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USO DO MÉTODO PILATES NA FASE AMBULATORIAL DO PROCESSO DE REABILITAÇÃO CARDIOVASCULAR

Autores: Rodrigo Della Méa Plentz, Manoela Heinrichs dos Reis, Leonardo Fratti Neves
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  • Introdução

As doenças crônicas não transmissíveis (DCNTdoença crônica não transmissívels) são as principais causas de morte no mundo e caracterizam-se como um problema de saúde pública. Em 2008, as DCNTdoença crônica não transmissívels corresponderam a 63% dos óbitos, sendo a maioria deles atribuíveis às doenças do aparelho circulatório, ao câncer, ao diabetes e às doenças respiratórias crônicas.1

No Brasil, as doenças do aparelho circulatório ocupam a liderança das causas de óbito e internação. Em 2009, após correções para causas mal definidas e sub-registro, tais doenças responderam por 72,4% do total de óbitos.2 As maiores causas de internações hospitalares no Sistema Único de Saúde (SUS) em todo o Brasil, entre homens e mulheres com 60 anos ou mais, é a insuficiência cardíaca (ICinsuficiência cardíaca) seguida de doenças do aparelho respiratório e outras doenças cardiovasculares (DCVdoença cardiovasculars).3

O Ministério da Saúde (MSMinistério da Saúde) implantou um plano de ações1 para o período de 2011 a 2022, com o intuito de promover o desenvolvimento e a implementação de políticas públicas efetivas, integradas, sustentáveis e baseadas em evidências para a prevenção e o controle das DCNTdoença crônica não transmissívels e seus fatores de risco, com especial atenção às DCVdoença cardiovasculars e, principalmente às doenças coronarianas. Na tentativa de diminuir o número de mortes antes dos 70 anos de idade, diversas ações e políticas de saúde têm sido criadas. Em geral, elas tendem a combater os principais fatores de risco para as DCNTdoença crônica não transmissívels, como:

 

  • diferenças sociais;
  • tabagismo;
  • sedentarismo;
  • obesidade;
  • má alimentação;
  • consumo excessivo de álcool.

Além disso, esses programas visam à melhora da rede de atenção às DCNTdoença crônica não transmissívels em todos os seus níveis, assim como uma melhora dos dados epidemiológicos acerca dessas doenças, para que se tenha um melhor acompanhamento da progressão da morbidade e da mortalidade.

A reabilitação cardiovascular (RCVreabilitação cardiovascular) caracteriza-se como a soma das atividades necessárias para influenciar favoravelmente a causa subjacente da doença, bem como as melhores condições físicas, mental e social possíveis, de modo que o paciente possa, por seu próprio esforço, preservar ou retomar quando perdido, tão normal quanto possível, um lugar na comunidade.4

O declínio da mortalidade por DCVdoença cardiovasculars, visto em muitos países desenvolvidos nas últimas duas décadas, tem sido atribuído não apenas à redução da incidência da doença, mas também à maior taxa de sobrevivência após o evento, devido à combinação de intervenções de prevenção e tratamento.5 Assim, uma combinação, tanto de estratégias populacionais como individuais (políticas e intervenções para incentivar a prática de exercício, a alimentação saudável e para reduzir o consumo de tabaco e álcool, por exemplo), é necessária para modificar as tendências relativas às DCVdoença cardiovascular.

No que compete à RCVreabilitação cardiovascular, é sabido que esta promove uma série de modificações benéficas nos fatores de risco e redução tanto na morbidade quanto na mortalidade, com excelente relação custo-efetividade para tratamento de pacientes com DCVdoença cardiovascular. Além disso, evidenciam-se, ainda, modificações clínicas favoráveis em relação:

 

  • ao perfil lipoproteico plasmático;
  • à pressão arterial sistêmica;
  • à tolerância ao esforço físico.

Essas modificações clínicas favoráveis ocorrem sem relação com a modificação da terapia medicamentosa, mais uma vez reforçando a importância da RCVreabilitação cardiovascular para o manejo do paciente.6,7

A RCVreabilitação cardiovascular é oferecida para os indivíduos após eventos cardíacos visando à recuperação e prevenção de DCVdoença cardiovasculars futuras, sendo indicada para pacientes com diagnóstico de infarto agudo do miocárdio, angina crônica estável, insuficiência cardíaca crônica, entre outros. Adicionalmente, é indicada para pacientes que foram submetidos aos procedimentos de revascularização miocárdica cirúrgica ou hemodinâmica, cirurgias de troca ou reparação valvar e transplante cardíaco.8,9

Sendo assim, a RCVreabilitação cardiovascular faz parte do esquema de tratamento do paciente, sendo dividida didaticamente em quatro fases. Os programas incluem, principalmente, sessões de treinamento físico, intervenções educacionais, tais como mudanças de comportamento e estratégias para combater os fatores de risco, e cuidados psicológicos.8,10-12 Estratégias de manejo não medicamentoso representam uma importante contribuição aos pacientes, resultando em um impacto positivo na estabilidade do paciente, qualidade de vida, capacidade funcional e mortalidade.13,14 O tratamento não medicamentoso do paciente inclui:13-15

 

  • dieta e nutrição;
  • vacinação adequada;
  • controle dos fatores de risco;
  • abstinência total de drogas ilícitas;
  • exercício físico.

O treinamento físico supervisionado por fisioterapeuta é uma das intervenções de um programa de RCVreabilitação cardiovascular e é capaz de promover a recuperação e a preservação da funcionalidade e ainda contribuir para a redução da mortalidade em pacientes cardiopatas.11 Essa intervenção ainda promove inúmeras mudanças hemodinâmicas, metabólicas, vasculares, alimentares e psicológicas que favorecem o controle dos fatores de risco e melhora a qualidade de vida desses pacientes.6

 

O exercício é considerado a principal intervenção não farmacológica no processo de RCVreabilitação cardiovascular e motivo de sucesso terapêutico para pacientes com DCVdoença cardiovascular.9,12 Além disso, é seguro, não aumenta a mortalidade, melhora a qualidade de vida, o desempenho funcional, a tolerância ao exercício, os sintomas, o perfil lipídico14,16 e diminui as taxas de hospitalização, de estresse e do consumo de cigarros.8,11,17,18

O método Pilates vem sendo estudado como uma opção de treinamento físico tanto em indivíduos saudáveis como naqueles acometidos por diferentes condições patológicas. O método foi criado por Joseph Pilates, aliando movimentos de ginástica, dança, artes marciais e yoga com noções filosóficas.19 Ele inclui os princípios tradicionais de centralização, concentração, controle, precisão, fluxo e respiração.20 É uma modalidade de exercício que requer força, flexibilidade, respiração característica do método e controle postural refinado, sendo os exercícios realizados no solo ou com o uso de equipamentos específicos.21

A maior popularidade do método Pilates nos processos de reabilitação ocorreu após 70 anos da sua criação. Na década de 1990, o método já estava sendo utilizado em diversas áreas da reabilitação, incluindo a ortopedia, a geriatria e a neurologia, entre outras.22 Nos dias atuais, o método Pilates está sendo utilizado nas mais diversas populações de indivíduos, incluindo os cardiopatas.23,24

O método Pilates caracteriza-se pela utilização de exercícios de fortalecimento e alongamento associados a um treino especifico da musculatura respiratória. Sendo assim, este método, aliado à fisioterapia convencional, tem se mostrado um potencial recurso adicional utilizado na reabilitação de pacientes cardiopatas, proporcionando-lhes melhora na capacidade funcional e no condicionamento da musculatura periférica e respiratória.23

  • Objetivos

Após a leitura deste artigo, o leitor deverá ser capaz de:

 

  • reconhecer o programa de reabilitação cardiovascular;
  • conhecer o método Pilates;
  • compreender as bases e o racional clínico e científico da utilização do método Pilates na reabilitação cardiovascular;
  • conhecer o nível de evidência do uso do método Pilates na reabilitação cardiovascular;
  • compreender a forma de utilização dos exercícios do método Pilates na reabilitação cardiovascular.
  • Esquema conceitual
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