- Introdução
A desnutrição é muito prevalente em todo o mundo, e, quando se fala de pacientes internados, ela torna-se muito relevante. Em 1999, Waitzberg e colaboradores publicaram o Inquérito Brasileiro de Avaliação Nutrição Hospitalar (IBRANUTRI), que analisou 4.000 pacientes em vários estados brasileiros e concluiu que 48,1% dos pacientes já chegavam desnutridos no hospital, e, desses, 12% eram desnutridos graves.1
Os pacientes desnutridos permanecem mais tempo internados e possuem maior morbidade e mortalidade.2 O estado nutricional torna-se mais importante dependendo da gravidade do paciente. Quanto mais crítico o paciente, maior seu catabolismo e geralmente menor sua ingestão calórico-proteica.
A resposta metabólica ao estresse já é bem conhecida. As reservas de carboidrato são rapidamente consumidas. A necessidade de neoglicogênese leva à perda acelerada da massa magra formada por proteínas estruturais (musculares e viscerais). Essa fraqueza atualmente conhecida como sarcopenia do paciente crítico resulta nos seguintes fatores:
- pior evolução;
- maior dificuldade de retirada (desmame difícil) da ventilação mecânica;
- maior suscetibilidade a infecções nosocomiais.
É cada vez mais indicada a oferta precoce de nutrientes aos pacientes críticos, e cada vez mais importante uma triagem desses pacientes para observar quem se beneficiará mais com a intervenção nutricional. A ideia é iniciar a terapia nutricional em até 72h após a internação na unidade de terapia intensiva (UTIunidade de terapia intensiva).
No que se refere à investigação da situação nutricional do paciente crítico, determinadas questões tornam-se relevantes e, por isso, serão abordadas ao longo deste artigo. Algumas dessas questões são as seguintes:
- Quais são as alterações metabólicas do paciente crítico?
- Quais são as fases da resposta inflamatória?
- A desnutrição seria uma falência orgânica?
- Como triar o risco nutricional no ambiente crítico?
- Quais são os pontos importantes a serem analisados no momento da escolha da terapia nutricional [por exemplo, quantidade calórica, quantidade proteica, fibras, uso de fármacos vasoativos, viabilidade do trato gastrintestinal (TGItrato gastrintestinal), alterações glicêmicas]?
- Objetivos
Ao final da leitura deste artigo, o leitor será capaz de
- reconhecer que a resposta inflamatória ao estresse leva a uma perda de massa magra importante, contribuindo para desfechos insatisfatórios na evolução do paciente;
- realizar a triagem nutricional do paciente crítico;
- calcular a necessidade calórico-proteica do paciente crítico;
- estabelecer quando e que tipo de dieta deve ser fornecida ao paciente crítico.
- Esquema conceitual