- Introdução
Inovar em tecnologia assistiva pode parecer algo restrito aos grandes cientistas e aos engenheiros altamente qualificados, contudo o ato inventivo e a capacidade de criar são talentos inerentes e presentes em qualquer ser humano. Partindo do pressuposto de que a inspiração para o ato criativo reside nas necessidades/em problemas a serem solucionados, percebe-se que as habilidades e competências dos fisioterapeutas neurofuncionais são qualidades em potencial que representam fontes de inspiração para a criação de produtos assistivos.
Fisioterapeutas neurofuncionais são capazes de reconhecer a complexidade das relações observadas entre as estruturas e as funções nervosas danificadas. Isso se torna possível por sua interação com a limitação da atividade humana e a restrição da participação, influenciadas por fatores contextuais definidos pelo ambiente e pelas características pessoais com a deficiência de origem nervosa congênita ou adquirida.
Neste artigo, serão apresentados alguns princípios que deram sustentabilidade para a produção de soluções tecnológicas, por meio do trabalho cooperativo de um grupo multiprofissional composto por médicos, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, educadores físicos, profissionais do esporte, psicólogos, engenheiros e desenhistas industriais. A produção dessas soluções envolveu ações interdisciplinares (atividades de ensino, pesquisa, desenvolvimento e extensão inovadora) e incluiu consultas ao potencial usuário do produto em desenvolvimento, representando uma fonte de inspiração para o ato criativo.
O trabalho cooperativo do grupo multiprofissional em ações interdisciplinares permitiu idealizar um conjunto de dispositivos que utilizam, nas bases de sua aplicação, a geração de propulsão para transferências funcionais e locomoção a partir da estimulação elétrica de músculos paralisados pela lesão medular. Na proposta aqui apresentada, discutem-se os avanços científicos e tecnológicos que possibilitaram e possibilitam conjecturar tais ideias, inicialmente abstratas, que se concretizaram em dois modelos de simulação dos produtos que se pretende empreender e que são relatados nos casos descritos.1,2
De maneira bastante simplificada, para que fisioterapeutas neurofuncionais se interessem pelo assunto, serão apresentadas, nos tópicos a seguir, as informações mínimas e necessárias para compreender os princípios de aplicação dos produtos idealizados. Além disso, serão descritas metodologicamente as etapas para prospectar e desenvolver dispositivos a partir de abstrações inspiradas nas necessidades/problemas enfrentados pelos pacientes com lesão medular que são atendidos por fisioterapeutas neurofuncionais.
O objetivo geral deste artigo é proporcionar fundamentação teórica, científica e tecnológica para que fisioterapeutas neurofuncionais aprendam a modelar ideias que possam ser transformadas em produtos assistivos que solucionem necessidades e problemas enfrentados por populações de pessoas com deficiências físicas, sensoriais, intelectuais ou mistas. Acredita-se que essa leitura tenha o potencial de inspirar fisioterapeutas neurofuncionais na busca de parcerias com outros profissionais para concretizar ideias sobre tais produtos. Nesse sentido, espera-se que o fisioterapeuta chegue às seguintes conclusões e adote tais ações:
- entenda que ele faz parte de um conjunto de profissionais que assume papel fundamental na oferta de produtos assistivos com potencial para transformar a vida de pessoas com algum tipo de deficiência;
- compreenda que ele pode e deve aplicar suas habilidades e competências no desenvolvimento de tecnologias assistivas;
- reflita sobre sua capacidade de transformar ideias em produtos assistivos que, além de impactar a vida de pessoas, podem ser fonte de renda se bem organizados em um plano de negócios empreendedor;
- motive-se a investir seu intelecto no ato criativo de produtos tecnológicos assistivos.
- Objetivos
Ao final da leitura deste artigo, o leitor será capaz de
- reconhecer que o fisioterapeuta, junto com outros profissionais, é agente no processo de idealização, modelação, desenvolvimento, validação e inovação em tecnologia assistiva;
- identificar o processo criativo de um produto tecnológico assistivo como possibilidade de ideia inovadora para um plano de negócios empreendedor na área de saúde, treinamento e reabilitação;
- transformar ideias abstratas em modelos de simulação (protótipos) que forneçam subsídios para o desenvolvimento e a inovação de produtos assistivos;
- desenvolver a capacidade inventiva e exercitar a habilidade de criar produtos assistivos;
- descrever a rota de desenvolvimento tecnológico e inovação de um produto assistivo.
- Esquema conceitual