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PSICOLOGIA ANTIRRACISTA NA PRÁTICA CLÍNICA

Autores: Livia da Silva Marques, Vanessa Dordron de Pinho
epub-BR-PROPSICO-C7V1_Artigo3

Objetivos

Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de

  • desenvolver letramento racial;
  • identificar as diferentes formas de racismo e seus efeitos sobre a saúde mental da população negra;
  • refletir sobre o impacto dos fatores sociais, históricos e culturais no desenvolvimento das teorias psicológicas;
  • aprimorar a sensibilidade empática acerca das especificidades das demandas da população negra;
  • refletir sobre a consciência racial e dar-se conta de que esse fator não é isento na terapia;
  • atentar-se ao manejo da transferência e contratransferência inter e intrarracial;
  • atuar com as especificidades demandadas pelas minorias raciais;
  • evitar a utilização de condutas e estratégias que são reprodutoras do racismo.

Esquema conceitual

Introdução

O racismo envolve a suposição de que existem raças superiores e inferiores. O imaginário social demarca o negro em um lugar inferior e menos valorizado, enquanto toma como “natural” a melhor posição social ocupada pela população branca.1 Experiências de racismo afetam a saúde mental da população negra. Contudo, na literatura nacional, a produção em psicologia clínica sobre o tema é escassa. Há uma carência de modelos clínicos para que psicoterapeutas possam atuar com as demandas dessa população.

Fatores sociais, políticos, econômicos e históricos impactam o desenvolvimento das pessoas. Da mesma forma, têm impacto no desenvolvimento das ciências. Assim, é preciso considerar que a própria psicologia não é isenta da influência de tais fatores. As teorias psicológicas, em geral euramericanas e homogeneizantes, foram desenvolvidas por e para pessoas brancas, e não conseguiram responder às necessidades de saúde mental de populações não brancas. No contexto internacional, para abarcar a pluralidade humana, foi impulsionada a busca por teorias e paradigmas psicológicos não etnocêntricos.2

Contudo, no Brasil, há um atraso em relação a outros países que vivenciam maior recepção de imigrantes oriundos de diferentes culturas.3 É necessário que a formação do psicólogo seja crítica e contemple em sua pauta as especificidades dos grupos minoritários, incluindo o atravessamento racial e a revisão de modelos teóricos tomados como universais.

Visando à oferta de serviços psicológicos de qualidade à população negra brasileira, que favoreçam a promoção e prevenção da saúde mental desse grupo, este trabalho pretende contribuir para a formação de profissionais de saúde, principalmente daqueles que atuam com a psicologia clínica (consultório e clínica ampliada), por meio de discussões e relatos clínicos sobre a temática. Pretende-se apresentar o conceito de racismo e discutir como esse fenômeno é velado no Brasil; tratar dos seus efeitos sobre a saúde mental de negras e negros; convidar à reflexão sobre a formação de psicólogos, dado que não se encontram aptos a identificar as demandas clínicas oriundas do racismo; repensar os modelos teóricos que predominam na psicologia; por fim, contemplar as possibilidades de adaptação das intervenções para as especificidades desse grupo racial, a partir do enfoque da Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC).

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