Objetivos
Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de
- revisar o processo de fabricação da órtese;
- avaliar a qualidade da órtese;
- classificar os diferentes tipos de órteses de tornozelo e pé (AFOs);
- identificar os diferentes tipos de marcha na paralisia cerebral (PC);
- realizar o adequado raciocínio clínico durante a avaliação e a prescrição de AFOs na PC.
Esquema conceitual
Introdução
As AFOs são um recurso terapêutico convencional e complementar na reabilitação, frequentemente usadas por crianças com PC para prevenir deformidades musculoesqueléticas e/ou gerar estabilidade em ortostatismo e na marcha.1 Elas são consideradas uma opção de tratamento convencional frequentemente usada em combinação com outras condutas terapêuticas, como alongamento, posicionamento em ortostatismo e treino de marcha.
A melhoria do alinhamento biomecânico promovido pela AFO amplia habilidades funcionais2–4 e aumenta o controle postural e a eficiência da marcha,1 com efeitos positivos no comprimento da passada,5–8 na velocidade5–7,9–11 e no gasto energético.9,10,12 O pé faz parte do membro inferior distal e se articula com a perna por meio do tornozelo, uma articulação em dobradiça entre a tíbia, a fíbula e o tálus.1–12
O pé pode ser dividido em três partes: o antepé, compreendendo as falanges e os metatarsos; o mediopé, compreendendo o navicular, o cuboide e os cuneiformes; e o retropé, compreendendo o tálus e o calcâneo. O antepé se articula com o mediopé por meio da articulação tarsometatarsal e este com o retropé por meio da articulação transversa do tarso.1–12
O pé ainda apresenta arcos, decorrentes da disposição óssea, que são sustentados por ligamentos e músculos: dois arcos longitudinais e um transverso. O arco longitudinal medial é formado por calcâneo, tálus, navicular, cuneiforme e três primeiros metatarsos. O arco longitudinal lateral é formado pelo calcâneo, pelo cuboide e por dois metatarsos laterais. O arco transverso é formado pelo navicular, pelos cuneiformes, pelo cuboide e por cinco metatarsos. As estruturas que formam e sustentam os arcos criam uma base elástica e adaptável, que suporta o corpo e favorece a marcha bípede.1–12
De acordo com a estrutura da Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde — versão para Crianças e Jovens (CIF-CJ), os desfechos conquistados com o uso das órteses podem ser percebidos no nível de funções e estruturas do corpo e/ou atividades e participação.13 No entanto, para que a órtese funcione como um recurso facilitador, e não uma barreira, é necessária a organização das informações obtidas durante a avaliação, favorecendo o raciocínio clínico para a sua assertiva indicação, de acordo com os objetivos terapêuticos traçados em conjunto com o paciente e a sua família.
Nesse cenário, neste capítulo serão abordados os múltiplos fatores que devem ser simultaneamente analisados, favorecendo a tomada de decisão acerca da prescrição de órtese para indivíduos com PC, contribuindo para sua reabilitação.