Introdução
O trauma é uma das principais causas de morbidade e mortalidade mundial, e os pacientes que chegam ao pronto-socorro após essa injúria podem apresentar vários motivos para o choque, os quais, às vezes, não são identificáveis somente pelo exame clínico.1,2 Uma porção substancial desses pacientes apresenta lesões por trauma abdominal fechado e\ou torácico.
A utilização de dispositivos portáteis à beira do leito para detectar uma lesão ameaçadora à vida pode alterar a evolução natural da doença, especialmente em pacientes instáveis, sem condições de se deslocar para a realização de tomografia computadorizada (TC).1,3 Além disso, a ultrassonografia focada na avaliação do trauma (em inglês, Focused abdominal sonogram for trauma [FAST]) tem muitas vantagens em comparação com a lavagem peritoneal diagnóstica ou com a TC, o que inclui:4
- facilidade de uso;
- procedimento não invasivo;
- ausência de exposição à radiação ionizante;
- capacidade de repetir avaliações.
A ultrassonografia (USG) realizada por clínicos na avaliação do trauma toracoabdominal teve início na Europa, na década de 1980, e o termo FAST se originou de uma série de artigos da cirurgiã de trauma Grace Rozycki, que criou um protocolo de imagem de quatro espaços potenciais para fluido livre em pacientes com trauma.5 Posteriormente à modificação desse protocolo, estendeu sua avaliação para a cavidade torácica, permitindo a detecção de pneumotórax, hemotórax e ruptura diafragmática com a ultrassonografia focada na avaliação do trauma estendido (E-FAST), ou FAST estendido.
O termo Point-of-Care Ultrasound (POCUS) significa USG direcionada ou focada. Nesse contexto, o médico:1,6
- realiza um exame específico e direcionado;
- interpreta os achados em relação à história e à apresentação clínica;
- toma as decisões para o gerenciamento imediato do paciente.
Portanto, entende-se o POCUS como componente de um processo de tomada de decisão clínica, tanto nos cenários de trauma agudo, representado pelos exames FAST e/ou E-FAST, como nos cenários clínicos, visto que somente o histórico do paciente e o exame clínico muitas vezes não permitem uma avaliação precisa sobre possíveis lesões, que, em muitos casos, apresentam risco iminente à vida.1,6
Além da avaliação no trauma, o POCUS se estende também à avaliação das emergências clínicas cardiológicas, principalmente utilizando técnicas de ultrassom cardíaco focado (em inglês, Focused Cardiac Ultrasound [FOCUS]) e pulmonares por intermédio do ultrassom pulmonar focado (em inglês, Lung Ultrasound [LUS]).
Outra ferramenta muito praticada nas emergências é a utilização do ultrassom (US) para guiar procedimentos como a cateterização venosa central, o que reduz de forma significativa o risco de complicações decorrentes da punção às cegas.
Objetivos
Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de
- avaliar o trauma pela USG (protocolos FAST e E-FAST);
- distinguir técnicas de aquisição das imagens;
- descrever a avalição ultrassonográfica global, além do E-FAST;
- identificar a avaliação ultrassonográfica pulmonar focada em Point-of-Care com ênfase no protocolo bedside lung ultrasound in emergency (BLUE);
- descrever a técnica de acesso da veia jugular interna (VJI) pelo plano transversal guiada por US.