Introdução
As vacinas possibilitam a prevenção, o controle, a eliminação e a erradicação de doenças imunopreveníveis. O objetivo da vacinação é a imunização, que pode ser ativa ou passiva.1,2 A imunização ativa é quando o próprio sistema imune produz anticorpos contra um agente estranho, que pode acontecer pelo contato do indivíduo com a doença ou por meio da vacinação, com tendência a ter efeito ao longo de vários anos. Já a imunidade passiva ocorre pela administração de anticorpos específicos contra algum tipo de infecção, podendo ser natural (através da passagem transplacentária ao recém-nascido e da amamentação) ou artificial (imunoglobulinas).1,2
Considerando a situação epidemiológica, o risco, a vulnerabilidade e as especificidades sociais, o Programa Nacional de Imunizações (PNI) do Ministério da Saúde (MS) define os calendários de vacinação com orientações específicas para crianças, adolescentes, adultos, gestantes, idosos e indígenas.2 As rotinas de vacinação propostas pelo Calendário Nacional destinam-se, de modo geral, a indivíduos sadios e em condições de vida normal.1
Algumas situações, entretanto, colocam os indivíduos em maior risco de adoecer ou apresentar eventos adversos pós-vacinais. Essas situações podem requerer vacinas ou esquemas vacinais específicos, assim como a indicação de adiamento ou até a contraindicação da vacinação.1
A oferta de imunobiológicos é uma das atribuições do PNI e, na perspectiva de fortalecer a equidade e a universalidade do acesso à saúde, o programa apoia a instalação dos Centros de Referência de Imunobiológicos Especiais (CRIEs). Esse serviço dispõe de estrutura especializada para atender indivíduos portadores de quadros clínicos especiais.1,2
Algumas vacinas, que antes eram restritas aos CRIEs, vêm sendo introduzidas no Calendário Nacional de Vacinação como rotina e estão disponíveis nas unidades de saúde. É, portanto, imprescindível avaliar o histórico de vacinação de qualquer indivíduo para orientação em relação às doses que devem ser administradas. Em situações nas quais o registro vacinal é desconhecido, o usuário é considerado suscetível. Nesses casos, quando não há risco adicional de aplicação de vacina em pessoas já imunes, deve-se proceder com a vacinação adequada à idade. Para algumas situações específicas, pode ser solicitada sorologia para avaliação da resposta imunológica e posterior tomada de decisão.3
No contexto da atenção primária à saúde (APS), é fundamental que haja comunicação entre a equipe da sala de vacinação e os demais profissionais, pensando na perspectiva de integralidade do cuidado, considerando a presença do usuário na unidade como uma oportunidade de avaliação e atualização do calendário vacinal.2 Mulheres gestantes e pessoas imunossuprimidas são alguns exemplos de condições que exigem um olhar diferenciado para o calendário vacinal, e os casos devem ser avaliados individualmente. Lembrando que orientar a imunização, nesses casos, é tão importante quanto avaliar os contatos domésticos, pois a vacinação dos contatos saudáveis reduz a chance de exposição das pessoas em situações especiais.4
A intenção, neste capítulo, é descrever as situações especiais mais frequentes, em que o esquema vacinal habitual pode ser modificado, adiado ou reforçado de acordo com as vacinas disponíveis na rede pública. Em paralelo, a rede privada de saúde oferece a possibilidade de ampliar a proteção individual por meio da administração de outras vacinas não disponíveis na rede pública. Essas vacinas não fazem parte do escopo deste capítulo.
Objetivos
Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de:
- compreender quais são as situações especiais na imunização;
- identificar os critérios de rotina de imunização em situações especiais;
- orientar a vacinação para gestantes e lactantes;
- orientar a vacinação para adultos com doenças crônicas;
- compreender a conduta vacinal em situações especiais.