Objetivos
Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de
- listar os testes de qualidade de vida (QV);
- identificar os diferentes testes olfatórios e reconhecer suas principais características;
- reconhecer o teste que mais se adequa a cada realidade da prática clínica da avaliação olfatória.
Esquema conceitual
Introdução
O conhecimento que se tem a respeito da fisiologia do sistema olfatório apresenta grande defasagem quando comparado a outros sistemas sensoriais, como a visão e a audição. Essa limitação reflete diretamente na quantidade de instrumentos disponíveis para avaliação de etiologia, topografia e intensidade de eventuais perdas olfatórias, como também em poucas alternativas terapêuticas disponíveis.1
Um dos grandes marcos que contribuiu para melhor compreensão da fisiologia do olfato envolveu a descrição dos receptores odoríferos, a organização do epitélio olfatório e sua relação com o bulbo e o córtex olfatório, feita por Richard Axel e Linda Buck no final do século XX, o que conferiu a eles o Prêmio Nobel de 2004.2
Desde então, as publicações relacionadas ao olfato vêm aumentando cada vez mais, principalmente após a pandemia de covid-19, que apresentou alta prevalência de pacientes com anosmia e expôs as limitações dos métodos diagnósticos e possibilidades terapêuticas a esses pacientes.3
A utilização de instrumentos validados para diagnóstico, caracterização e mensuração de doenças é fundamental tanto na avaliação e no acompanhamento clínico do paciente quanto no contexto da pesquisa clínica.4
No consultório médico, os instrumentos permitem classificar de forma consistente determinado estado de saúde, bem como compará-lo em visitas subsequentes, minimizando a subjetividade da simples descrição de anamnese do médico. Na pesquisa clínica, uniformizam a forma como os dados são coletados, possibilitando a comparação entre diversos grupos ou a eficácia de um tratamento.
Na avaliação olfatória, a utilização de instrumentos validados é ainda mais importante. É comum que as autoavaliações não se correlacionem5 com as medidas quantitativas oferecidas pelos testes olfatórios. Por exemplo, em algumas doenças, frequentemente os pacientes acreditam ter perda leve, quando, na verdade, o resultado do teste aponta para perda grave ou moderada.6 Entre as possíveis variáveis que influenciam nessa discrepância estão grau cognitivo do paciente, idade avançada e possíveis simuladores.
Além de uma cuidadosa anamnese, a realização de pelo menos um questionário de QV e um teste olfatório semissubjetivo validados são fundamentais para determinar com melhor precisão eventual disfunção olfatória do paciente.
Neste capítulo, serão abordadas as diferentes formas de se mensurar a função olfatória por meio de instrumentos subjetivos, como escalas e questionários de QV, e semissubjetivos, como os testes olfatórios.