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VULNERABILIDADES EXISTENTES NO ÂMBITO DO CUIDADO MATERNO: A INVISIBILIDADE DAS DIFERENÇAS ENTRE MULHERES

Autor: Marcelle Lima Guimarães
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  • Introdução

O fato de ser mulher em uma sociedade machista, por si só, acarreta vulnerabilidades em saúde. Sendo a assistência à saúde considerada dentro da perspectiva de gênero, situações de dominação e poder sobre o feminino podem ser observadas de diversas formas nos serviços. Nessa realidade, ainda existe a sobreposição de fatores de fragilização dessa mulher no meio em que vive e nas instituições.

É importante considerar que somente as mulheres são submetidas às rotinas obstétricas e se relacionam com diferentes profissionais da saúde durante o ciclo gravídico–puerperal, muitas vezes, sendo vítimas de descaso e violência institucional. Os índices elevados de mortalidade materna no Brasil refletem o fracasso da sociedade em combater veementemente as diferenças entre homens e mulheres.1

A ausência de suporte social, cultural e de assistência à saúde em todo o ciclo reprodutivo submete a mulher a situações de vulnerabilidade para a ocorrência de complicações que podem levar ao óbito. Essa situação, analisada sob a perspectiva de gênero, reflete uma injustiça social mais ampla, que é a violação de seus direitos humanos, sexuais e reprodutivos. Tal violação pode ser identificada desde o período pré-gestacional (por exemplo, ao enxergar a maternidade como um ato solitário feminino).1

O período gestacional deve ser compreendido como um momento de ricas experiências, carregado de simbolismos e expectativas. Porém, esse período também pode configurar uma causa potencializadora de situações críticas e maior vulnerabilidade pessoal.2

Com o objetivo de minimizar as situações potencialmente de risco e reduzir as taxas de morbidade e mortalidade materna e perinatal, reconhece-se a importância de uma assistência pré-natal de qualidade, com garantia de acesso a serviços que possuam condições estruturais básicas, além de profissionais adequadamente preparados para conduzir as diversas situações clínico-obstétricas associadas ao ciclo gravídico–puerperal.3 Entretanto, sabe-se que a assistência centrada no tecnicismo, com foco na clínica, não atende às demandas reais de saúde dessas mulheres.4

Mesmo que haja um adequado acompanhamento nos serviços de saúde, com garantia de atendimento por diferentes profissionais, e a promoção de um cuidado continuado após o ciclo gravídico–puerperal em situações específicas, não se pode garantir que outras mulheres estarão sob a mesma cautela e proteção. Esse fato suscita a reflexão sobre a vulnerabilidade social a qual elas estão expostas.3

O presente capítulo busca gerar uma reflexão acerca das vulnerabilidades femininas durante a maternidade que considere as situações para além do reconhecimento dos riscos clínico-obstétricos. Corrobora-se, nesse sentido, o conceito de vulnerabilidade em saúde, proposto por Malagón-Oviedo e Czeresnia, que recomenda superar, sem negar, práticas preventivas alicerçadas no conceito do risco para apreender as influências entre as diversas dimensões intrínsecas ao processo saúde–doença.5 Aspectos individuais, coletivos ou contextuais, com reflexões sobre cuidado, prevenção e promoção da saúde, fundamentadas nos direitos humanos, devem ser tratados.

Neste capítulo, considera-se que vulnerabilidade é muito mais do que o risco de morrer ou adoecer; esse conceito envolve contextos que podem implicar uma maior suscetibilidade a um atendimento deficiente, desumanizado ou, até mesmo, violento. Tais contextos podem acarretar, além dos riscos de adoecimento e morte, sequelas sociais, psicológicas e emocionais.

  • Objetivos

Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de

 

  • reconhecer os tipos de vulnerabilidade em saúde aos quais a mulher pode estar sujeita durante o ciclo gravídico–puerperal;
  • debater o cuidado de enfermagem prestado à mulher no ciclo gravídico–puerperal;
  • discutir a diversidade feminina no contexto da maternidade;
  • planejar ações de enfermagem voltadas para o atendimento equânime de mulheres mães, considerando suas particularidades;
  • reconhecer a importância da investigação do contexto biopsicossociocultural e espiritual da mulher que vivencia o ciclo gravídico–puerperal para o cuidado em enfermagem.
  • Esquema conceitual
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