Objetivos
Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de
- conceituar a leucemia linfoide aguda (LLA);
- reconhecer os principais problemas de enfermagem relacionados à situação de emergência na LLA;
- compreender a importância do processo de enfermagem (PE) em pacientes com LLA;
- identificar os principais diagnósticos de enfermagem (DEs) e intervenções de enfermagem frente a uma emergência de LLA;
- implementar o PE no paciente com LLA em uma unidade de emergência, sob a perspectiva da Teoria da Adaptação de Callista Roy.
Esquema conceitual
Introdução
A leucemia é uma doença caracterizada pela proliferação anormal de células leucocitárias na medula óssea, resultante de fatores genéticos e ambientais, comprometendo a produção de células sanguíneas saudáveis, substituindo-as por células malignas, de modo que ocorre a mutação genética em uma célula sanguínea imatura, transformando-a em uma célula cancerígena. Essas células multiplicam-se rapidamente e têm uma taxa de sobrevivência superior à das normais. Por consequência, as células sanguíneas saudáveis da medula óssea são gradualmente substituídas por células cancerígenas.1
De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (INCA),1 dentre os tipos de leucemia, destacam-se a leucemia mieloide aguda (LMA), a leucemia mieloide crônica (LMC), a LLA e a leucemia linfoide crônica (LLC). A incidência da LLA varia globalmente, influenciada em parte por diferenças nos métodos de diagnóstico e na notificação de casos. Nos Estados Unidos, a taxa de incidência da LLA é maior entre hispânicos (43 casos por milhão) e brancos norte-americanos (36 casos por milhão) do que entre negros norte-americanos (15 casos por milhão) e asiáticos.2
O pico de incidência da LLA ocorre entre os 2 e os 5 anos de idade, sendo mais frequente em meninos do que em meninas. Nos Estados Unidos, estima-se que surgem aproximadamente 6 mil novos casos de LLA por ano, com uma proporção de 1,3 homens para cada mulher. A maioria dos pacientes são crianças, com 60% dos casos ocorrendo em indivíduos menores de 20 anos.2,3
Segundo dados do Observatório de Oncologia, que compila informações de fontes governamentais como o Ministério da Saúde (MS), o INCA e o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no Brasil, o número de casos de leucemia registrados entre 2020 e 2022 totalizou cerca de 11 mil, resultando em aproximadamente 6 mil óbitos relacionados à doença.1,4
Em doenças hematológicas malignas, é comum que os pacientes necessitem de hospitalização, seja em função da supressão do sistema imunológico, seja por causa do comprometimento sistêmico, ou para receber tratamento quimioterápico. Essas condições hematológicas tornam os pacientes mais suscetíveis a complicações, como infecções, dor, lesões na mucosa oral, fadiga e desnutrição, que podem agravar seu estado clínico e interferir na recuperação. Isso muitas vezes resulta em atendimentos em setores de emergência e, em alguns casos, na admissão em unidade de terapia intensiva (UTI).5
A maioria dos pacientes diagnosticados com leucemia aguda precisa ser hospitalizada logo no início, em virtude das complicações associadas à doença e ao seu tratamento. Há cinco situações emergenciais de saúde mais comuns: infecção, hemorragia, hiperleucocitose, síndrome de lise tumoral e complicações que podem surgir após o transplante de células-tronco hematopoiéticas. Embora a leucemia aguda possa inicialmente apresentar febre de origem tumoral associada, é mais frequente que, nesses pacientes, a febre seja causada pela infecção.6
Ademais, como base fundamental para o processo de cuidado, a enfermagem desenvolve o uso de teorias ou modelos conceituais que organizam de maneira ordenada e científica os conceitos centrais da profissão. Essas teorias direcionam a coleta de dados, a identificação de alterações no quadro clínico do paciente, as intervenções de enfermagem e a avaliação dos resultados. Um dos modelos teóricos oportunos para nortear a aplicação do processo de enfermagem nas unidades de emergência é o modelo conceitual da adaptação, desenvolvido por Callista Roy, que incorpora o conceito de estímulos e respostas, observando os comportamentos resultantes das adaptações.7,8
A aplicação do PE no contexto da LLA, aliada à Teoria da Adaptação de Callista Roy, busca fundamentar de forma abrangente o atendimento às necessidades físicas, psicológicas e sociais únicas dos indivíduos acometidos. Nesse sentido, a necessidade e a importância da assistência de enfermagem respaldada cientificamente tornam-se evidentes. Este capítulo visa fornecer informações que possam melhorar a assistência aos pacientes com LLA, buscando melhores desfechos para aqueles atendidos em unidades de emergência, contribuindo assim para o aprimoramento da qualidade do cuidado e para avanços na prática de enfermagem.