portanto, as práticas parentais ganham especial significado.
Ao consultório, é comum serem levados problemas envolvendo questões pertinentes ao desenvolvimento moral, como violação dos direitos do outro, comportamentos agressivos, como nos transtornos de conduta, no transtorno de oposição desafiante (TODtranstorno de oposição desafiante) ou em casos de bullying. No cerne dessas condições, está o questionamento entre o que é certo e o que é errado, exigindo do profissional conhecimento e reflexão sobre o desenvolvimento moral para poder melhor auxiliar a criança ou o adolescente e seus familiares.
Estudos controlados mostraram que o treinamento de pais com ou sem videoteipe tem sido de valia no tratamento de transtornos de conduta. A literatura em psicoterapia baseada em evidências mostra que, em casos de bullying, intervenções psicológicas têm auxiliado a vítima e as testemunhas, ao passo que os resultados com relação ao comportamento do agressor ainda não são encorajadores. O objetivo deste capítulo é analisar uma perspectiva de compreensão do comportamento moral, apoiada nos princípios da aprendizagem, base da análise do comportamento.
- Objetivos
Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de
- definir comportamento moral, analisando o percurso histórico do tema, da Antiguidade até os dias atuais;
- comparar as perspectivas do comportamento moral sob o viés de algumas correntes psicológicas;
- reconhecer o importante papel do contexto na construção do comportamento moral de crianças e adolescentes;
- relacionar o processo de construção do comportamento moral com a história de aprendizagem de crianças e adolescentes;
- identificar problemas levados para a clínica relacionados ao desenvolvimento moral de crianças e adolescentes.
- Esquema conceitual