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TRANSTORNO DO DESENVOLVIMENTO DA COORDENAÇÃO: FUNDAMENTOS PARA A ATUAÇÃO FISIOTERAPÊUTICA

Juliana Barbosa Goulardins

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Objetivos

Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de

 

  • descrever o quadro clínico e os critérios diagnósticos do transtorno do desenvolvimento da coordenação (TDC);
  • identificar as deficiências, limitações em atividades e restrições na participação e selecionar os instrumentos adequados para a avaliação motora;
  • descrever os desfechos sobre a funcionalidade e o prognóstico (consequências, áreas da vida cotidiana e da participação);
  • identificar aspectos psicossociais no TDC e suas implicações para intervenções e participação;
  • listar fatores de risco e mecanismos subjacentes do transtorno (redes neurais responsáveis, influências genéticas e ambientais, entre outros);
  • descrever o papel do fisioterapeuta no tratamento de crianças e adolescentes com TDC (quando e o que tratar);
  • selecionar os métodos de intervenção fisioterapêutica baseados em evidências (qual, quanto tempo e quão intensivo).

Esquema conceitual

Introdução

O TDC é um comprometimento acentuado na aprendizagem e na realização de habilidades motoras, considerando a idade cronológica e a oportunidade de aquisição e uso das habilidades, que interfere significativa e persistentemente nas atividades da vida diária (AVD). Isso impacta a produtividade escolar e as atividades pré-vocacionais, vocacionais, de lazer e de diversão.1 Os sintomas surgem na fase inicial do desenvolvimento, e as dificuldades motoras não são decorrentes de problemas neurológicos, sensoriais ou intelectuais.1,2

Historicamente, as dificuldades de coordenação motora em crianças eram consideradas um problema de desenvolvimento, e alguns termos específicos eram usados para defini-las, como desajeitado (em inglês, awkward, clumsy), apraxia ou dispraxia do desenvolvimento — alteração na práxis/ação manifestada por incapacidade de utilizar habilidades motoras voluntárias efetivamente em todos os aspectos da vida, desde jogos até tarefas qualificadas estruturadas,3 problemas motores leves, baixa tonicidade, dificuldades motoras perceptivas, disfunção cerebral mínima, paralisia cerebral (PC) mínima ou disfunção integrativa sensorial. Esses termos ainda são encontrados em algumas referências, mas seu uso é desencorajado pelas recomendações de prática clínica internacional.2,4

O TDC é frequente, com estimativas de prevalência que variam entre 2 e 20% das crianças em idade escolar — 5 a 6% são as mais frequentemente citadas na literatura científica. É uma condição mais comum em meninos, com proporções masculino:feminino que variam entre 2:1 e 7:1.2 No entanto, ainda é pouco reconhecida por profissionais de saúde, em particular pelos fisioterapeutas.

Entretanto, há evidências de estudos longitudinais que sugerem que, sem intervenções apropriadas, as dificuldades motoras relacionadas ao TDC podem persistir na adolescência e na idade adulta em cerca de 50 a 70% dos casos. Estudos com adultos com TDC revelam dificuldades contínuas em uma série de habilidades motoras e no aprendizado de novas habilidades, como dirigir. Além disso, é comumente relacionado a outros transtornos e/ou a dificuldades de aprendizagem ou comportamentais.5,6 Portanto, nas últimas décadas, um esforço significativo foi disposto no desenvolvimento de intervenções para otimizar a funcionalidade e reduzir os problemas associados.

Este capítulo apresenta as principais manifestações clínicas e os impactos do TDC sobre a funcionalidade, abordando o papel do fisioterapeuta na identificação de fatores de risco, na triagem e na avaliação motora, que fornecem suporte ao diagnóstico. Além disso, com base nas evidências atuais, aborda os diferentes aspectos relacionados à intervenção fisioterapêutica.