- Introdução
Toda emoção, do ponto de vista evolutivo, tem uma função para a sobrevivência do ser humano. Nesse contexto, a ansiedade prepara o homem para agir diante dos perigos e das ameaças da vida, auxiliando-o a manter o seu bem-estar.
Em contatos interpessoais, o homem também experimenta algum grau de ansiedade, o que o torna apto a interagir com os outros e a alcançar os resultados desejados. A ansiedade deixa a pessoa em alerta para lidar com situações novas e/ou desconhecidas. Portanto, espera-se algum grau de apreensão, como, por exemplo, no primeiro dia de aula, no primeiro encontro amoroso, em uma entrevista de emprego, antes de um discurso público.
Outro aspecto que merece destaque é que com a modernidade e com a realidade cada vez mais competitiva, o homem tem evoluído para competir por atratividade e gerar sentimentos de aprovação e afeto para com o seu próximo. Nesse cenário, a possibilidade de falhar torna-se uma ameaça, o que aumenta a ansiedade e gera efeitos na saúde e na regulação fisiológica. Logo, pode-se afirmar que a ansiedade é um traço natural presente na vida do ser humano e cujo valor adaptativo tem função relevante para a sua sobrevivência.1
Quando o nível de ansiedade social torna-se intenso e desproporcional à situação de contato interpessoal ou de desempenho, ou mesmo a ambas, e acarreta sofrimento excessivo, além de interferir de modo acentuado na rotina do indivíduo, tem-se caracterizado o transtorno de ansiedade social (TAStranstorno de ansiedade social) ou fobia social (FS).
No TAStranstorno de ansiedade social, o indivíduo tem um medo constante de ser avaliado negativamente e um sentimento incapacitante de se comportar de modo humilhante ou embaraçoso e ser desaprovado ou rejeitado pelo outro. Ainda, esse transtorno é associado a traços de personalidade, como timidez excessiva. Então, considera-se que há um continuum entre timidez e TAStranstorno de ansiedade social.
A literatura científica afirma que a timidez é uma reação de ansiedade normal que geralmente contribui para o bom desempenho em situações sociais. Gera desconforto e inibição quando a pessoa está na presença de outras e/ou perante situações novas, além de ter natureza multifatorial (herança genética e história de vida) e ser bastante comum na adolescência (preocupação com a imagem).2,3
A timidez passa a ser considerada como desviante do esperado quando a ansiedade social normal (quanto ao desempenho em público ou à interação social) torna-se patológica, havendo perdas funcionais para o indivíduo (padrão de evitação), bem como alto grau de sofrimento. Nessas condições, caracteriza-se como TAStranstorno de ansiedade social.4
Na infância, o conceito de timidez não é novo. Entretanto, recentemente, tem se reconhecido que a ansiedade social nessa fase é um transtorno grave e prevalente, com implicações imediatas e de longo prazo para o funcionamento acadêmico, social e emocional. Dadas essas considerações, o diagnóstico precoce do TAStranstorno de ansiedade social tem sido apontado como uma questão relevante para a prevenção do transtorno.
Principalmente no campo educacional, questões relativas à personalidade e ao desenvolvimento da criança que abordam a temática têm sido bastante enfatizadas, de forma que timidez e TAStranstorno de ansiedade social possam ser diferenciados, para que desde cedo medidas cabíveis sejam tomadas. Espera-se que ações a respeito tenham impacto positivo na saúde mental da população e garantam maior adesão ao tratamento do TAStranstorno de ansiedade social.
- Objetivos
Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de
- diferenciar ansiedade normal de ansiedade patológica em situações sociais;
- definir o TAStranstorno de ansiedade social, com vistas a seu diagnóstico;
- contextualizar o TAStranstorno de ansiedade social, considerando incidência na população, fatores desencadeantes e mantenedores, perfil do paciente e consequências para a vida;
- descrever as formas de tratamento psicoterápico padrão-ouro e as técnicas envolvidas;
- elencar fatores preditivos que influenciam na adesão ao tratamento.
- Esquema conceitual