- Introdução
A paralisia cerebral (PCparalisia cerebral) compreende um grupo de distúrbios no desenvolvimento da postura e do movimento que causam limitações das atividades em consequência de lesões não progressivas que ocorreram no cérebro imaturo. As desordens motoras são frequentemente acompanhadas de déficits sensoriais, cognitivos, perceptuais e comportamentais, bem como crises convulsivas e problemas musculoesqueléticos secundários.1
Na PCparalisia cerebral, a postura e a marcha possuem padrões variáveis, que tendem a se modificar com a idade e as intervenções em uma criança com PCparalisia cerebral espástica, por exemplo. Uma tendência à marcha com o tornozelo em flexão plantar pode se modificar para uma marcha com flexão de quadril e joelhos e, eventualmente, uma marcha em agachamento (em inglês, crouch gait). As crianças com acometimento bilateral apresentam comprometimento proximal muito mais evidente. Essas alterações estão mais relacionadas com a fase de apoio médio da marcha.2
O treino de marcha em esteira tem por base as teorias do aprendizado motor, a neuroplasticidade, a memória e a ativação neuromotora. O princípio de tarefa-específica e a prática repetitiva são de suma importância para o desenvolvimento ou a melhora da habilidade motora, promovendo a plasticidade neural e a recuperação motora. O treino de marcha em esteira com suporte parcial de peso, de forma repetida, gera uma série de estímulos aferentes que promovem, em resposta, ações motoras, de forma organizada, com o recrutamento seletivo dos músculos a cada etapa da marcha.3
O treino em esteira com suporte parcial de peso tem sido considerado uma das terapias funcionais (relacionada à tarefa) mais bem-sucedidas para membros inferiores (MMIImembros inferiores).
Além das terapias convencionais realizadas na fisioterapia, que visam a estimular a recuperação da marcha, o interesse pela terapia robótica para facilitar o treino e a habilidade da marcha em crianças com PCparalisia cerebral tem aumentado. Um dos equipamentos de marcha robótica utilizados na reabilitação é o Lokomat® (Hocoma AG, Volketswil, Suíça), uma órtese robótica acoplada aos MMIImembros inferiores e que auxilia o movimento da marcha sob uma esteira rolante, associada a um sistema de suspensão de peso corporal e um software que controla a assistência das órteses e a velocidade da esteira durante o treino de marcha. O dispositivo Lokomat® pediátrico (Hocoma AG, Volketswil, Suíça) foi o primeiro equipamento adaptável para o uso em crianças.
O presente artigo contemplará a terapia robótica e o treinamento locomotor na PCparalisia cerebral. Além disso, serão abordados brevemente os tipos e a classificação da PCparalisia cerebral para compreensão das indicações e contraindicações da terapia robótica.
- Objetivos
Ao final da leitura deste artigo, o leitor será capaz de
- avaliar o prognóstico da marcha na PCparalisia cerebral;
- descrever os princípios neurofisiológicos da marcha;
- reconhecer os princípios básicos da robótica;
- indicar os objetivos da terapia robótica;
- avaliar as indicações e contraindicações da terapia robótica na PCparalisia cerebral;
- reconhecer o dispositivo robótico Lokomat® e suas vantagens na pediatria;
- identificar as vantagens da realidade virtual (RVrealidade virtual) com os sistemas robóticos;
- reconhecer a necessidade de estudos que demonstrem, com maior precisão, os resultados que podem ser alcançados na reabilitação por meio do treino de marcha com dispositivo robótico.
- Esquema conceitual