Introdução
Os modelos cognitivo-comportamentais têm crescido consideravelmente quanto às suas possibilidades de aplicação. Em relação aos públicos de intervenção, as Terapias Cognitivo-Comportamentais (TCCTerapia Cognitivo-Comportamentals) apresentam práticas baseadas em evidências de efetividade para diversas populações e demandas1 e formatos de intervenção.
Diante da busca por constante atualização científica, as TCCTerapia Cognitivo-Comportamentals têm sido indicadas como padrão-ouro de intervenção.2,3 Essa posição, além de colocar o modelo em destaque, também exige a contínua atualização de terapeutas nas suas práticas psicológicas. Portanto, além da compreensão dinâmica do funcionamento humano (em nível individual e interpessoal), é necessário o compromisso ético de fornecer à população intervenções que sejam amparadas em estudos científicos.
A TCCTerapia Cognitivo-Comportamental pode ser considerada como um modelo flexível de intervenção, por abranger aquilo que está sendo produzido e que já tem demonstrado efetividade. Por esse modo, é mais comum compreender o termo “terapias cognitivo-comportamentais”, em razão da multiplicidade teórica e técnica da intervenção. Esse ponto de vista não é sinônimo de incongruência teórica, mas de uma atuação coerente com a prática científica da psicologia que visa ao bem-estar dos indivíduos que são atendidos, seja individualmente ou com seus(suas) parceiros(as) íntimos(as).
As Terapias Cognitivo-Comportamentais para Casais (TCCCs) abrangem um conjunto de referenciais teóricos que se intercambiam quanto a uma compreensão básica: a cognição como influenciadora/mediadora das relações entre os parceiros íntimos.4–6
Destacam-se alguns modelos que formam a base teórica e prática da TCCC:
- a Terapia Racional Emotivo-Comportamental (TRECTerapia Racional Emotivo-Comportamental), com os primeiros estudos de Ellis sobre a determinação das crenças irracionais sobre os problemas conjugais;7
- a Terapia Cognitiva,5 com os seus estudos sobre a influência dos pensamentos distorcidos na compreensão das psicopatologias e dos problemas conjugais;
- a Terapia Comportamental Integrativa para Casais8 e o seu entendimento sobre aceitação e diferenças na relação conjugal, em uma perspectiva contextual;
- a Terapia do Esquema,9 por meio da compreensão aprofundada dos esquemas (estruturas cognitivas mais profundas) e dos modos utilizados na dinâmica relacional do casal.
Uma diferença básica entre o modelo da TRECTerapia Racional Emotivo-Comportamental e o da TCCTerapia Cognitivo-Comportamental de Aaron Beck está na compreensão de que, para essa última, os pensamentos estão em uma posição interativa entre emoções, fisiologia e comportamentos. Assim, eles não são exclusivamente causais sobre as demais respostas, mas também podem ser influenciados por ambiente, emoções, fisiologia e comportamentos.
Outra diferença está na forma de intervenção. Para a TRECTerapia Racional Emotivo-Comportamental, o terapeuta assume um posicionamento de debater as crenças dos pacientes e ensiná-los uma nova forma de viver e enxergar a vida. Já para a TCCTerapia Cognitivo-Comportamental, o terapeuta assume uma postura colaborativa no processo para testagem da validade das suas crenças. O foco da TCCTerapia Cognitivo-Comportamental está no trabalho colaborativo.10
Nos modelos citados, há formas de atuação e formulações teóricas específicas. Contudo, quanto a sua aplicabilidade técnica, não divergem teoricamente, mas somam para uma atuação integrativa do que pode ser denominado como TCCTerapia Cognitivo-Comportamentals para casais.11
Neste capítulo, haverá um foco na prática integrativa entre os modelos que compõem a TCCC. Portanto, será assumida a definição de Wenzel,12 que indica a TCCTerapia Cognitivo-Comportamental como um
programa de tratamento estratégico e personalizado que surge a partir da conceitualização cognitiva de caso da apresentação clínica de cada cliente e incorpora estratégias cognitivas, comportamentais e de aceitação, equilibradas com o cultivo e [a] manutenção da relação terapêutica.
Assim, o presente capítulo tem como objetivo apresentar aspectos históricos e conceituais, bem como algumas possibilidades de avaliação e intervenção da TCCC para o atendimento de casais. Uma série de estratégias e técnicas fica disponível para que o terapeuta faça uso, caso julgue necessário.
Objetivos
Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de
- reconhecer aspectos históricos da TCCC;
- identificar conceitos básicos da TCCC;
- identificar diferentes formas de avaliação e conceitualização cognitiva para casais;
- reconhecer possibilidades de intervenção cognitivo-comportamental para casais.