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TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL: O USO DAS TÉCNICAS NA PRÁTICA CLÍNICA COM CRIANÇAS

Autores: Manuela Ramos Caldas Lins, Débora Alves de Amorim, Angélica Maria Ferreira de Melo Castro, Ana Carla Gameleira
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Objetivos

Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de

  • explicar alguns pressupostos básicos da terapia cognitivo-comportamental (TCC);
  • descrever as particularidades da TCC com crianças;
  • elencar a importância das técnicas no atendimento infantil;
  • reproduzir algumas técnicas na sua prática clínica com crianças.

Esquema conceitual

Introdução

Nos últimos anos, tem sido identificada uma mudança de olhar quanto à psicoterapia infantil. Até pouco tempo atrás, era inaceitável a ideia de que crianças apresentavam problemas que mereciam atenção especial. Entendia-se que a infância era a melhor época da vida, que as crianças não tinham responsabilidades típicas de um adulto e, por isso, não teriam problemas. Ao estudar e entender melhor o funcionamento infantil, houve a compreensão de que as crianças também manifestam questões de ordem emocional, afetiva e/ou social que precisam ser trabalhadas, sendo necessário, para tanto, a ajuda de profissionais capacitados.

O aumento na busca de serviços de saúde mental pode ser reconhecido trazendo alento ao coração de muitas crianças e suas famílias, as quais passaram a ter a chance de desenvolver suas habilidades. Nesse sentido, o trabalho do psicólogo ganhou destaque e passou a ser visto como aquele que pode ser consultado no caso de transtornos e/ou outras dificuldades infantis. Independentemente da abordagem teórica adotada por esse profissional, o trabalho realizado, desde que conduzido de forma ética e técnica, gera resultados benéficos para crianças e suas respectivas famílias e grupos sociais.

É importante ressaltar que o trabalho da psicoterapia na infância e na adolescência não é apenas focado na queixa/problema, ele inclui ainda a observação e a intervenção sistêmica, e se caracteriza como um trabalho preventivo, contribuindo para a formação de adultos mais saudáveis, com maiores habilidades no trato de suas emoções e com comportamentos mais assertivos. Para Petersen e Wainer,1 intervenções na infância são extremamente relevantes, pois os transtornos nessa fase da vida são preditores do curso da psicopatologia ao longo do desenvolvimento do indivíduo. Assim, justamente por ser uma fase em que as crenças estão se formando, o trabalho da psicologia tem importância com o público infantil e suas famílias.

Nesse contexto, destaca-se que mudanças significativas vêm sendo observadas nas últimas décadas no campo da psicologia clínica. Identificam-se avanços não só no instrumental técnico utilizado, mas também no próprio entendimento do que é e como deve ser efetivado o tratamento de uma psicopatologia. Entre esses avanços, percebe-se a procura por abordagens baseadas em evidências. Nesse sentido, a TCC ocupa lugar de destaque, uma vez que, além de apresentar técnicas com eficácia comprovada, considera o psiquismo humano e toda a sua complexidade como objeto de estudo, reconhecendo a responsabilidade do mesmo pelo comportamento tido como normal e patológico.1

Desse modo, a TCC é uma abordagem, entre as várias existentes, a ser utilizada com o público infantil. Ela surgiu em meados da década de 1960, pelas mãos de Aaron Beck. O teórico criou a TCC como um tratamento estruturado para a depressão, e o direcionamento original para atender adultos se devia ao fato de que a maioria de suas técnicas exigia algum grau de maturação cognitiva. No entanto trabalhos relacionados ao uso da TCC com crianças vêm sendo desenvolvidos com mais consistência e frequência, e essa abordagem se mostrou eficaz no tratamento de um escopo cada vez mais diversificado de transtornos infantis.2,3

A TCC, inclusive, vem sendo apontada como abordagem de primeira linha para o tratamento de alguns transtornos. Isso acontece, pois, como dito anteriormente, trata-se de uma terapia baseada em evidências, ou seja, que ao longo dos anos acumulou dados científicos que comprovam a sua eficácia. Discute-se muito sobre a efetividade da utilização das técnicas no atendimento infantil, uma vez que esse público ainda se encontra em processo de desenvolvimento cognitivo.2

Entende-se que a psicoterapia infantil possui diversas peculiaridades, logo, a intervenção não é efetiva apenas com transposições de teorias e técnicas desenvolvidas para um modelo adulto, sendo fundamental considerar diferenças no desenvolvimento dos esquemas cognitivos, comportamentais, afetivos, motivacionais e de controle de crianças em relação a adultos. Assim, o psicoterapeuta infantil precisa desenvolver seus conhecimentos acerca da psicopatologia infantil, dos aspectos evolutivos relacionados ao desenvolvimento cognitivo e sobre as teorias de desenvolvimento emocional, motivacional e físico na infância.2

Para trabalhar seus princípios centrais, a TCC faz uso de variadas técnicas, as quais têm por objetivo não só acessar conteúdos importantes na psicoterapia, como também ensinar os pacientes a lidarem com suas próprias questões de forma autônoma e responsável. Desse modo, o conglomerado de técnicas deve ser visto como pertencente a um corpo teórico robusto e não como mera junção de atividades, que quando usadas de forma indiscriminada, sem propósito ou de forma desconectada da teoria, apresentam pouca validade técnica. Partindo dessa premissa, o presente capítulo visa explicitar a importância das técnicas para a condução da psicoterapia, desde que estejam calcadas nos preceitos e fundamentos teóricos da TCC.

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