Objetivos
Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de
- descrever o conceito de estomaterapia e a sua importância enquanto especialidade para a enfermagem;
- identificar a importância da estomaterapia no processo de cuidado à pessoa com feridas, estomias e incontinências nos mais variados contextos de cuidado em saúde;
- propor uma sistematização do cuidado de enfermagem em estomaterapia.
Esquema conceitual
Introdução
O presente capítulo busca trazer reflexões e orientações sobre a estomaterapia, especialidade da enfermagem responsável pelo cuidado de pessoas com feridas, estomias e incontinências, bem como a sistematização do cuidado de enfermagem nessa área. Trata-se de uma especialização exclusivamente para enfermeiros, que reúne componentes teóricos, práticos e científicos, voltada a prover conhecimentos e habilidades na melhoria da assistência de enfermagem em ações de promoção, prevenção, tratamento e reabilitação dessas pessoas.
A especialidade teve origem datada de 1950, em Cleveland, nos Estados Unidos da América, em uma relação direta com o desenvolvimento das técnicas cirúrgicas, em especial na confecção de estomas intestinais.1 No Brasil, teve seu marco inicial na década de 1980 e, com a formação de estomaterapeutas em escolas no exterior,2 foi criado o 1º Curso de Especialização em Enfermagem em Estomaterapia na Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo (EE-USP), sob responsabilidade da Professora Dra. Vera Lúcia Conceição de Gouveia Santos.3
Em 2011, o World Council of Enterostomal Therapists (WCETTM) outorgou o Memorandum of Understanding à Associação Brasileira de Estomaterapia: feridas, estomias e incontinência (Sobest), permitindo que esta faça análise dos documentos dos cursos de estomaterapia no país, acreditando-os nacional e internacionalmente. O WCETTM é o órgão oficial da estomaterapia mundial, abrangendo 55 países na atualidade, e tem como finalidade a promoção dos especialistas e a normalização da especialidade em todo o mundo. A Sobest é o único órgão oficial da estomaterapia no Brasil desde sua fundação, em 1992.4
O enfermeiro especialista em estomaterapia é definido como aquele que possui um domínio avançado sobre um determinado campo da enfermagem, onde em seu cotidiano, além dos cuidados assistenciais, executa papéis de cunho clínico, gerencial, ensino, pesquisa e consultoria.5 Na prática diária, o estomaterapeuta, em meio à versatilidade das atribuições, exerce suas funções que contemplam cuidados aos indivíduos, família e comunidade, bem como ações educativas à equipe de saúde, tendo o seu processo de trabalho organizado e amparado na Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE). A sistematização do cuidado em enfermagem às pessoas com estomias, feridas e incontinências se traduz em um norte para identificação dos problemas de saúde e doença.
Nesse raciocínio, a SAE é um processo metodológico em que o enfermeiro organiza a assistência de modo a prestar o cuidado integral e singular com qualidade por meio do processo de enfermagem (PE), servindo este de eixo orientador para realização da consulta de enfermagem.6 No tocante à consulta em estomaterapia, estudos trazem que esta ainda não se configura em uma realidade, especialmente no contexto brasileiro, mas apontam sobre o despertar do interesse e a importância da implementação desta nos serviços.7
Há que se destacar a expansibilidade dessa linha de cuidado, incitando estomaterapeutas ao empreendedorismo e maior autonomia à tomada de decisões em relação ao cuidado em pauta. O campo de atuação do estomaterapeuta é muito amplo, tanto na área assistencial quanto no ensino, na pesquisa, na administração de instituições de saúde e ensino, na assessoria técnica em empresas de produtos médico-hospitalares e na assessoria e consultoria na assistência especializada (feridas, estomias e incontinências), além de projetos voltados para novos ambulatórios ou clínicas de enfermagem.8
Internacionalmente, alguns estudos apontam o quanto a prática da consulta em estomaterapia é desafiadora ao enfermeiro especialista. Pesquisa realizada em Portugal ratifica a sua valoração no acompanhamento, na otimização e na personalização das intervenções de enfermagem, ajustadas às necessidades específicas de cada pessoa.9 Um estudo asiático demonstrou que o estomaterapeuta desempenha uma variedade de modelos assistenciais, principalmente no ambiente hospitalar, além de auxiliar na educação continuada do departamento de enfermagem, atendendo, também, de forma ambulatorial em clínicas especializadas.10
Considerando as três áreas de conhecimento da especialidade, no que concerne a estomias, o enfermeiro é um dos primeiros integrantes da equipe multidisciplinar a cuidar desse paciente privando pela segurança, prevenindo e detectando precocemente complicações. Em relação às feridas, o cuidado requer uma multiplicidade de conhecimentos que interfere no processo de cicatrização, como etiologia, comorbidades, status nutricional, grau de hidratação e outras.11
Nas incontinências, por sua vez, existem muitas pessoas de várias faixas etárias com esses distúrbios de saúde e carente de cuidados.11 Tais particularidades elevam a consulta de enfermagem em estomaterapia a um patamar de oportunidades, e, de caráter singular, resulta na diferença do plano terapêutico a ser proposto.
Pelo exposto, o presente capítulo busca trazer reflexões e orientações sobre a estomaterapia, as suas interfaces e a estruturação para sistematização desse cuidado.