Objetivos
Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de
- descrever as principais tecnologias emergentes utilizadas na área da fisioterapia neurofuncional do adulto no contexto brasileiro, identificando seus principais desafios;
- discutir a utilização prática de tecnologias emergentes na área da fisioterapia neurofuncional do adulto no contexto brasileiro, tanto no processo de avaliação quanto na elaboração e execução do plano terapêutico pelo fisioterapeuta;
- analisar criticamente questões éticas e morais do uso de tecnologias emergentes na área da fisioterapia neurofuncional do adulto no contexto brasileiro;
- reconhecer as projeções quanto ao uso de tecnologias emergentes na área da fisioterapia neurofuncional do adulto no contexto brasileiro.
Esquema conceitual
Introdução
As condições neurológicas apresentam elevada carga globalmente e são consideradas a principal causa de incapacidades em todo o mundo. Nas últimas três décadas, identificou-se um aumento global e expressivo no número de pacientes com condições neurológicas. Estimativas apontam para uma elevação dessas estatísticas, considerando o crescimento e envelhecimento da população, com um maior reflexo em países de baixa e média renda, como o Brasil.1
Entre 2000 e 2019, o número de anos de vida ajustados por incapacidade e perdidos por condições neurológicas aumentaram no Brasil, que ocupou, durante todo esse período, o primeiro lugar como o país com o maior número de anos de vida perdidos por condições neurológicas.2
O quadro de incapacidade de pacientes com condições neurológicas comumente envolve os seguintes fatores:2
- deficiências em estruturas e funções do corpo;
- limitações em atividade;
- restrições na participação social;
- comprometimento da qualidade de vida.
Isso resulta em uma elevada demanda por serviços de saúde, com destaque para os serviços de reabilitação.2 Porém, os poucos estudos realizados no Brasil sobre a temática mostram que esses pacientes podem apresentar dificuldades de acesso a tais serviços.
Magalhães investigou o acesso a profissionais de reabilitação por pacientes pós-acidente vascular cerebral (AVC) um mês após a alta hospitalar, comparando antes e durante a pandemia da Covid-19. Curiosamente, não foi observada diferença no acesso a esses profissionais durante a pandemia, mas o acesso foi significativamente menor do que o recomendado em ambos os momentos avaliados.3
A autora também observou os determinantes desse acesso pelos pacientes após um, três e seis meses da alta hospitalar, comparando o acesso obtido em cada período com o recomendado no momento da alta hospitalar. Os resultados foram os seguintes:3
- em todos os períodos avaliados, maiores níveis de incapacidade e gravidade do AVC foram determinantes do acesso;
- no terceiro mês após a alta, o acesso foi direcionado a pacientes que, além de uma maior necessidade clínico-funcional, possuíam menores níveis de escolaridade;
- em todos os períodos, o acesso foi significativamente menor do que o recomendado.
Os achados de Magalhães indicam que a reabilitação neurofuncional pode não estar ocorrendo de forma integral e contínua para pacientes pós-AVC. Isso ressalta a importância de ampliar a compreensão sobre o uso e acesso a recursos que possam otimizar a oferta desses serviços.
As tecnologias emergentes têm sido apontadas como um importante recurso para fortalecer a reabilitação neurofuncional.1 Trata-se de tecnologias em desenvolvimento, que podem ter impacto econômico e/ou social significativo.4 A discussão sobre seu uso para a prestação de serviços na área da fisioterapia neurofuncional é especialmente importante no Brasil, considerando os seguintes aspectos:5
- cenário de desigualdade socioeconômica;
- alta demanda por serviços de reabilitação;
- dependência exclusiva dos serviços do Sistema Único de Saúde (SUS) por parte de, aproximadamente, 70% da população.
Para o uso de tecnologias emergentes em contextos clínicos, vários aspectos devem ser considerados, como custo, acessibilidade, viabilidade, segurança e evidência científica.6 Portanto, uma análise aprofundada deve ser feita para uma melhor compreensão da utilização prática dessas tecnologias na área da fisioterapia neurofuncional do adulto, bem como das projeções quanto a esse uso no contexto brasileiro.