- Introdução
As disfunções respiratórias são muito recorrentes na infância. No Brasil, elas foram responsáveis por mais de 20 mil óbitos em crianças com idades entre 0 e 14 anos, no período entre 2010 e 2015. Entre o ano de 2015 e o início de 2017, foram empregados mais de 700 milhões em custos hospitalares decorrentes das mais de 1 milhão de internações, também nessa faixa etária, de acordo com dados do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (Datasus).1
Essas disfunções respiratórias têm sua incidência e prevalência influenciadas por fatores genéticos, ambientais e sociais, o que demonstra a importância de uma visão multiprofissional e de um modelo de avaliação e de assistência biopsicossocial. Quando não tratadas da forma correta e em tempo hábil, elas podem levar a condições crônicas com alterações que seguirão essas crianças pela adolescência e pela vida adulta, diminuindo sua funcionalidade e qualidade de vida.2,3
A reabilitação de crianças com problemas respiratórios é voltada para prevenção e tratamento das complicações pulmonares.4 Na maioria das vezes, os profissionais esquecem que essas crianças, por ter essas disfunções respiratórias, apresentam dificuldades em participar de atividades de lazer, são proibidas de brincar, de praticar esportes, de interagir com outras crianças e têm a socialização e a participação influenciadas pelo processo de saúde–doença que enfrentam.5 A negligência desses fatores extremamente importantes para a formação pessoal e social delas pode gerar sequelas maiores que a doença.6
Assim, a prestação de serviço às crianças com disfunções respiratórias necessita de uma mudança de enfoque, para que o processo de cuidado seja integral e abranja todas as áreas da sua vida, as quais podem ser influenciadas pela doença.7
Nesse âmbito, a Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIFClassificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde), criada pela Organização Mundial da Saúde (OMSOrganização Mundial da Saúde) em 2001, propõe uma nova concepção de avaliação e intervenção, a qual tem se estabelecido como modelo universal e de linguagem única na maioria dos países desenvolvidos.8
LEMBRAR
No Brasil, o modelo da CIFClassificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde tem sido mais utilizado em áreas como a neuropediatria, a saúde ocupacional e a traumato-ortopedia, sendo, ainda, muito restrito o uso na avaliação e na intervenção de crianças com disfunções respiratórias.
- Objetivos
Ao final da leitura deste artigo, o leitor será capaz de
- compreender o modelo de CIFClassificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde e os aspectos relevantes sobre o seu uso;
- identificar as ferramentas confiáveis para avaliação dos diferentes domínios da CIFClassificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde em crianças com disfunções respiratórias;
- implementar o uso da CIFClassificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde em programas de intervenção de crianças com disfunções respiratórias;
- discutir e proporcionar uma visão prática do uso da CIFClassificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde utilizando o caso clínico 1.
- Esquema conceitual