Objetivos
Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de
- conceituar a infecção do trato respiratório superior;
- avaliar e diagnosticar a rinossinusite aguda (RSA) e a otite média aguda (OMA);
- discutir as opções de tratamento e a utilização ou não de antibioticoterapia.
Esquema conceitual
Introdução
As infecções das vias aéreas superiores (IVAS) têm sido reconhecidas como um dos problemas médicos mais comuns em todo o mundo, trazendo grande impacto na saúde pública e pressão sobre os serviços de saúde, principalmente nos meses do outono e inverno. A maior parte dos pacientes com IVAS desenvolve quadros leves e autolimitados, a depender da presença ou não de fatores de risco, como idade, comorbidades e imunossupressão.1
As IVAS podem ser caracterizadas por um grupo de doenças que incluem resfriado comum, rinossinusite, faringite e otite média. Os principais agentes infecciosos relacionados às IVAS são os vírus, como adenovírus, parainfluenza vírus, rinovírus, vírus herpes simples, vírus sincicial respiratório, vírus Epstein-Barr, vírus influenza, vírus Coxsackie A, coronavírus e citomegalovírus, sendo clinicamente difícil distingui-los durante a apresentação da doença.2
Menos de 2% dos pacientes podem ter um quadro de IVAS iniciado por agente bacteriano. Aqueles que podem surgir na sequência de uma infecção viral são principalmente:3
- Streptococcus β-hemolíticos;
- Corynebacterium diphtheriae;
- Neisseria gonorrhoeae;
- Arcanobacterium haemolyticum;
- Chlamydia pneumoniae;
- Mycoplasma pneumoniae;
- S. pneumoniae;
- Haemophilus influenzae;
- Bordetella pertussis;
- Moraxella catarrhalis.
|
1 |
Paciente C.L.B., sexo feminino, 45 anos de idade, cor branca, professora de biologia, casada, católica. História mórbida atual: há 3 dias iniciou com coriza hialina, lacrimejamento, tosse e espirros. Nega febre, cefaleia ou outros sintomas. A sua filha de 1 ano e 10 meses na semana passada estava com quadro clínico semelhante.
História mórbida pessoal: refere ter tido asma na infância, nega cirurgias ou medicamentos de uso crônico.
História mórbida familiar: avó paterna com câncer de mama aos 69 anos.
Condições e hábitos de vida: nega tabagismo ou etilismo. Mora com o marido e dois filhos.
Exame físico:
- sinais vitais:
- temperatura: 36,8°C;
- FC: 70bpm;
- FR: 16ipm;
- PA: 110x80mmHg;
- SpO2: 98%;
- paciente em bom estado geral, lúcida, eupneica em ar ambiente, anictérica;
- cabeça e pescoço: sem linfonodos palpáveis. Orofaringe leve, hiperemia bilateral, sem secreções ou ulcerações;
- rinoscopia: leve hiperemia em cornetos médios maior à direita, secreção hialina visualizada;
- tórax: murmúrio vesicular presente sem ruídos adventícios. Bulhas rítmicas normofonéticas em 2 tempos;
- abdome: plano, flácido, indolor à palpação, com ruídos hidroaéreos presentes;
- membros inferiores: sem edema ou empastamento e quentes.
|
2 |
C.L.B. aproveitou a sua consulta para levar a filha B.L.B., 1 ano e 10 meses, cor parda. História mórbida atual: há 5 dias começou a ficar chorosa, a reduzir a ingesta alimentar e a levar a mão ao ouvido, associados à febre aferida de 38,2°C nos primeiros 2 dias dos sintomas. Apresentou, 1 semana antes, congestão nasal, lacrimejamento e tosse seca.
História mórbida pessoal: nasceu de parto normal a termo, desenvolvimento psicomotor adequado. Vacinas em dia.
História mórbida familiar: bisavó paterna com câncer de mama aos 69 anos.
Condições e hábitos de vida: mora com os pais em casa de alvenaria. Frequenta creche há 3 meses.
Exame físico:
- sinais vitais:
- temperatura: 37,5°C;
- FC: 100bpm;
- FR: 16ipm;
- SpO2: 99%.
- paciente chorosa, em regular estado geral, eupneica em ar ambiente, anictérica;
- cabeça e pescoço: linfonodos palpáveis móveis, elásticos, de 0,5cm nas cadeias cervicais. Orofaringe sem alterações;
- otoscopia: ouvido D com canal auditivo externo sem alterações, membrana timpânica (MT) translúcida; ouvido E com canal auditivo externo sem alterações, MT abaulada e com hiperemia;
- tórax: murmúrio vesicular presente sem ruídos adventícios. Bulhas rítmicas normofonéticas em 2 tempos;
- abdome: plano, flácido, indolor à palpação, com ruídos hidroaéreos presentes.